Insultos a porto-riquenhos marcam comício de Trump em Nova Iorque
Discurso de apoiante de Trump sobre “ilha de lixo flutuante” e latinos que “adoram fazer bebés” incendeia domingo de campanha. Personalidades hispânicas sinalizam apoio a Harris nas redes sociais.
"Há literalmente uma ilha de lixo flutuante no meio do oceano neste momento. Acho que se chama Porto Rico." A afirmação foi proferida este domingo, pelo humorista Tony Hinchcliffe, num comício de campanha de Donald Trump no Madison Square Garden, em Nova Iorque, que contou com o candidato presidencial, a família, destacados republicanos e Elon Musk, e foi apenas uma entre várias declarações de teor discriminatório ouvidas no evento republicano esta noite.
Porto Rico é um território norte-americano e os seus habitantes têm nacionalidade norte-americana. Embora não possam votar nas eleições presidenciais a partir da sua ilha, podem fazê-lo se residirem nos 50 estados norte-americanos ou no Distrito de Colúmbia (da capital Washington). E perto de meio milhão de porto-riquenhos residem na Pensilvânia, estado decisivo para o desfecho das eleições presidenciais de 5 de Novembro. Mas o facto não impediu Hinchcliffe, tal como outros oradores da acção de campanha republicana deste domingo, de proferir uma série de ataques e insultos a esta e a outras comunidades.
"Estes latinos adoram fazer bebés. (...) Não se vêm fora, vêm-se dentro, tal como fizeram com o nosso país", disse ainda o humorista.
O discurso de Hinchcliffe já está a ter repercussões na campanha. Antes do episódio, a candidata presidencial democrata, Kamala Harris, tinha anunciado neste domingo um programa de auxílio económico a Porto Rico, no mesmo dia em que visitou uma zona da Pensilvânia com uma forte presença porto-riquenha. Harris condenou ainda a inacção de Trump, durante o seu primeiro mandato, perante os sucessivos desastres naturais que atingiram a ilha. Bad Bunny, o mais influente artista porto-riquenho da actualidade, bem como Jennifer Lopez e Ricky Martin, partilharam esta noite vários vídeos do discurso da democrata, sinalizando o seu apoio à candidata.
"Quem é este idiota?", reagiu Tim Walz, candidato democrata à vice-presidência, durante um evento online com a congressista nova-iorquina de ascendência porto-riquenha Alexandria Ocasio-Cortez, ao ver um excerto do discurso do humorista apoiante de Trump.
Também surgiram críticas do campo republicano. María Elvira Salazar, congressista republicana da Florida, outro estado de forte presença porto-riquenha, qualificou o discurso de Hinchcliffe como "racista" e disse que a sua retórica "não reflecte os valores republicanos". Jenniffer González-Colón, outra congressista republicana e candidata a governadora de Porto Rico, considerou as declarações do humorista "desprezáveis, imponderadas e repugnantes". Também o senador republicano Rick Scott, da Florida, condenou o discurso.
No mesmo comício, o radialista Sid Rosenberg apelidou a antiga candidata presidencial democrata Hillary Clinton de "filha da p*** doentia", enquanto Tucker Carlson, antigo apresentador da Fox News, descreveu a candidata democrata Kamala Harris como uma "samoana-malaia de baixo QI", ridicularizando a identidade étnica da vice-presidente norte-americana, filha de mãe indiana e de pai jamaicano. David Rem, amigo e apoiante de Trump, disse que Harris era "o diabo" e "o anticristo". Grant Cardone, empresário e apoiante de Trump, afirmou que Harris e "os seus chulos" vão "destruir o país".
Os ataques não destoaram do registo xenófobo assumido por Trump antes e durante a presente campanha eleitoral, incluindo no comício deste domingo. No discurso que encerrou o evento em Nova Iorque, o candidato republicano declarou que "os Estados Unidos são agora um país ocupado", referindo-se às comunidades imigrantes, e voltou a prometer que, "no primeiro dia", decretará "o maior programa de deportação da história americana".