Ex-nomeado de Trump para a Justiça Matt Gaetz teve sexo com menor, acusa Congresso

Câmara dos Representantes dos EUA divulga relatório de investigação interna que aponta “provas substanciais” de pagamentos por sexo e de relações com uma menor. Gaetz nega ter cometido qualquer crime.

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Matt Gaetz num evento político no Arizona, este fim-de-semana, onde Donald Trump também discursou Cheney Orr / REUTERS
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Um relatório da comissão de ética da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos concluiu que há "provas substanciais" de que Matt Gaetz, ex-congressista republicano da Florida e antiga escolha do Presidente-eleito Donald Trump para a Justiça, teve sexo com uma menor de idade e pagou a várias mulheres por sexo, em violação de várias leis estaduais e de códigos de conduta dos congressistas. O documento foi divulgado pelo Congresso esta segunda-feira, após a reversão de uma anterior decisão no sentido de não publicitar as conclusões de um inquérito de dois anos. O antigo congressista nega qualquer ilícito.

A investigação do Congresso concluiu que Gaetz fez pelo menos 20 pagamentos, num total de várias dezenas de milhares de dólares, a uma série de mulheres por sexo e drogas. O caso mais delicado é o da relação como uma jovem de 17 anos quando o agora ex-congressista tinha 35 anos. Na Florida, a idade de consentimento está legalmente fixada nos 18 anos.

"A comissão determinou que há provas substanciais de que o congressista Gaetz violou as regras da Câmara e outros códigos de conduta que proíbem a prostituição, abuso sexual de menor de idade, uso de drogas ilícitas, ofertas ilegais, favores especiais ou privilégios, bem como a obstrução do Congresso", conclui o documento redigido por um painel liderado por congressistas republicanos.

Segundo apurou a comissão, Gaetz terá ainda consumido drogas como cocaína e ecstasy entre 2017 e 2020, bem como terá adquirido marijuana através de um email criado a partir do seu gabinete no Congresso, em violação de várias leis estaduais.

Gaetz, que se demitiu do Congresso em Novembro, no mesmo dia em que Trump anunciou o seu nome para o cargo de procurador-geral (figura que, nos Estados Unidos, também exerce as funções equivalentes às de um ministro da Justiça), tendo mais tarde renunciado à nomeação devido à tempestade política e mediática em torno deste caso, nega ter cometido qualquer acto ilícito.

"Dar dinheiro a alguém com que estás a andar - e que não pediram - e que não é 'cobrado' por sexo, agora é prostituição?", questionou Gaetz na rede social X, condenando a divulgação do documento "na véspera da véspera de Natal", e sem a oportunidade de levar a questão a "um tribunal onde poderia apresentar provas e contestar testemunhas".

As mensagens na rede social seguiram-se a uma tentativa em vão, num tribunal de Washington, para travar a divulgação do documento.

Na semana passada, Gaetz tinha admitido vários dos comportamentos em causa, negando contudo que estes tenham tido qualquer carácter criminoso. "Nos meus tempos de solteiro, enviei frequentemente dinheiro a mulheres com quem andei - até a algumas com que nunca andei mas que mo pediram. Andei com várias destas mulheres durante anos. NUNCA tive contacto sexual com alguém com menos de 18 anos", escreveu no X.

"Os meus trintas foram uma época de trabalhar no duro e curtir também. É embaraçoso, mas não criminoso, que eu me tenha divertido, relacionado com mulheres, bebido e fumado mais do que devia numa fase anterior da minha vida. Vivo uma vida diferente agora", acrescentou Gaetz, que em breve estreará o seu próprio talk show no canal televisivo conservador OAN.

A investigação pelo Congresso seguiu-se a outra de carácter criminal, pelo Departamento de Justiça, que terminou em arquivamento. Na altura, há cerca de dois anos, os investigadores concluíram que as suspeitas, assentes sobretudo em testemunhos, não teriam força para ir a julgamento. Apesar dessa decisão, a Câmara dos Representantes decidiu investigar se havia matéria incompatível com os seus estatutos e códigos de conduta. Gaetz, uma figura impopular no seio da própria bancada, nunca encontrou apoio fora da facção mais trumpista do partido.

O Congresso admite contudo que, apesar das violações éticas e de eventuais ilícitos de âmbito estadual que foram detectados, não encontrou provas suficientes de que Gaetz tenha cometido crimes federais, nomeadamente tráfico sexual. A questão colocava-se sobretudo em relação aos pagamentos feitos a mulheres fora da Florida para que estas viajassem para aquele estado (conferindo um carácter extra-estadual aos ilícitos, e agravando a moldura penal) para festas de sexo e drogas, mas a comissão reconhece que se trataram de contactos e de transacções entre pessoas adultas.

A divulgação do relatório esteve para não acontecer devido à demissão de Gaetz em Novembro, que retirou o ex-congressista da alçada da comissão de ética da Câmara dos Representantes, e à então sua nomeação para liderar a Justiça. Com a renúncia de Gaetz, Trump acabaria por escolher rapidamente Pam Bondi, antiga procurador-geral da Florida, para ocupar o cargo, nomeação que carece de confirmação pelo Senado. O afastamento de Gaetz da nova administração Trump abriu caminho à publicação do relatório e a um último ajuste de contas pelo Congresso.

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