As autoridades paquistanesas estão a fechar escolas e espaços comerciais devido ao agravamento dos níveis de poluição atmosférica – e a apostar numa solução fora do comum para limpar o ar: “semear” nuvens para produzir chuva artificial.
Activistas ambientais dizem que os níveis de poluição estão a aproximar-se daqueles que se verificam nas partes mais poluídas da Índia, onde a poluição atmosférica praticamente paralisou durante anos a capital, Nova Deli, ao longo dos meses de Inverno.
Lahore, há tempos conhecida como a “cidade verde” do Paquistão, figura agora como a mais poluída do país. E surge regularmente no topo das classificações globais de poluição atmosférica, de acordo com a empresa suíça de tecnologia IQAir, que monitoriza mais de 7000 cidades em todo o mundo.
Os 11 milhões de habitantes de Lahore podem estar a perder mais de sete anos de esperança média de vida devido à má qualidade do ar, segundo uma estimativa da Universidade de Chicago.
Semeadura de nuvens
As autoridades paquistanesas recorreram nas últimas semanas a medidas de curto prazo sem precedentes. Além de fechar escolas e mercados, o governo impôs restrições de tráfego e - quando esses esforços mostraram muito pouco efeito - recorreu à semeadura de nuvens, uma tecnologia que envolve lançar sais de um avião para desencadear a formação de gotas de água.
Os cientistas questionam se a tecnologia realmente funciona. Mas Mohsin Naqvi, governante da província de Punjab, em Lahore, classificou a sua primeira utilização no Paquistão, no fim-de-semana passado, como "uma experiência bem-sucedida", dizendo que a chuva foi posteriormente relatada em grandes partes de Lahore e que os níveis de poluição do ar caíram temporariamente.
Embora a China tenha implementado no passado tecnologia semelhante de propagação de nuvens, o ar de Pequim só melhorou significativamente depois de o governo ter adoptado medidas de redução de emissões e outras intervenções em grande escala. Activistas ambientais e muitos habitantes temem que o Paquistão esteja a fazer muito pouco e demasiado tarde.
Bashir Ahmed, 41 anos, engenheiro civil de Lahore, disse que a crise actual surge após anos de desrespeito pelo ambiente, incluindo a demolição dos exuberantes parques da cidade para dar espaço a centros comerciais e auto-estradas. Lahore perdeu 75% da sua cobertura verde nas últimas décadas, dizem grupos ambientalistas locais.
Depois de semanas a respirar ar com cheiro acre, Ahmed desenvolveu dor de garganta e uma tosse persistente que os médicos atribuíram à poluição. “O hospital foi inundado com doentes como eu”, disse ele, acrescentando que, a menos que sejam tomadas mais medidas por parte dos funcionários do governo, “Lahore em breve se tornará inabitável”.
“Soluções tipo penso rápido”
Contudo, em vez de abordar as razões subjacentes, a liderança do Paquistão está a concentrar-se em “soluções tipo penso rápido”, alertou o jornal paquistanês Dawn num editorial recente.
Além da desflorestação e do desaparecimento de espaços verdes, os investigadores e activistas culpam principalmente os gases dos tubos de escape dos carros e a poeira dos estaleiros de construção, as emissões tóxicas de carros e fábricas antigos e a queima de resíduos de culturas sazonais.
Kashif Salik, economista agrícola, refere que grupos de interesse poderosos impedem a imposição de restrições mais eficazes às emissões dos automóveis, aos projectos de construção civil e às práticas agrícolas. “Neste país, temos uma máfia dos transportes e uma máfia da construção”, denuncia. “Não há alternativa para o governo finalmente confrontá-los.”
Mas, em vez disso, argumentam as associações empresariais, as autoridades optaram por visar sectores de baixas emissões que parecem mais fáceis de controlar.
Tariq Mehboob, que dirige a Associação de Cadeias de Lojas do Paquistão, nota que o recente encerramento de supermercados e lojas locais, ordenado pelo governo, fez com que os comerciantes em Lahore e outras cidades perdessem mais de 35 milhões de dólares (quase 32 milhões de euros) - outro golpe durante a pior crise económica dos últimos anos.
Mehboob instou o governo a reprimir o gás de baixa qualidade, que continua a ser vendido aos motoristas no Paquistão, apesar de outros países terem tomado medidas para proibi-lo devido ao seu impacto ambiental.
Numa entrevista, Farzana Altaf Shah, chefe da Agência de Protecção Ambiental do Paquistão, defendeu a resposta governamental, dizendo que a agência está a tomar medidas contra projectos de construção não autorizados e ordenou à polícia que reprima veículos que violem as regras de emissões.
Eleições em Fevereiro
Apesar da indignação local relativamente à aparente inacção do governo, a pressão sobre os políticos pode ser insuficiente para forçar a mudança, dizem os analistas políticos.
À medida que o Paquistão se prepara para as eleições previstas para o início de Fevereiro, as preocupações com a qualidade do ar não ocupam um lugar de destaque na agenda política, disse Hasan Askari Rizvi, cientista político em Lahore.
Grande parte do debate político continua centrado nas preocupações sobre a justiça eleitoral, porque o líder da oposição mais popular, o antigo primeiro-ministro Imran Khan, está na prisão depois de ter sido condenado à prisão por corrupção e detido em Agosto.
Rizvi disse, no entanto, que mesmo que as eleições não fossem dominadas por tensões políticas, uma série de outras questões prementes - incluindo um número crescente de ataques militantes, inflação elevada e pobreza - constituiriam preocupações mais imediatas e sérias para muitos eleitores.
Irfan Ahmed, um comerciante de tecidos em Lahore, disse que se tivesse de escolher entre esforços governamentais para impulsionar a economia ou encerramentos para combater a poluição atmosférica, escolheria a primeira opção.
O fecho do seu negócio nas últimas semanas “não fez nada para melhorar a qualidade do ar”, afirma. “Tudo o que isso custou foi milhões a mim e a outros comerciantes”, conclui Irfan Ahmed.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post