IPO do Porto vai ter um centro de terapia do cancro com protões

O centro de terapia de protões em Portugal demorará três a quatro anos a ser construído. No mundo inteiro, cerca de 350 mil doentes de cancro já foram tratadas com esta terapia considerada inovadora.

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Centro de Terapia de Protões no Instituto Paul Scherrer, na Suíça Scanderbeg Sauer
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O Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto vai ter um centro de terapia do cancro com protões, uma técnica de radioterapia considerada inovadora, de maior precisão e com menos efeitos secundários do que a radioterapia convencional, foi anunciado esta quinta-feira, como noticiou a agência Lusa.

Aquele que será o primeiro centro nacional de terapia de protões contará com um apoio de 80 milhões de euros para a compra de equipamentos, verba doada pela Fundação Amancio Ortega (de Espanha) ao IPO do Porto.

Os protões são partículas subatómicas que constituem o núcleo dos átomos. O uso de protões em radioterapia do cancro foi aplicado pela primeira vez na década de 1950, como o PÚBLICO explicava em 2019. Na Europa, o primeiro centro de terapia com protões surgiu em 1984, no Instituto Paul Scherrer, na Suíça. No entanto, esta terapia só começou a ganhar força por volta dos 1990 e, nos últimos anos, tem estado a ter um impulso pelo mundo fora.

Em todo o mundo, até ao final de 2023, tinham sido tratadas com protões cerca de 350 mil pessoas, segundo o Particle Therapy Co-Operative Group (PT-COG), uma organização internacional de cientistas interessados em terapias com partículas de alta energia.

Já as infra-estruturas do futuro Centro Nacional de Protonterapia (CNP), cuja concretização se estima num prazo de três a quatro anos, serão financiadas “quase na sua totalidade por fundos comunitários provenientes do Programa Regional Norte 2030”, lê-se na informação disponibilizada à agência Lusa pelo IPO.

Actualmente, a terapia por protões – ou protonterapia na expressão usada em Espanha ou no Brasil, que deriva da palavra “protón” ou “próton”, respectivamente – é inexistente em Portugal. Não é conhecida a existência em Portugal de equipamentos de terapia de protões públicos ou privados.

Esta técnica de radioterapia considerada inovadora tem uma precisão maior e menos efeitos secundários do que a radioterapia convencional do cancro – que usa fotões, mais exactamente raios X. A tecnologia com feixes de protões permite depositar mais energia dentro da região do tumor para o destruir, sem atingir tecidos saudáveis e órgãos e estruturas críticas à volta. Por esse motivo, em relação a tratamentos baseados na radioterapia tradicional e na quimioterapia, pode ter menos efeitos secundários. Além disso, os feixes de protões também conseguem chegar a tumores malignos alojados em zonas mais profundas do corpo.

O tratamento de doentes oncológicos com protões é apontado como especialmente relevante em pacientes com longa sobrevivência, particularmente na população pediátrica, destaca a Lusa. Pensa-se que o uso de protões para tratar tumores pediátricos malignos e benignos com fins curativos reduzirá o risco de tumores induzidos pela radiação mais tarde na vida.

Uma recomendação que vem de 2015

A necessidade de instalar em Portugal uma unidade de terapia com protões começou por ser recomendada em 2015 por uma equipa de peritos que fez um relatório da revisão da Rede Nacional de Especialidade Hospitalar e de Referenciação de Radioterapia, promovida pelo Ministério da Saúde.

Mais tarde, em Outubro de 2017, o Governo criou um grupo de trabalho para definir uma estratégia nacional para a criação de uma unidade de saúde destinada a tratar doentes de cancro com terapias de feixes de partículas de elevada energia, como os protões, unidade essa que seria integrada no Serviço Nacional de Saúde. E, em Março de 2018, o Conselho de Ministros aprovou as orientações estratégicas para a criação dessa unidade de saúde.

Agora, quase uma década depois de uma equipa de peritos ter recomendado pela primeira vez a instalação em Portugal de uma unidade de terapia com protões, o país vai finalmente ter um centro com esta tecnologia para tratar o cancro.

O anúncio desta quarta-feira, no Porto, surgiu na cerimónia de assinatura do acordo de compromisso entre a Fundação Amancio Ortega, o IPO do Porto e o Governo português, iniciativa que contou com a presença do primeiro-ministro, Luís Montenegro. A Fundação Amancio Ortega comprometeu-se junto do IPO do Porto a comprar dois aceleradores de protões.

O IPO destaca que a Fundação Amancio Ortega tem sido responsável por investimentos que têm tido impacto em Espanha em vários sectores da sociedade, nomeadamente no serviço público de saúde, com um apoio expressivo na renovação do parque tecnológico.

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