Winestone melhora adegas do grupo. Só na Ravasqueira já investiu 6 milhões de euros
Grupo Mello investiu 6M€ na ampliação e melhoria da adega da Ravasqueira (Alentejo) e prepara “investimento relevante” no Retiro Novo (Douro) e em Pancas (Lisboa). E estuda o que fazer no enoturismo.
A Winestone investiu este ano 6 milhões de euros na ampliação e melhoria tecnológica da adega da Quinta da Ravasqueira, a propriedade por onde tudo começou para o grupo José de Mello no sector vitivinícola, e prepara um "investimento relevante" na Quinta do Retiro Novo (Douro) e na Quinta de Pancas (Lisboa). Em estudo está "o caminho a seguir" no que respeita ao enoturismo, que para já se cinge à Ravasqueira, por onde passam anualmente 5.000 visitantes.
O investimento "na capacitação das infra-estruturas produtivas — espaço e equipamento" —, nomeadamente "em linhas de engarrafamento", no centro de vinificação da Ravasqueira é uma fatia de um investimento global de 30 milhões de euros em aquisições e recapacitação de activos, explicou esta segunda-feira ao PÚBLICO Pedro Pereira Gonçalves, o presidente executivo da holding criada há um ano, pelo grupo José de Mello, para o sector vitivinícola.
O 'bolo' total tinha já sido avançado por Salvador de Mello, presidente executivo do grupo Mello, que na altura — quando comunicou a compra do Retiro Novo e o arrendamento de longa duração da Quinta do Côtto, também no Douro, e da Quinta do Paço de Teixeiró, nos Vinhos Verdes — foi claro nos objectivos que traçava para o negócio do vinho: figurar, a curto / médio prazo, no top 3 das empresas portuguesas mais bem-sucedidas do sector e ter uma presença muito relevante a nível internacional.
Sublinhando que o actual "ciclo [da holding a que preside] é de integração e criação de bases sólidas para o crescimento no futuro" — reorganização de portefólio, reestruturação do património vitivinícola e capacitação de recursos humanos —, Pedro Pereira Gonçalves, que falava num evento no Douro em que estavam prometidas novidades ao nível do investimento mas praticamente não se avançaram números do negócio, acabou por adiantar que vêm aí "investimentos relevantes" nas adegas do Retiro Novo, que pertenceu à The Fladgate Partnership entre 2013 e 2024 e onde têm berço os Portos da Krohn, cuja marca e stocks passaram para a Winestone no negócio de compra da quinta, e de Pancas. "Gostaríamos que as novas adegas estivessem totalmente operacionais em 2027."
"A facturação [da holding] em 2024 andará em linha com a de 2023: 23,5 milhões de euros." O ano fechará sem grande crescimento nas vendas, porque "2024 e 2025 são anos de integração e reformulação de portfólio”, começou por explicar o gestor. "Estamos a falar de empresas que no ano da sua aquisição eram relevantes pelas marcas mas não como negócio", sublinhou Pereira Gonçalves. A produção será no final deste ano de "10 milhões de garrafas", sendo que a Ravasqueira representa mais de 90% desse volume — "os outros projectos tinham uma dinâmica de vendas muito adormecida".
A Winestone exporta actualmente "35%" e tem como "principais mercados EUA, Canadá, Brasil, Norte da Europa, Europa central e Reino Unido", mas a meta do grupo é chegar a 2030 com 60% de exportação. Por essa altura, a "facturação será muito ambiciosa, terá de andar no [tal] top 3", acedeu a responder o presidente executivo da holding. Ora, isso quer dizer que a fasquia do grupo Mello anda entre os 60 e os 70 milhões de euros.
Reestruturações de vinha e nova imagem
Em paralelo ao trabalho de portefólio e, no fundo, comercial, a Winestone quer "investir nas vinhas", de forma a "renovar o seu potencial produtivo". Em Pancas, já o fez: "As vinhas estavam de certa forma abandonadas e este ano conseguimos chegar às sete toneladas por hectare", exemplificou. Durante o ano de 2025, o grupo irá desenhar outras "reestruturações e investimentos nas vinhas", com o objectivo de "ressuscitar património vitivinícola de cada uma das propriedades", onde de resto foram mantidas as equipas que já aí trabalhavam — quando entrou no sector, o grupo Mello empregava cerca de 60 pessoas, hoje a Winestone tem mais de 100 colaboradores. Na Ravasqueira, por exemplo, é certa a mexida, uma vez que "as vinhas, de 1998, precisam da reestruturação", ao passo que no Côtto "as vinhas estavam muito bem cuidadas".
No Douro, e em concreto na Quinta do Retiro Novo, onde os Portos da Krohn estão a ser feitos já este ano pela equipa de enologia do grupo, cuja "estratégia é alinhada" pelo experiente David Baverstock, prepara-se o relançamento da imagem da histórica marca nascida em 1865, conhecida sobretudo pelos seus Portos Colheita mas que faz também belíssimos Vintage, como deixou claro a prova promovida no evento desta segunda-feira. A Winestone também tem "Portos standard", mas diz estar focada "nas categorias especiais" de vinho do Porto.
Para além de dar continuidade a essa tradição, a Winestone tem "uma grande ambição de desenvolver os vinhos do Douro na Quinta do Retiro Novo", avançou Pedro Pereira Gonçalves. O centro de vinificação ali é relativamente moderno, é de 2013, mas há margem para o melhorar, nomeadamente intervindo na parte antiga da adega, onde ficam os lagares de granito e ainda se vêem tonéis do tempo da Wiese & Krohn, hoje vazios, a aguardar restauro. “Investimento muito relevante que vamos fazer é na reestruturação de instalações.”
A outra adega nova na calha, a da Quinta de Pancas, em Alenquer, está "ainda em projecto" e nascerá de uma intervenção nos edifícios contíguos aos corpos que já são utilizados como adega actualmente. “Queremos dar à Quinta de Pancas uma adega como ela nunca teve e transformá-la numa adega de referência da região de Lisboa.”
"Costumo dizer que só falta fazer tudo", tinha dito no início do programa que serviu sobretudo para mostrar portefólio a mais de uma vintena de jornalistas e críticos de vinho. Nesse particular, destacam-se as novas referências da Quinta do Côtto (surgiram os brancos, para já com uva comprada mas em breve com uvas próprias, graças a uma plantação anterior ainda ao arrendamento pelo grupo Mello, e a gama reserva) e da Quinta do Paço de Teixeiró (que tinha praticamente duas referências e hoje tem seis vinhos, divididos por dois segmentos).
Questionado sobre novos investimentos na calha, nomeadamente sobre aquisição de novas propriedades, Pedro Pereira Gonçalves respondeu que até agora o investimento foi em marcas com potencial de crescimento orgânico. Quando insistimos, preferiu sublinhar o foco actual, sem contudo fechar a porta a negócios que se apresentem como uma oportunidade, cá dentro ou lá fora ("Olhamos muito para o novo mundo, que tem muitos bons exemplos de negócios e marcas"). "Neste momento, estamos focados nos activos que adquirimos e em realizar todo o seu potencial."
A Winestone não foi à destilação de crise nem comprou pipas de vinho a 150 ou 200 euros, nomeadamente no Douro, que atravessa uma crise sem precedentes, afiançou, mas compra "granel em cada uma das regiões" onde está presente. Vinho já feito da mesma região onde se propõe engarrafar. "A posição da Winestone é muito transparente, desde o início. Queremos estar presentes em todos os segmentos de mercado. Temos um modelo misto de sourcing [uvas próprias, uvas de fornecedores e granel], que também estamos a reformular."
A Winestone tem 170 hectares de vinha plantada (e gere indirectamente outros 300), em quatro regiões vitivinícolas, e fornece-se de uva também junto de uns "30 a 40 viticultores". No Douro, esses fornecedores eram cerca de dez, um número que "este ano subiu para 15". O granel, sublinhou Pereira Gonçalves, "é esporádico", quando e se o grupo tiver falta de vinho.
Enoturismo no Douro e em Lisboa
O grupo também está "fazer estudos para ver a viabilidade de desenvolver o enoturismo" na Quinta do Retiro Novo e na de Pancas, as propriedades que adquiriu de facto e onde não falta edificado livre para acolher diferentes ofertas turísticas, de simples centros de visitas a unidades de alojamento. Também esse investimento futuro será “significativo”, afiançou Pedro Pereira Gonçalves, sem nunca concretizar o montante que a holding do grupo José de Mello prevê investir para rentabilizar ainda mais os "activos privilegiados" que detém.
Os "estudos são [precisamente] para vislumbrar um caminho quanto à estratégia a seguir”, justificou o presidente executivo da Winestone. “Portugal está no top dos destinos mundiais de enoturismo. É um negócio muito atractivo. E nós temos activos privilegiados. Vamos ter 'n' novidades no enoturismo ao longo do ano de 2025."