Países prometeram 163 milhões de dólares para a biodiversidade — é uma gota no oceano
Fundo criado no âmbito da Convenção da Biodiversidade está drasticamente subfinanciado. Devia ter 200 mil milhões de dólares por ano até 2030, mas conseguiu apenas 407 milhões.
Oito países anunciaram 163 milhões de dólares em novas contribuições para o Fundo Global para o Quadro da Biodiversidade, na conferência da Convenção das Nações Unidas para a Biodiversidade, em Cali, na Colômbia (COP16). Mas isto é apenas uma gota de água no oceano face ao assumido por todos os países há dois anos: mobilizar 200 mil milhões de dólares por ano até 2030 (cerca de 185 mil milhões de euros), incluindo 20 mil milhões por ano até 2025 (cerca de 18 mil milhões de euros), para acções de preservação da natureza e dos seres vivos.
O Quadro Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal, assinado em 2022, estabelecia que os países mais ricos deveriam financiar desta forma acções nas nações em desenvolvimento, que muitas vezes são as que têm uma maior biodiversidade – muitas delas ficam ao nível dos trópicos, por exemplo, onde há ecossistemas não só com grande variedade de espécies, como por vezes são habitats únicos, com seres vivos que só existem naquele local.
Estamos, no entanto, muito longe desses valores. Se juntarmos os 163 milhões (cerca de 151 milhões de euros) agora prometidos na COP16 pela Alemanha, Áustria, Dinamarca, França, Nova Zelândia, Noruega, Reino Unido e província canadiana do Quebeque aos 244 milhões de dólares (225,8 milhões de euros) angariados numa anterior ronda de financiamento, temos no total apenas 407 milhões de dólares (perto de 377 milhões de euros).
Como termo de comparação, este valor é menos de metade dos lucros da petrolífera portuguesa Galp só nos primeiros nove meses de 2024, 890 milhões de euros. As promessas e os compromissos andam muito longe uns dos outros na luta contra a crise da perda de biodiversidade: foi obtido cerca de 2% dos valores prometidos.
“É muito pouco. Estamos a falar de milhões que foram prometidos. Mas o que esperamos são milhares de milhões”, disse Irene Wabiwa, da Greenpeace, citada pela Reuters. “Quando olhamos para a taxa crescente de perda de biodiversidade, a forma como o dinheiro flui é muito, muito lenta”.
Com a natureza a sofrer um declínio sem precedentes e as espécies a extinguirem-se mais rapidamente do que nunca, os cientistas alertam os governos de todo o mundo que não há tempo a perder.
A cimeira, que marca a 16.ª reunião das partes na Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB), está a debater como pôr em prática as 23 metas delineadas no acordo Kunming-Montreal de 2022.
O principal destes objectivos é que cada país reserve 30% do seu território terrestre e marítimo para conservação até 2030 – uma meta conhecida como objectivo 30x30.
Mas estamos longe de lá chegar: na segunda-feira, o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA) avançou que apenas 17,6% da área terrestre e das águas interiores do mundo estavam sob alguma forma de protecção. Os compromissos para proteger o oceano aberto foram ainda mais baixos – apenas 8,4% das áreas marítimas e costeiras agora protegidas, afirma o relatório do PNUA.