Fumo dos incêndios canadianos continua a alastrar pelos EUA
Norte-americanos voltam a usar máscaras. Nova Iorque suspende aulas presenciais no ensino básico.
Uma vasta área dos Estados Unidos continuava esta quinta-feira sob um espesso manto de fumo resultante dos gigantescos incêndios florestais em curso no Canadá. Pelo terceiro dia consecutivo, a fraca qualidade do ar motivou alertas das autoridades sanitárias em vários estados, incluindo Nova Iorque, toda a faixa atlântica até às Carolinas, bem como a região dos Grandes Lagos. Pessoas idosas ou com problemas respiratórios são aconselhadas a permanecer em casa, e foram cancelados inúmeros eventos ao ar livre, incluindo jogos da Liga de beisebol.
Na cidade de Nova Iorque, na quarta-feira, registaram-se valores recordes de partículas finas na atmosfera: 868 microgramas por metro cúbico, muito acima dos 35 estabelecidos como limiar de segurança pela EPA, a agência federal de protecção ambiental. As máscaras faciais, omnipresentes durante a pandemia de covid-19, e entretanto largamente esquecidas pelos norte-americanos, voltaram a ser visíveis nos últimos dias. Todos os estabelecimentos de ensino básico da cidade estarão encerrados na sexta-feira, com as aulas transferidas para plataformas online.
Washington e Filadélfia, onde chegaram a ser suspensas as aterragens no principal aeroporto, eram outras metrópoles com níveis de poluição de risco. Em concentrações menores, o fumo chega mesmo à Florida e ao Texas, a milhares de quilómetros da fronteira canadiana.
Pelo menos 250 incêndios continuavam a lavrar na quinta-feira no leste do Canadá, sobretudo na província francófona do Quebeque. Em todo o país, o número de incêndios activos superava os 400, numa crise sem precedentes para os canadianos. Uma tempestade ao largo da Nova Escócia, no Atlântico, tem funcionado como uma espécie de ventoinha, empurrando o fumo para Sul, em direcção aos Estados Unidos.
Do outro lado do Atlântico, na Noruega, investigadores do NILU, Instituto de Pesquisa Climática e Ambiental, detectaram um acréscimo da concentração de aerossóis na atmosfera, atribuída pelos modelos meteorológicos ao fumo proveniente do Canadá. No entanto, não é esperado que as partículas que agora chegam à Europa sejam registadas em níveis de concentração suficientes para suscitar a preocupação das autoridades de saúde, sublinha o instituto.
Entretanto, a comunidade internacional mobiliza-se para ajudar o Canadá a combater as chamas. Esta quinta-feira, a Comissão Europeia anunciou que Portugal, Espanha e França vão enviar 280 bombeiros para o país da América do Norte, ao abrigo do Mecanismo de Protecção Civil da União Europeia.
“Estamos solidários com o Canadá face aos terríveis incêndios florestais. O Canadá solicitou o apoio do Mecanismo de Protecção Civil da UE e nós estamos a responder prontamente”, declarou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, numa publicação na rede social Twitter.
Os bombeiros europeus juntam-se a operacionais norte-americanos, australianos, neozelandeses e sul-africanos que já estão no Canadá, onde as forças armadas também participam no combate às chamas.
A actual vaga de incêndios no Canadá é inédita a vários títulos. Raras vezes houve incêndios activos em todas as províncias e territórios do país em simultâneo, desde a costa do Pacífico ao Atlântico, incluindo nas províncias marítimas do leste, como a Nova Escócia, habituada a verões frescos e húmidos, e passando pelos territórios árcticos. Como também é considerado invulgar o início precoce da época de incêndios, com vários sinistros de grandes dimensões a deflagrar em Março e Abril, sobretudo em Alberta.
O Governo canadiano atribui a actual crise às alterações climáticas, com uma Primavera quente e extraordinariamente seca em grande parte do país. As previsões meteorológicas não são animadoras, e Otava admite estar perante a pior época de incêndios da história do Canadá. Até ao momento, o país já perdeu uma área florestal do tamanho da Bélgica, ou um terço de Portugal continental. com Lusa