Aumento da violência entre Israel e Hezbollah prenuncia “catástrofe iminente”
Escalada acontece menos de 48 horas depois de um ataque aéreo israelita que matou 37 pessoas num subúrbio da capital libanesa, incluindo comandantes do Hezbollah e civis.
Em poucos dias, na última semana, a alta tensão na fronteira entre o Sul do Líbano e o Norte de Israel, que se arrasta há quase um ano e faz temer um alargamento do cenário de pesadelo em Gaza a todo o Médio Oriente, entrou numa fase ainda mais perigosa e imprevisível. Neste domingo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, prometeu fazer "tudo o que for necessário" para pôr fim aos ataques com rockets e mísseis do Hezbollah, e o n.º 2 do movimento libanês, Naim Qassem, disse que Israel vai ser atacado "de onde não espera".
Numa reacção aos desenvolvimentos mais recentes, a coordenadora da missão das Nações Unidas no Líbano, Jeanine Hennis-Plasschaert, disse, num comunicado, que a região "está à beira de uma catástrofe iminente", e voltou a afirmar que "não existe nenhuma solução militar que permita devolver a segurança aos dois lados".
No mesmo sentido, o alto representante da União Europeia para a Política Externa, Josep Borrell, disse que os países europeus estão "extremamente preocupados com a escalada no Líbano" e apelou a "um cessar-fogo imediato".
Escalada de violência
As declarações dos dirigentes são conhecidas após cinco dias de ataques sem precedentes entre os dois lados desde Outubro de 2023, quando Israel lançou a sua ofensiva contra o movimento palestiniano Hamas, em Gaza, em resposta aos ataques de 7 de Outubro em território israelita.
Nessa altura, o Hezbollah — um grupo apoiado pelo Irão e com fortes ligações ao Hamas — iniciou uma campanha de lançamento de rockets e mísseis em direcção ao Norte de Israel, e desde então os dois lados têm-se atacado mutuamente. A situação agravou-se na última semana, depois de um ataque — atribuído a Israel, mas até agora não reivindicado pelas autoridades do país — que provocou a explosão de milhares de pagers e walkie-talkies usados por membros do Hezbollah, no Líbano.
Na sexta-feira, a aviação israelita bombardeou a capital do Líbano, Beirute, matando quatro dezenas de pessoas, incluindo três crianças e sete mulheres, e vários comandantes do Hezbollah — incluindo um dos seus principais líderes, Ibrahim Aqil.
Já neste domingo, Israel levou a cabo o bombardeamento mais intenso no Sul do Líbano em quase um ano de guerra na região, com cerca de 400 ataques em poucas horas, e o movimento libanês reivindicou a autoria de 140 ataques com rockets e mísseis contra alvos militares no Norte de Israel.
Numa reacção ao agravamento da situação, o Governo israelita encerrou as escolas e restringiu ajuntamentos em muitas zonas do Norte do país e nos montes Golã, um território sírio ocupado por Israel desde 1967.
As sirenes israelitas soaram durante toda a noite, quando vários rockets e mísseis foram disparados a partir do Líbano e também do Iraque, pela Resistência Islâmica — uma rede de grupos iraquianos apoiada pelo Irão —, a maior parte dos quais foi interceptada pelos sistemas de defesa aérea de Israel.
Os media israelitas noticiaram que vários edifícios foram atingidos directamente ou pela queda de destroços de mísseis, e os serviços de socorro disseram ter tratado "alguns feridos ligeiros". Não há registo de mortes nem de ferimentos com gravidade.
O Hezbollah disse ter visado a base aérea israelita de Ramat David com dezenas de mísseis, em resposta ao "repetido ataque israelita contra o Líbano", segundo disse o grupo no seu canal do Telegram, na madrugada deste domingo.
Os sucessivos lançamentos de rockets pelo Hezbollah contra Ramat David, nas últimas horas, constituem o ataque mais profundo em território israelita que o grupo reivindicou desde o início das hostilidades.
Hezbollah "sofreu golpe justo"
O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse estar preocupado com a escalada, mas afirmou que o assassínio, por Israel, de um dos principais líderes do Hezbollah foi um "golpe justo" contra o movimento, que Washington considera ser uma organização terrorista.
"Embora o risco de escalada seja real, acreditamos que existe também um caminho distinto para chegar ao fim das hostilidades e a uma solução duradoura, que faça com que as pessoas de ambos os lados da fronteira se sintam seguras", disse Sullivan.
O primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, cancelou uma viagem planeada à Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.
O Hezbollah afirmou que continuará a lutar contra Israel até que o país aceite um cessar-fogo na guerra contra o Hamas, em Gaza. As autoridades dos EUA dizem que é pouco provável que isso aconteça em breve — Israel quer que o Hezbollah cesse fogo e retire forças da região fronteiriça, aderindo a uma resolução da ONU assinada com Israel em 2006, independentemente de qualquer acordo sobre Gaza.
Antecipando uma retaliação, os militares israelitas restringiram as reuniões e elevaram o nível de alerta para os residentes das comunidades do Norte do país. O alerta estendeu-se até ao Sul da cidade costeira de Haifa, sinalizando que Israel pensava que o Hezbollah poderia atacar mais profundamente do que tem feito desde o início da guerra com o Hamas.
O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant — que, na semana passada, tinha anunciado "uma nova fase" na guerra na fronteira —, disse que "a sequência de acções na nova fase continuará até que o objectivo seja alcançado: o regresso seguro dos residentes do Norte [de Israel] às suas casas".
No final de uma cimeira organizada pelo Presidente dos EUA, Joe Biden, com os líderes do Japão, da Índia e da Austrália, foi sublinhada a necessidade de se evitar que a guerra em Gaza "se agrave e se espalhe pela região".