A abundância de espaços verdes nas zonas urbanas está associada a um menor risco de doenças e mortes relacionadas com o calor, como com a saúde mental e bem-estar, de acordo com um estudo publicado nesta terça-feira na revista BMJ Open. Os espaços verdes podem ajudar a compensar os efeitos adversos das altas temperaturas na saúde, concluem os investigadores que fizeram uma revisão de trabalhos publicados entre 2000 e 2022.
Apesar de uma vasta investigação sobre os efeitos benéficos globais dos espaços verdes ao longo dos anos, os seus riscos para a saúde relacionados com o calor continuam a ser mal compreendidos, afirmam os investigadores no artigo publicado nesta terça-feira. Numa tentativa de colmatar esta lacuna de conhecimento, os cientistas analisaram os efeitos das zonas verdes nos problemas de saúde e na morte em zonas urbanas de todo o mundo, com base em investigação anterior relevante.
Incluíram vários trabalhos publicados entre Janeiro de 2000 e Dezembro de 2022 e analisaram com mais pormenor um total 12 estudos a partir de um conjunto inicial de mais de 3000 artigos assinados por equipas de investigadores de Hong Kong, Austrália, Vietname, EUA, Coreia do Sul, Portugal e Japão. Abrangeram estudos epidemiológicos, de modelação e simulação, bem como investigação experimental e análises quantitativas.
Urban greening
A revisão mostrou que os espaços verdes urbanos – em inglês, urban geening –, como os parques e as árvores, podem potencialmente ajudar a compensar os efeitos adversos para a saúde causados pelas temperaturas extremas.
As zonas com mais espaços verdes apresentam taxas mais baixas de doenças e mortes relacionadas com o calor do que as zonas com menos espaços verdes, especialmente entre os grupos mais vulneráveis. Além disso, a vegetação urbana está também associada a uma melhor saúde mental e bem-estar, o que também pode atenuar os efeitos negativos das temperaturas elevadas na saúde.
Os investigadores sublinham que a metodologia e a concepção divergentes dos estudos incluídos impedem a agregação dos resultados para uma análise mais aprofundada e, embora a revisão tenha encontrado associações entre os espaços verdes urbanos e os resultados em matéria de saúde, não foi possível estabelecer uma relação causal.
"É importante notar que é necessária mais investigação para compreender planeamento a extensão do impacto dos espaços verdes urbanos na morbilidade e mortalidade relacionadas com o calor e a forma como interagem com outros factores, como a poluição atmosférica, o estatuto socioeconómico, entre outros", refere o comunicado de imprensa sobre o estudo.
No entanto, os investigadores destacam que fica claro que "os espaços verdes urbanos desempenham um papel vital na mitigação dos riscos para a saúde relacionados com o calor, oferecendo uma estratégia potencial para o planeamento urbano abordar as alterações climáticas e melhorar a saúde pública".
Garantir acesso a espaços verdes
A ciência tem comprovado que passar nem que sejam duas horas num espaço verde pode diminuir os níveis de stress e ansiedade, a tensão arterial diminui assim como o risco de doenças do sistema circulatório. “O contacto com a natureza está associado a melhor saúde mental, física, e bem-estar. As pessoas sentem-se melhor, mais felizes, num estado de humor mais positivo”, confirmava Luísa Lima, professora catedrática de Psicologia do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, num artigo mais aprofundado dedicado a este tema e publicado em 2022 no Azul.
Mas os benefícios de cidades mais verdes não se reflectem apenas nos seres humanos: podem melhorar os ecossistemas e ajudar a reduzir os níveis de poluição. Entre edifícios de um tom cinzento e prédios sem fim à vista, um espaço verde pode mudar totalmente a dinâmica de uma cidade. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de metade da população mundial vive em cidades. Mesmo que as cidades ocupem apenas 3% do planeta, são responsáveis por cerca de 75% das emissões de carbono. Algo que os espaços verdes, como sumidouros de carbono, podem ajudar.
É necessário garantir que as populações tenham um acesso aos espaços verdes mais facilitado, permitindo-as caminhar até eles, e que sejam seguros. Quanto a isto, os dados são positivos: segundo a ONU, quase metade da população mundial vive a 400 metros de espaços de fruição ao ar livre – não só espaços verdes, mas também espaços de comércio. Na Europa e na América do Norte, a percentagem sobe para os 57%, enquanto na Austrália e na Nova Zelândia estes valores atingem os 80%.
Nas cidades, o acesso a espaços verdes pode ser mais difícil. Reconhecendo os efeitos nocivos do calor relacionados com a urbanização crescente e as alterações climáticas, uma das metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas estipula a disponibilização de acesso universal a espaços verdes e públicos seguros e acessíveis, especialmente para grupos vulneráveis como as crianças, os idosos e as pessoas com doenças crónicas, até 2030.
Texto editado por Andrea Cunha Freitas