É provável que tenha em casa 74 equipamentos eléctricos. Quer “destralhar a casa”?
O WEEE Forum lançou uma campanha nas redes sociais para incentivar a reciclagem de aparelhos electrónicos avariados ou sem uso. Portugal continua com um atraso significativo neste tipo de reciclagem.
"Destralha a casa de equipamentos eléctricos: vamos dar-lhes uma nova vida!" é o mote da nova iniciativa do WEEE Forum para desafiar as pessoas a "destralharem" as suas gavetas e a desfazerem-se de equipamentos que já não têm utilidade. Portugal, que em 2022 foi considerado o pior país europeu a tratar resíduos de aparelhos eléctricos e electrónicos, acompanha esta campanha como mais uma tentativa de combater o atraso neste tipo de reciclagem.
Segundo um estudo do Instituto das Nações Unidas para a Formação e Investigação (Unitar) e membros do fórum europeu Resíduos de Equipamentos Eléctricos e Electrónicos (WEEE, na sigla em inglês) de seis países, incluindo o Electrão em Portugal, existem 74 equipamentos eléctricos nas casas europeias, dos quais 13 estão fora de uso e quatro estão avariados.
Para tentar combater este fenómeno de acumulação, o WEEE Forum organizou um concurso onde as pessoas são desafiadas a publicar nas redes sociais uma fotografia da gaveta ou do armário onde acumulam os seus pequenos equipamentos eléctricos. Até dia 31 de Dezembro, pode participar.
Basta publicar uma fotografia nas redes sociais com as referências #ewastehunt, #junkdrawer, #ewasteday e explicar o futuro destes equipamentos: para reparação, reutilização ou reciclagem. O vencedor receberá uma viagem de comboio pela Europa. Os resultados serão divulgados a partir do dia 22 de Outubro.
Em quase todas as casas e escritórios encontramos gavetas ou armários onde se acumulam os aparelhos eléctricos avariados ou sem uso, desde cabos, cartões de memória, pens, consolas, entre outros pequenos aparelhos.
O objectivo do concurso passa por incentivar as pessoas a "destralharem" estas gavetas e a encaminharem esses objectos para a reciclagem, como forma de inverter a tendência de acumulação. Além de ganharem espaço, promovem a recuperação de materiais valiosos e ajudam o ambiente. Para saber onde pode deixar os equipamentos, basta aceder ao site do Electrão e procurar um ponto perto de si.
Portugal e o problema do lixo electrónico
Em 2022, Portugal foi considerado o pior país europeu a tratar resíduos de aparelhos electrónicos. Segundo dados do Eurostat, Portugal reciclou em 2020 cerca de 32,89% dos REEE [equipamentos ou componentes electrónicos que sejam descartáveis, tal como definido pela Agência Portuguesa do Ambiente], abaixo dos 45% reciclados, em média, na União Europeia. A partir de 2019, a percentagem exigida aos Estados-membros aumentou para 65%. Poucos países foram capazes de acompanhar esta exigência.
Rui Berkemeier, ambientalista da associação Zero, explicou ao Azul que o problema não está somente na reciclagem destes aparelhos, mas também no mau tratamento dos contaminantes presentes, que acabam por entrar no ambiente. No caso dos frigoríficos, por exemplo, os gases de refrigeração podem ir para a atmosfera e aumentar o efeito de estufa. Rui Berkemeier garante que "não há recolha, nem há fiscalização" e que, no final, "quem sofre é o ambiente".
A falta de fiscalização neste sector é outro problema que tem preocupado as associações. O desvio de cerca de 75% dos resíduos reciclados para o mercado paralelo é uma situação recorrente que foi informada ao Ministério do Ambiente. Estes resíduos não chegam às unidades de tratamento responsáveis, sendo transformados em "sucata metálica sem que seja acautelada a sua descontaminação", como explicou o Electrão.
Em 2023, o Electrão recolheu 27 mil toneladas de lixo electrónico, 16% mais do que no ano anterior. No entanto, os resultados não foram suficientes para cumprir as metas da União Europeia. A estratégia passa pela sensibilização e disponibilização de mais pontos de recolha de resíduos electrónicos um pouco por todo o país. Destaca-se ainda a importância da colaboração com os municípios para facilitar o processo de recolha e reciclagem destes equipamentos.
Um problema mundial
Com certeza já se cruzou com várias fotografias de lixeiras a céu aberto de lixo electrónico. Em 2021, o lixo electrónico mundial acumulado era mais pesado que a Muralha da China, o que corresponde a cerca de 60 milhões de toneladas de resíduos electrónicos. Até 2030, o WEEE Forum estima que este número possa subir até aos 74 milhões de toneladas. Este problema é potenciado pela diminuição do tempo de vida dos equipamentos e por uma maior dificuldade de reparação.
A acumulação destes resíduos em casa aprofunda o problema, uma vez que as empresas são incapazes de reutilizar esse material, optando pela extracção da matéria-prima totalmente nova, o que causa danos severos ao meio ambiente. Daí a necessidade de sensibilizar as populações para a reciclagem destes resíduos diversas vezes guardados em casa e nos escritórios durante anos, sem qualquer utilidade ou reparação.
Dia Internacional dos Resíduos Eléctricos
O Dia Internacional dos Resíduos Eléctricos (#ewasteday) assinalado em Outubro foi criado para ajudar a dar resposta a este problema global. É uma iniciativa do WEEE Fórum e dos seus membros com o objectivo de consciencializar as sociedades para a importância da correcta gestão dos resíduos eléctricos. Em 2023, 195 empresas de 55 países participaram na iniciativa, organizando eventos, recolhas de resíduos e campanhas nas redes sociais e nos meios de comunicação social
O WEEE Forum é a organização internacional de entidades gestoras de equipamentos eléctricos. Representa 51 entidades de responsabilidade alargada dos produtos de 33 países. As entidades gestoras associadas, como o Electrão, já recolheram, descontaminaram e reciclaram mais de 41,6 milhões de toneladas de equipamentos eléctricos usados desde a fundação da organização.
Texto editado por Andrea Cunha Freitas