Silenciosa e discreta. Tão discreta que muitos daqueles que iam passando no largo do Mercado Manuel Firmino, em Aveiro, quase nem davam por ela. Não fosse o cartaz alusivo à Aveiro Tech Week e a bandeira com o nome WindCredible e aquela turbina de 70 centímetros de altura e 60 de diâmetro passaria, praticamente, despercebida. Mas a verdade é que, à medida que ia girando com a força do vento, estava a produzir energia suficiente para carregar sistemas de baterias ou de climatização, por exemplo. Desmontável e transportável – o que lhe permite ser usada no campismo ou noutros locais ao ar livre –, esta turbina eólica é apenas uma amostra daquilo que quatro empreendedores portugueses estão a desenvolver: uma tecnologia de energia renovável que gera electricidade a partir do vento e que pode ser usada em ambiente urbano. E o melhor de tudo é que este sistema pode vir a ser compatibilizado com o dos painéis solares, permitindo valorizar o investimento de quem já aderiu à solução de energia solar.
“A nossa perspectiva é tornar a energia eólica descentralizada e torná-la mais próxima das famílias, das pessoas e das empresas”, introduzia Filipe Reina Fernandes, um dos fundadores da WindCredible, start-up portuguesa que foi convidada a apresentar o seu projecto na semana que a cidade de Aveiro dedica, anualmente, à tecnologia – a Aveiro Tech Week engloba palestras, área de gaming, workshops, exposições, instalações de luz, som, artes digitais e performances. Ao seu lado estava António Santos, outro dos fundadores, camarada da GNR com o qual teve a oportunidade de dar largas ao gosto de desenvolver engenhocas, que já vinha de casa. “Quando, no quartel da Pontinha, estávamos à procura de soluções energéticas para colmatar o custo das operações, começámos a desenvolver umas microturbinas eólicas, adaptando motores de trotinetes”, conta António. Estava assim dado o primeiro passo para um projecto mais sério e que acabou por juntar outros dois nomes: Marwin Fernandes e Nélson Batista.
A empresa que viu o seu projecto ser distinguido, em 2022, na Web Summit, acredita poder lançar no mercado as suas primeiras turbinas já em 2025. “Estamos a testar a potência de vários geradores, de vários fornecedores, com configurações diferentes da turbina entre si, para percebermos qual é o que apresenta melhor relação de custo/benefício e melhor optimização da produção. Ainda há melhorias e adaptações a fazer, mas a grande perspectiva é termos o produto pronto para comercialização no próximo ano”, anunciam.
Para já, estão disponíveis dois modelos: um “nano”, que foi o que viajou até Aveiro e “vai de 100 a 300 W”, e um médio (2,20 metros altura e cerca de 2 metros de diâmetro), que “vai de 1 kW a 3 kW”. Em fase de idealização está um terceiro modelo, designado de “farm”, e que “há-de ter cerca de 25 kW”, refere Filipe Reina Fernandes. Seja qual for o modelo, há algo que os promotores da solução WindCredible dão como garantido: as turbinas são “silenciosas e não produzem vibração”. “Criou-se uma turbina que capta o vento de todas as direcções, que não tem partes móveis – é uma só peça robusta – e exige pouca manutenção – a ideia é mesmo colocar no telhado e esquecer, tal como os painéis solares”, destacam. Outra das vantagens atribuídas a estas turbinas prende-se com o facto de arrancarem mesmo com pouco vento – “arrancam aos 2 metros por segundo”, anuncia António. “Até ao momento, as turbinas deste estilo precisavam ou de injecção de energia para o arranque inicial ou da inserção de outro tipo de turbina na mesma estrutura. Com esta configuração, ela consegue arrancar a baixas velocidades”, acrescenta.
Ainda é cedo para falar em preços, mas a vontade dos promotores desta tecnologia de energia renovável é que chegue ao mercado com preços na ordem “dos 500 a 700 euros, no caso do modelo mais pequeno”. “Depois, vai depender muito da configuração – se quer baterias ou não – e do local de instalação que também fará variar o custo”, explicam, assegurando que o objectivo é ter “um equipamento que se aproxime ao nível do retorno do investimento dos painéis solares – que em 5 a 7 anos tenha retorno do investimento”.
Por falar em painéis solares, a aposta passa por procurar a compatibilidade das turbinas “com soluções já existentes no mercado, integrando as várias componentes num sistema mais completo”, nota Filipe. “Ao longo do dia, por norma, quando o sol se põe, a intensidade do vento aumenta, tornando-se mais intenso durante a noite. Ao nível do ano, observamos que, nos períodos de Inverno, em que o sol tem menos irradiação, o vento é mais forte. Há uma complementaridade ao longo do dia, mas também ao longo do ano”, sustenta.
Com vários projectos-piloto no terreno – um deles na Nestlé de Linda-a-Velha –, os promotores destas turbinas estão focados em fazer chegar esta solução ao maior número de portugueses. “Sabemos que a pobreza energética é um assunto sério em Portugal. Muitas pessoas não conseguem aquecer as suas casas durante o Inverno. Este tipo de soluções vai contribuir, numa visão integrada, para um puzzle de eficiência energética, mas também conforto das pessoas”, defendem.