Pesca pôs 14% dos tubarões de profundidade e de raias em risco de extinção

Ciclo de vida lento destes animais torna a recuperação do efectivo das populações especialmente difícil. Aposta em refúgios protegidos é forma de evitar extinção destas espécies, defende equipa.

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Tubarão da espécie Etmopterus spinax, fotrografado a 20 metros de profundidade, junto da costa da Noruega Elias Neuman
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Muitas espécies de tubarões que vivem em profundidade e raias estão em risco de extinção por causa da pesca, de acordo com um novo estudo publicado nesta quinta-feira na revista Science. O trabalho, que analisou a evolução da vulnerabilidade à extinção de 521 espécies destes vertebrados marinhos, mostra que 14% estão em riscos de extinção.

“Os tubarões de profundidade e as raias têm biologias muito sensíveis – incluindo crescimento lento, atingir a maturidade tardiamente e uma fertilidade baixa –, o que os torna mais vulneráveis, mesmo quando são alvo de uma pesca menos intensiva, e têm menos probabilidade de recuperarem”, explica ao PÚBLICO Brittany Finucci, bióloga marinha do Instituto Nacional de Investigação Atmosférica e da Água, em Wellington, na Nova Zelândia, e primeira autora do artigo que conta com mais 36 investigadores de instituições de 16 países.

Segundo o estudo, de 1970 para 2020, o número de espécies de tubarões de águas profundas em risco de extinção passou de duas para 43. No caso das raias, a subida foi de duas espécies para 17. Se olharmos apenas para as 53 espécies de tubarão que têm interesse comercial por causa do seu óleo do fígado, 25 espécies estão em risco de extinção, 11 estão quase ameaçadas e para quatro das espécies não há dados suficientes para aferir o seu estatuto de conservação. Ou seja, apenas 13 não estão numa situação preocupante, por enquanto.

A pesca daquelas espécies pode ser dirigida, mas frequentemente ocorre acidentalmente. “A sobrepesca é a primeira ameaça e a procura por carne e óleo de fígado está a levar a que haja pesca dirigida e a encorajar os pescadores a reter animais que foram pescados por acidente”, explica Brittany Finucci.

“Apesar de perfazerem metade da diversidade dos tubarões, ainda sabemos muito pouco acerca deste grupo específico de tubarões de profundidade”, explica a investigadora. Algumas daquelas espécies só atingem a maturidade sexual passadas décadas, só produzem uma ou duas crias e não o fazem anualmente. Isso faz com que a recuperação de uma população destes animais seja extremamente lenta, o que os deixa vulneráveis à quebra dos seus números.

“Alguns tubarões de profundidade são muito mais parecidos com os mamíferos marinhos em termos da sua capacidade de enfrentar e recuperar da exploração. No entanto, muitos mamíferos marinhos são alvo de protecção há muitos anos, se não mesmo há décadas, enquanto os tubarões de profundidade estão em grande medida desprotegidos”, refere Brittany Finucci.

Medidas de conservação

Neste contexto, a equipa defende medidas de protecção a estes animais. Por um lado, seria importante identificar e proteger as áreas importantes para estas espécies, como os locais de reprodução e de desova. “Ao proteger estas áreas, podemos providenciar um refúgio para os animais das actividades humanas”, esclarece a investigadora. Outra medida importante seria aumentar a regulação nacional e internacional da pesca, pressionando as entidades nacionais a fazer uma contagem de todos os tubarões de profundidade e raias que são apanhados, para se monitorizar o estado das populações ao nível de cada espécie.

“Globalmente, necessitamos que a regulamentação do comércio assegure que os produtos [destes animais] sejam comercializados de uma forma legal, sustentável, com as fontes rastreáveis e que não causem impacto na sobrevivência destas espécies a longo termo”, defende Brittany Finucci. “Houve triunfos tremendos na conservação dos tubarões de superfície, mas os tubarões de profundidade ficaram de fora do debate da conservação.”