O primeiro aviso móvel de risco emitido pela Protecção Civil da Comunidade Valenciana sobre os efeitos do fenómeno metereológico conhecido por DANA (a sigla espanhola para a expressão "depressão isolada de altos níveis") surgiu só pelas 20h10 locais de terça-feira (19h10 em Portugal continental), numa altura em que, segundo a televisão espanhola TVE, “já havia estradas cortadas e localidades inundadas” pelas fortes chuvas desta terça-feira. Na manhã desta quarta-feira, o Governo de Espanha reunirá um gabinete de crise para seguir os efeitos desta tempestade, que provocou 62 mortos só na região de Valência.
No alerta, enviado directamente para os telemóveis na região e que, na recepção, avisa com um ruído diferente do que seria se recebesse outra mensagem de texto, a Protecção Civil valenciana pedia que se evitasse "qualquer tipo de deslocamento na província de Valência [subdivisão da comunidade autónoma]", numa mensagem enviada em espanhol e valenciano, línguas oficiais da comunidade autónoma.
Na terça-feira de manhã, a Agência Estatal de Meteorologia (AEMET, na sigla em espanhol) tinha declarado um alerta vermelho para a região, face à previsão meteorológica para o dia.
Para o perito em climatologia e director do Laboratório de Climatologia da Universidade de Alicante, Jorge Olcina, o sistema de alerta móvel funcionou de forma demasiado lenta para a evolução da situação, defendendo que o aviso deveria ter sido feito logo no início da semana.
"Desde segunda-feira que a população deveria ter recebido um aviso nos seus telemóveis", referiu o especialista à agência espanhola EFE, que lamentou o facto de se ter tentado ter "uma vida normal" face a um alerta vermelho, propondo assim "mudar as cores para um aviso e alerta 'negro', para que se entenda que a vida está em risco".
De facto, a existência de uma tempestade deste género já tinha sido prevista pela AEMET antes de segunda-feira, tendo a agência lançado avisos meteorológicos pelo menos desde sábado passado.
"É provável que exceda 150 milímetros em 24 horas em partes da Comunidade Valenciana e de Múrcia", referiu, no domingo, a AEMET, sobre as chuvas previstas para os dias seguintes. No domingo, a AEMET tinha emitido uma nota informativa em que avisava que se previam "aguaceiros muito fortes, podendo atingir força torrencial, persistentes e acompanhados de rajadas de vento muito fortes" para a zona do "Mediterrâneo" espanhol.
Nesta quinta, a AEMET reduziu os avisos meteorológicos da região para alerta laranja. A Generalitat [governo regional valenciano] emitiu, nesta manhã, um novo aviso, avisando os habitantes da Província de Valência para evitarem "qualquer tipo de circulação rodoviária".
Governo espanhol convoca gabinete de crise
Para poder acompanhar os efeitos da tempestade, o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, presidiu ao gabinete de crise na reunião na sede do Governo na manhã desta quarta-feira, no Palácio da Moncloa, em Madrid. O gabinete de crise foi formado na noite de terça-feira, mas ainda sem a presença de Sánchez, que estava em viagem na Índia.
Numa declaração institucional, o primeiro-ministro demonstrou a "solidariedade e afecto" do Governo com as vítimas das inundações na Comunidade Valenciana e na região de La Mancha.
Pedro Sánchez afirmou ainda que "toda a Espanha chora" com quem procura os seus entes queridos nestas regiões, sem adiantar uma actualização no número de mortos.
"A nossa prioridade absoluta é ajudar-vos. As administrações públicas estão a trabalhar de forma coordenada para fazer o que for possível e vamos disponibilizar todos os meios necessários hoje, amanhã e durante o tempo que for necessário para recuperarmos desta tragédia", sublinhou o primeiro-ministro, que pediu, face ao aviso laranja que se vive em várias regiões, que não se "baixe a guarda".
"A DANA continua a causar estragos. Este episódio devastador ainda não terminou. Há aviso laranja na Andaluzia, Valência, Aragão, Castela e Leão, Catalunha, Extremadura, Navarra, La Rioja e Ceuta", acrescentou o primeiro-ministro, que pediu a quem vive nessas comunidades autónomas "que tomem precauções extremas com todas as medidas de segurança".