Uma em cada três espécies de árvores do mundo está em risco de desaparecer
Ouriços-cacheiros estão a caminho de se tornar uma espécie em risco, alerta UICN, que apresentou na conferência da Convenção da Biodiversidade (COP16) uma avaliação do estado das árvores.
Mais de uma em cada três espécies de árvores que existem no mundo hoje está ameaçada de extinção, revela a primeira Avaliação Global de Árvores feita pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), cujos resultados foram divulgados nesta segunda-feira na conferência da Convenção das Nações Unidas da Biodiversidade (COP16), que está a decorrer em Cali, na Colômbia.
Outra má notícia da actualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, apresentada na COP16: o estatuto de conservação do ouriço-cacheiro, que era considerado de menor preocupação, deteriorou-se acentuadamente e esta é agora uma espécie quase ameaçada.
Pela primeira vez, o estado de conservação da maioria das árvores conhecidas foi avaliado e inserido na Lista Vermelha da IUCN, através da colaboração de um milhar de especialistas mobilizados através da Associação britânica Botanic Gardens Conservation International. O resultado é que 16.425 das 47.282 espécies de árvores avaliadas estão em risco de extinção.
Isto representa 38% do total, diz um comunicado de imprensa da IUCN. Distribuem-se pelas três categorias de perigo, que vão desde “vulnerável” até em “em risco crítico”, explica o jornal francês Le Monde.
“As árvores são essenciais para que haja vida na Terra. Têm um papel vital nos ecossistemas, e milhões de pessoas dependem delas para a sua sobrevivência”, comentou Grethel Aguilar, directora geral da IUCN, citada no comunicado.
Desempenham papéis importantes nos ciclos do carbono, da água, dos nutrientes, da formação de solos e da regulação climática. A madeira de 5000 espécies é usada para construção, e mais de 2000 espécies fornecem matérias-primas para alimentos, medicamentos e combustível.
No entanto, o número de espécies de árvores ameaçadas, em 192 países, é mais que o dobro de todas as aves, mamíferos, répteis e anfíbios combinados, alerta a IUCN.
“As árvores desempenham um papel fundamental para os ecossistemas e as populações. Esperamos que esta estatística assustadora incite a uma acção urgente para desencadear planos de conservação”, disse, em Cali, Eimear Nic Lughadha, responsável pela avaliação dos Jardins Botânicos de Kew, no Reino Unido.
“Este relatório mostra como é importante proteger e restaurar ecossistemas florestais diversos”, disse Cleo Cunningham, da BirdLife International, citada também no comunicado. “Mais de dois terços das espécies de aves ameaçadas em termos globais dependem de florestas”, exemplificou.
Foco nas ilhas e América do Sul
Como acontece com outras espécies, as ilhas são tanto refúgios de biodiversidade como os locais onde há uma maior de espécies de árvores ameaçadas – porque o isolamento favorece a evolução de espécies distintas. Além disso, nas ilhas habitadas, a ameaça de derrube das árvores, para avançar o desenvolvimento urbano e a agricultura, é cada vez maior.
A entrada de espécies invasoras, doenças e pragas, é também facilitada pelas alterações climáticas e, em conjunto, ameaçam as árvores. A subida do nível dos mares, por causa do aquecimento global, e o aumento de fenómenos meteorológicos extremos, como grandes tempestades e secas, são outras ameaças que põem em risco a sobrevivência das árvores.
A protecção e restauro de habitats são acções prioritárias para conservar árvores, mas por vezes é preciso ir mais além da conservação local. Fazer bancos de sementes e colecções em jardins botânicos podem ser passos fundamentais para evitar extinções de espécies de árvores das ilhas, ou até de qualquer outro tipo de ecossistema no mundo, salienta a IUCN.
A América do Sul é o local com maior diversidade de árvores no mundo. O avanço da agricultura industrial e da pecuária são aqui as maiores ameaças, que fazem com que 3356 das 13.668 espécies lá identificadas corram risco de extinção.
“Ainda que a proporção de espécies de árvores ameaçadas na América do Sul seja mais baixa (25%), esta percentagem vai aumentar com toda a certeza, porque muitas espécies de árvores sul-americanas ainda não estão descritas cientificamente. E é provável que estejam em risco as espécies que ainda não foram identificadas”, explicou Cleo Cunningham.
Alerta ouriços
A IUCN, que este ano assinala 60 anos da elaboração da sua Lista Vermelha, revelou ainda nesta segunda-feira que o estatuto do ouriço-cacheiro (Erinaceus europaeus) passou de “pouco preocupante” para “espécie quase ameaçada”. Quer isto dizer que ainda não se qualifica para as categorias “criticamente em perigo”, “perigo” ou “vulnerável”, mas está perto de se enquadrar ou será enquadrada numa delas num futuro próximo.
Os números deste pequeno mamífero insectívoro que pode pesar até 1,5kg, com o corpo coberto por espinhos acastanhados com as extremidades brancas, olhos grandes e focinho alongado reduziram-se entre 16% e 33% nos últimos dez anos em mais de metade dos países onde vive, incluindo o Reino Unido, Noruega, Suécia, Dinamarca, Bélgica, Países Baixos, Alemanha e Áustria, diz a UICN.
Há locais, como a Baviera (Alemanha) e Flandres (Bélgica) onde as populações se reduziram em 50%. O aumento das pressões de origem humana, em especial a degradação dos habitats rurais por causa da prática da agricultura intensiva, a construção de estradas e o avanço do desenvolvimento urbano estão a ser fatais para os ouriços-cacheiros.
“Precisamos de acção ao nível nacional para manter as populações de ouriços-cacheiros”, salientou Abi Gazzard, do grupo especializado em pequenos mamíferos da IUCN. Há também falhas no conhecimento, por exemplo sobre os limites da distribuição geográfica das espécies. “É preciso aumentar a monitorização da espécie na Europa”, salientou Gazzard.