“Precisamos mesmo de papel de embrulho?” Não, há muitas alternativas
Diminuir os resíduos de papel de embrulho no Natal pode parecer uma tarefa complicada, mas é possível. O primeiro passo é destralhar e reutilizar materiais parados na nossa casa.
Entrámos na época mais bonita e caótica do ano. A corrida aos centros comerciais pelas prendas de Natal já começou. Muitas pessoas começam também a pensar nos embrulhos com o papel de embrulho tradicional ou com sacos coloridos. Mas a época natalícia também traz um grande problema: o lixo. "Precisamos mesmo de papel de embrulho?", questiona Susana Fonseca, vice-presidente da associação Zero. A resposta é: não.
Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, em 2023, 8,98% dos resíduos produzidos no continente eram papel ou cartão. Uma percentagem que parece pequena, mas que no Natal é muito mais impactante. Em 2022, durante o período natalício, Portugal gerou aproximadamente 30 mil toneladas de resíduos só nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
Tiago Lagoa, engenheiro do ambiente, confirma que os resíduos aumentam nesta época devido à tradição da entrega e recepção de prendas. "No Reino Unido, são utilizados por ano mais de 275 mil quilómetros de papel de embrulho. Isto corresponde a nove voltas completas ao planeta, é muito papel", comenta ao jornal PÚBLICO por chamada.
Porém, o Natal não tem de ser sobre desperdício. Existem diversas opções viáveis para abraçar a sustentabilidade e contribuir o mínimo possível para o inevitável aumento dos resíduos que são deitados ao lixo todos os anos nesta época. Susana Fonseca, no entanto, admite que não devemos retirar aos mais novos o momento de felicidade associado à abertura das prendas. "Podemos nós ter o cuidado de, quando recebemos as prendas, guardar os embrulhos e reutilizá-los nos anos seguintes. Não precisamos de impor isso às crianças que gostam de abrir os embrulhos", sugere.
Jornais e Revistas
"É preciso passar a mensagem da reutilização em vez da reciclagem. É um pensamento legítimo, posso dar outra vida a este material?", questiona Susana Fonseca. "Precisamos de travar a quantidade de recursos naturais que usamos no nosso dia-a-dia. Se fizermos um planeamento prévio e pensarmos como podemos reutilizar os materiais, podemos reduzir os nossos resíduos", acrescenta a vice-presidente da associação Zero.
Sim, podemos usar os jornais para limpar os vidros, mas os jornais também podem servir como embrulhos bonitos e originais. Não precisamos necessariamente de comprar papel de embrulho, os jornais e as revistas acumulados em casa podem fazer o mesmo trabalho. Pode sempre acrescentar-se uma fita de prendas recebidas no passado para dar mais cor ao embrulho.
"Recolher as fitas e usar noutros natais ou noutras ocasiões com prendas pode ser uma forma de reutilizarmos estas fitas, não há razão nenhuma para as deitarmos ao lixo", sugere Susana Fonseca. "Desde que haja a prática da reutilização, podemos ter uma fita que dure anos."
Tecidos velhos, vida nova
Usar aquela camisola que nunca mais nos vai servir ou aquele lençol já velho pode ser uma outra solução para um embrulho bonito e único. "Podemos usar os tecidos para fazer embrulhos, é quase como um regresso aos trabalhos manuais", propõe a vice-presidente.
Tiago Lagoa alinha na sugestão das alternativas e acrescenta a possibilidade de usarmos a própria prenda como um embrulho. "Imagina que vamos oferecer um lenço ou um cachecol, ele próprio pode ser um embrulho, é uma solução em que não estamos a produzir novos resíduos para embrulhar prendas", sugere o engenheiro, que é também conhecido como influenciador digital. Mesmo para fechar embrulhos, podemos optar por um cordel ou fio de lã.
"Kraft"
Se ainda assim quiser usar fita-cola, a fita-cola kfrat é uma solução mais sustentável, uma vez que é feita de papel reciclável, não tem adição de tintas nem resíduos que possam ficar no papel. O mesmo se aplica ao papel de embrulho. "Podemos usar papéis recicláveis, evitar papéis com glitter e tintas, que não dão para reciclar", explica Tiago.
Susana acrescenta ainda que, se tivermos mesmo de comprar papel, devemos ponderar o papel que seja mais fácil de reciclar, "evitando o plastificado, o metalizado ou outro papel com materiais que dificultam a reciclagem e que resultam em resíduos". Em termos de tratamento do papel, ao longo dos anos, "deu para perceber que tirar agrafos e fita-cola dos presentes não é um problema no processamento no papel". No entanto, as colas, as tintas e os glitters são mais problemáticos no processo da reciclagem.
Caixas originais
É uma prática comum guardar caixas em casa para o caso de "precisarmos delas", mas na realidade acabamos por deixá-las paradas. Uma solução sustentável, original, e que pode ser um presente único é personalizarmos as caixas e dar-lhes uma segunda vida para oferecer a alguém. "Uma caixa bem decorada também pode ser interessante", comenta Susana. A pessoa que receber a prenda pode utilizar a caixa para guardar outras coisas e mesmo assim ter algo feito à mão.
Numa época em que o número de encomendas online aumentam exponencialmente, podemos utilizar as caixas das encomendas como embrulhos, em vez de comprarmos papel. Com um pouco de lã colorida ou com um cordel inutilizado montamos um presente bonito e atencioso.
Sobras do ano anterior
Uma outra solução passa por aproveitarmos o que sobrou do rolo de papel de embrulho do ano anterior. Se não o utilizamos todo, devemos dar-lhe a oportunidade de cobrir uma prenda. No entanto, devemos sempre pensar nos presentes numa óptica de reutilização, optando por fazer embrulhos com a menor quantidade de fita-cola possível.
Também podemos optar pelo método "origami", um método de embrulho japonês que nos ensina a usar apenas o papel para embrulhar as prendas. Existem diversos tutoriais na Internet que pode escolher para apreender a fazer um embrulho peculiar usando esta técnica.
Sacos de pano e sacos de oferta
As tote bags, ou sacos de pano, são uma outra opção bonita e engraçada para fazer de embrulho. Além de não implicar o uso de fita-cola e outros materiais poluentes, o saco de pano pode ser reutilizado várias vezes pela pessoa que o recebe, como, por exemplo, para ir ao supermercado.
O mesmo acontece com os sacos de oferta natalícios, que, apesar de normalmente serem muito coloridos e terem brilhantes, podem ser reutilizados várias vezes em natais diferentes. Uma vez que são fáceis de abrir e dificilmente se rasgam, podem ser reutilizados noutros anos.
"As emissões aumentam muito nestes dias de festividades, há mais viagens de carro e de avião para estar com a família, há mais produção de comida, de electricidade, as ruas iluminam-se, aumenta o consumismo... Se pudermos reduzir o nosso desperdício, é muito bom", conclui o influenciador digital.
Neste Natal, pode escolher ser mais amigo do ambiente. Todos os anos, a humanidade tem esgotado o "saldo" dos recursos naturais da Terra. Actualmente, já estamos a utilizar recursos naturais que só deveríamos usufruir a partir do dia 1 de Janeiro de 2025, ou seja, mais 70% do que a natureza oferece. Podemos ser agentes de mudança, começando com pequenos comportamentos nas nossas casas, mesmo que achemos que são gestos insignificantes. Se formos muitos, o impacto aumenta.