As buscas e os trabalhos de resgate de um número indeterminado de pessoas que continuam desaparecidas depois das chuvas torrenciais que afectaram o Sul e o Leste de Espanha foram retomados na manhã desta quinta-feira, 31 de Outubro. Segundo o último balanço das autoridades, pelo menos 158 pessoas morreram desde terça-feira depois de um ano de chuva ter caído em cerca de oito horas.
No terreno estão mais de 1500 militares, além de milhares de polícias, bombeiros, operacionais de protecção civil e psicólogos. As equipas envolvidas nas buscas pelos que permanecem desaparecidos passaram esta quinta-feira a limpar as ruas e vasculhar os destroços de veículos submersos em lama, junto a estradas e campos inundados, como mostram imagens transmitidas pelas televisões.
A grande maioria das vítimas, 155, foi registada na Comunidade Valenciana, onde esta manhã foram encontrados oito corpos dentro de uma garagem no bairro de La Torre, cidade de Valência. Morreram ainda duas pessoas na região central de Castela-La Mancha (uma na cidade de Cuenca, outra em Albacete) e uma outra vítima, um cidadão britânico residente em Málaga, foi registada na Andaluzia. Entre as vítimas mortais já confirmadas, pelo menos quatro são crianças.
No bairro de La Torre, segundo relatos de vizinhos citados pelo El Mundo, várias pessoas terão corrido para uma garagem para tentar retirar os seus carros quando o nível da água começou a subir nas ruas. Poucos minutos terão sido suficientes para o portão da garagem ceder à força da água e deixar sem saída todos os que estavam no interior da mesma, acabando por morrer afogados.
O gabinete de crise do Ministério do Interior espanhol acredita que os efeitos da tempestade ultrapassaram “o ponto de gravidade máxima” e o clima calmo regressou a algumas regiões mais fustigadas, mas ainda há várias zonas a motivar preocupação. Ainda esta manhã, a Agência Estatal de Meteorologia de Espanha (AEMET) manteve sob aviso vermelho (o mais grave numa escala de três) a província de Castellón, na Comunidade Valenciana, agora sob aviso laranja.
Às 13h30 locais (12h30 em Portugal continental), a AEMET mantinha uma previsão de precipitação acumulada ao longo de 12 horas de 180 litros por metro quadrado em Castellón.
Foi entretanto emitido um alerta especial pelo Centro de Coordenação de Emergências da Comunidade Valenciana, devido ao aumento dos caudais dos rios e barrancos na província de Castellón, apelando à população para que permaneça em zonas altas.
Às 22h locais, mantêm-se ainda sob aviso laranja da AEMET várias zonas de Tarragona (Catalunha) e Castellón (Comunidade Valenciana). Esta sexta-feira, dia 1, o aviso laranja irá persistir em zonas de Andaluzia, Ilhas Baleares, Catalunha e Comunidade Valenciana.
As autoridades locais não divulgaram o número exacto de pessoas desaparecidas depois das cheias mais mortais da Europa dos últimos anos. Na noite desta quarta-feira, a ministra da Defesa, Margarita Robles, já tinha alertado que o número de vítimas mortais (então de 95) deveria voltar aumentar com o avanço das operações de busca.
O executivo pediu às populações das zonas afectadas pelo mau tempo para não saírem de casa e, sobretudo, não tentarem circular pelas estradas, sublinhando que o temporal ainda permanece e os seus efeitos continuam a ser perigosos.
Em Valência, a região mais fustigada pelas chuvas repentinas, 114 mil clientes da empresa de distribuição de electricidade i-DE (cerca de 75% dos afectados) voltaram a ter luz em casa, segundo avançou a agência de notícias espanhola Efe. A empresa afirmou ainda que continua a a trabalhar para recuperar a electricidade nos sítios em falta e informou que está, em colaboração com outras entidades, a programar acções para recuperar a energia nas centrais que abastecem as estações de tratamento de águas dos municípios afectados.
Os danos materiais são incalculáveis — há pontes, estradas, ferrovias e edifícios destruídos. São muitas as estradas cortadas, já que centenas de automóveis foram arrastados pelas chuvas e o serviço ferroviário de alta velocidade para Madrid e Barcelona foi suspenso. Há ainda 30 mil famílias sem acesso à rede de telecomunicações na região.
Depois de anunciar três dias de luto nacional e declarar a região como “altamente afectada”, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, tinha na sua agenda uma visita ao Centro de Coordenação de Emergências na capital valenciana, a menos de dez quilómetros de Paiporta, uma das cidades mais atingidas e onde morreram pelo menos 45 pessoas.
Em 20 municípios de Valência, incluindo Paiporta, as escolas permanecerão encerradas durante a próxima semana, não tendo ainda data de reabertura.
O presidente da Comunidade Valenciana, Carlos Mazón, pediu esta quinta-feira ajuda ao Ministério da Defesa para que mobilize as Forças Armadas "disponíveis por terra, mar e ar", para ajudar nas operações de busca e salvamento e na distribuição de assistência à população afectada pela DANA (sigla de Depresión Aislada en Niveles Altos).
As estradas que permanecem abertas ao trânsito nas zonas afectadas estão reservadas aos serviços de emergência, especialmente na província de Valência, onde até ao final do dia de quarta-feira foram efectuadas 70 evacuações aéreas e 200 resgates terrestres. As autoridades locais sublinharam ainda que, tratando-se de um fenómeno de torrente, não existem “perigos graves de envenenamento ou insalubridade no abastecimento de água”.
Em Cádis, a província mais afectada na Andaluzia nas últimas 24 horas, a tempestade obrigou a encerrar 37 escolas, além de muitos outros serviços públicos. Na cidade de Jerez de la Frontera cerca de centenas de famílias foram retiradas das suas casas esta tarde, devido ao perigo de novas cheias provocadas pela subida do caudal do rio Guadalete, segundo confirmou o Governo de Cádis.
Várias regiões de Espanha estão desde terça-feira sob a influência de uma “depressão isolada em níveis altos”, um fenómeno meteorológico conhecido como DANA em castelhano, que causou chuvas torrenciais e danos em diversos pontos do país, sobretudo na costa do Mediterrâneo.