É o primeiro grande lançamento da Fladgate Still & Sparkling Wines, embora o grupo que detém Taylor’s, Croft e Fonseca já tivesse mostrado em Junho o seu portefólio de vinhos tranquilos — reorganizado, e agora mais curto, sem redundâncias e para já ainda sem DOC Douro (a operação da Quinta do Portal ainda está a ser reestruturada).
O Principal Grande Reserva Tinto (21.000 garras / ano), que nasce na emblemática propriedade das Colinas de São Lourenço, Anadia, tem rótulo novo, custa agora menos — 110 euros; o objectivo é competir com alguns Bordéus, oferecendo um preço melhor — e passará a chegar ao mercado com menos tempo de garrafa (seis a oito anos). Esse mercado será sobretudo o internacional: “97% das vendas” da Ideal Drinks de Carlos Dias, que a Fladgate comprou em 2023, incorporando por essa via quintas e vinhos nos Verdes, no Dão e na Bairrada, faziam-se no mercado nacional, mas o gigante do vinho do Porto faz “94%” das suas vendas lá fora. Os canais de distribuição e a oportunidade já lá estavam. Era apenas lógico que fosse essa a estratégia comercial para os vinhos tranquilos.
Os terroirs que a Fladgate passou a trabalhar, sob a batuta de Raul Riba D’Ave, são verdadeiras jóias. E os vinhos que esses terroirs dão à garrafa estão num patamar premium — na prova mais alargada do portefólio que a Fladgate promoveu no início do Verão, impressionaram-nos, para além do Principal, os Loureiros (Eminência e Royal Palmeira) e os espumantes Colinas, em que a soma de castas (Chardonnay e Pinot Noir), solo calcário e enologia / condições de vinificação se revela virtuosa.
O Principal Grande Reserva 2013 é filho de um terroir abençoado e de um ano que Raul Riba D’Ave considera “um clássico mais” — em parte porque a Cabernet Sauvignon, a maior parte do lote, “amadureceu na perfeição”.
Um dos segredos deste vinho, que o enólogo e gestor apresentou como “uma espécie de superportuguês”, numa alusão à categoria dos Super Tuscans, é precisamente o berço calcário. Ainda antes de Carlos Dias, foi Sílvio Cerveira quem comprou, escolhendo a dedo, as melhores parcelas naquelas Colinas, todas “ricas em calcário” — “a inspiração era Bordéus” —, conta Riba D’Ave.
Os outros segredos são a alta densidade de plantação — 6.175 plantas por hectare, quando “a norma na Bairrada é ter 4.000 pés por hectare” —, o facto de a vinha estar em sequeiro e, claro, a enologia de Pascal Chatonnet.
De um rubi que engana o (ou apesar do) tempo, este Principal de 2013 é um tinto fabuloso, com fruta preta, fresca, as típicas notas verdes do Cabernet Sauvignon — que representa 45% do lote, com a Touriga Nacional a valer 35% —, um pimento muito subtil, e um lado especiado (com a fruta sempre por cima). Na boca, destacam-se a sua profundidade e concentração, o seu tanino poeirento, granulado, uma acidez vibrante e um final muito comprido.
Já foi anunciado o lançamento provável de outras duas colheitas até ao final deste ano: o 2014, que irá sobretudo para o mercado internacional, e o 2015, para distribuir cá dentro. Porque essa é outra diferença em relação ao passado: a Fladgate quer ter no mercado várias colheitas do mesmo vinho em simultâneo, valorizando as mais antigas.
Provámos o Principal Grande Reserva 2009 (143 euros; e o produtor ainda tem umas 2.000 garrafas), que quando saiu para o mercado, em 2013, recebeu as melhoras críticas. Estava simplesmente fantástico, cheio de garra, ainda com muita fruta, concentração e um retronasal profundíssimo. Tão fantástico, que nos perguntamos se o 2013 será um dia assim. Terá vida longa, isso parece ser certo, e parece-nos que será igualmente grande, embora diferente.
Nome Principal Grande Reserva Tinto 2013
Produtor The Fladgate Partnership
Castas Cabernet Sauvignon (45%) e Touriga Nacional (35%)
Região Bairrada
Grau alcoólico 14,4%
Preço (euros) 110 (PVP recomendado)
Pontuação 96
Autor Ana Isabel Pereira
Notas de prova Sem ponta de granada na cor, só por aí parece um vinho mais jovem. Fruta preta, fresca, as típicas notas verdes do Cabernet Sauvignon, um pimento muito subtil, e um lado especiado. Na boca, profundidade e concentração, um tanino poeirento, granulado, uma acidez vibrante e um final muito comprido. Um grande vinho, com muita vida ainda pela frente.