Alabama volta a executar recluso por asfixia com azoto
Método foi usado pela primeira vez em Janeiro, também no Alabama. Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos diz que pode violar tratados contra uso de tortura.
Pela segunda vez desde o início do ano, o estado norte-americano do Alabama executou um recluso com azoto bombeado através de uma máscara, um método controverso e pouco estudado em seres humanos, e que, segundo o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, pode violar os compromissos internacionais dos EUA contra o uso de tortura.
Alan Eugene Miller, de 59 anos, um antigo camionista que foi condenado à morte em 1999 pelo homicídio a tiro de três colegas de trabalho, foi também o segundo recluso a ser executado com azoto na história dos EUA. O primeiro, Kenneth Eugene Smith, de 58 anos, condenado à morte em 1989 pelo homicídio de uma mulher a pedido do marido, foi executado em Janeiro.
Segundo o testemunho da jornalista norte-americana Kim Chandler, da agência Associated Press, que presenciou a execução de Smith, em Janeiro, o recluso "começou a tremer e a contorcer-se de forma violenta" dois minutos depois de o procurador-geral do Alabama, Steve Marshall, ter dado luz verde ao início do processo.
"A maca moveu-se pelo menos uma vez devido à violência dos movimentos. Smith pressionou os braços contra as alças que o prendiam à maca, levantou a cabeça e depois caiu para trás", disse a jornalista.
O procurador-geral e a governadora do Alabama, ambos do Partido Republicano, tinham garantido que a execução — que consiste no bombeamento de azoto em estado puro através de uma máscara, até que o recluso morra por asfixia devido à falta de oxigénio — seria indolor, com o recluso a perder a consciência em poucos segundos e a morrer poucos minutos depois. A execução de Miller, em Janeiro, durou cerca de 22 minutos, desde a ordem para a libertação do azoto até à declaração de morte.
Os críticos do método, onde se incluem activistas contra a pena de morte, médicos e organizações de inspiração católica, como a Comunidade de Sant'Egídio, dizem que a execução por azoto não foi suficientemente estudada em seres humanos e pode constituir uma "punição cruel e invulgar" — o que é proibido pela Constituição dos EUA.
O Supremo Tribunal dos EUA deu luz verde ao método em Janeiro, com os votos a favor dos seis juízes da ala conservadora. Numa declaração de voto contra a prática, as três juízas da ala progressista acusaram o estado do Alabama de ter seleccionado Miller para ser "cobaia num método de execução nunca antes tentado".
O Alabama é um de três estados norte-americanos que aprovaram a execução por asfixia com azoto, em parte devido à dificuldade na obtenção dos químicos necessários para a injecção letal. Nos outros dois estados — Oklahoma e Mississippi —, a execução também pode ser feita por fuzilamento, para além dos métodos mais habituais (a injecção letal, que é a mais comum, mas também enforcamento, cadeira eléctrica e câmara de gás).
A pena de morte é legal em 21 dos 50 estados norte-americanos e há moratórias em vigor em outros seis. Segundo os números da organização sem fins lucrativos Death Penalty Information Center, foram executados 1600 reclusos desde a reintrodução da pena de morte nos EUA, em 1976, após um período de quatro anos de suspensão.
A pena de morte também é legal a nível federal (quando estão em causa crimes federais, contra o país, e não apenas num dos estados), embora a sua aplicação seja mais rara do que a nível estadual. As execuções federais estiveram suspensas, por lei, entre 1972 e 1988, e depois disso só voltaram a ser aplicadas entre 2001 e 2003, e em 2020, durante a Administração Trump. A punição foi novamente suspensa em 2021, pela Administração Biden.