Há um mês, a detecção em Lisboa de um mosquito-tigre-asiático (Aedes albopictus), que transmite doenças como dengue ou Zika, serviu de aviso para estas espécies invasoras que se têm instalado no Sul da Europa ao longo da última década. Agora, o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa pede ajuda à população para encontrar, capturar e enviar os mosquitos por correio – um projecto científico com a ajuda dos cidadãos.
Há duas espécies de mosquitos particularmente preocupantes para os responsáveis do projecto Mosquito Web: o mosquito tigre-asiático (Aedes albopictus) e o mosquito da febre-amarela (Aedes aegypti). A rede de vigilância com a ajuda da população já tem sido útil – inclusivamente para detectar o mosquito Aedes albopictus em Lisboa. “Foi uma cidadã que fotografou o mosquito, achando que estava perante uma espécie desconhecida, e que deu conta dele nesta plataforma ficando nós assim a saber que este mosquito tinha chegado a Lisboa”, conta Carla Sousa, do IHMT, em declarações ao Diário de Notícias.
Não foi a primeira vez que este mosquito foi detectado em Portugal. Em 2017, o mosquito-tigre-asiático foi identificado no Norte do país, algo que também aconteceu no Algarve em 2018 e no Alentejo no ano passado. Já a presença do mosquito da febre-amarela é mais antiga. A sua primeira presença remonta a 2005, sendo que em 2012 causou um surto na ilha da Madeira com cerca de 2000 casos confirmados de febre de dengue.
A instalação do mosquito Aedes albopictus em Portugal, e no restante continente europeu, tem sido favorecida pelo aumento das temperaturas na última década. No caso do Aedes aegypti, a sua presença não é tão notória nos registos europeus, apesar de também merecer atenção das redes de vigilância nacionais. Actualmente, estas são consideradas como duas das espécies invasoras de mosquitos mais eficazes, disseminando-se nas últimas décadas das florestas tropicais do Sudeste asiático (de onde é originário) para todos os restantes continentes do mundo – com excepção da Antárctica.
Ao longo dos últimos anos, estes mosquitos têm-se instalado nos países do Sul da Europa, com particular incidência em Itália e França. No início de Outubro, um relatório do Centro Europeu de Prevenção de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), notava o crescimento dos casos autóctones de dengue (ou seja, não associados a viagens ao exterior): 42 em Itália, 31 em França e dois em Espanha, no último ano. Estes casos foram registados nos últimos três meses.
Fotografar, capturar e enviar
“Não conseguimos impedir que chegue cá, mas podemos impedir que se instale, que se dissemine e que comece a invadir Lisboa ou outras regiões à sua volta. Mas para isso precisamos de saber onde está, se está em mais algum local do que aquele em que já foi identificado”, diz Carla Sousa ao Diário de Notícias.
O processo desde a captura ao envio do mosquito é simples. O primeiro passo é fotografar o mosquito e ir à plataforma do Mosquito Web para registar o caso – ou “Reportar achado”, como está na plataforma. Aí irá explicar onde encontrou o mosquito e dar os seus contactos, além de enviar a fotografia. Caso se sinta confortável, também pode capturar o mosquito num recipiente de vidro e com uma folha de papel e elástico (para evitar a fuga do insecto). E depois basta enviar por correio para o IHMT.
“As populações desempenham um papel importante na identificação precoce da presença de espécies exóticas de mosquitos. Dez milhões de cidadãos activos superam largamente a eficiência de todos os entomologistas de Portugal”, escreve o IHMT no seu site, apelando à participação da população.
Este projecto de ciência-cidadã, com a ajuda da população portuguesa, será importante para identificar, precocemente, os locais onde estão presentes estas espécies exóticas – e evitar que se instalem e disseminem no país.
Até ao momento, não há casos em Portugal de transmissão de doenças como dengue, Zika ou chikungunya pelo mosquito-tigre-asiático, embora todos os anos sejam detectados casos importados. Já o mosquito da febre-amarela teve o seu último impacto em 2012, com os 2000 casos de febre de dengue na ilha da Madeira.
Além deste projecto, a Direcção-Geral da Saúde conta com um programa de vigilância em todo o país para monitorizar as populações de mosquitos e caracterizar os perigos que podem oferecer para a população.