Trump ferido em ataque a tiro em comício. Biden condena violência “doentia”

Candidato presidencial republicano encontra-se fora de perigo. Presumível autor dos disparos foi abatido. Presidente norte-americano Joe Biden condena acto de violência.

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Donald Trump é atingido a tiro numa orelha e está fora de perigo Reuters, Joana Bourgard
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Donald Trump, ex-Presidente dos Estados Unidos e candidato às eleições de Novembro, ficou ferido num ataque a tiro, este sábado, num comício em Butler, na Pensilvânia. O republicano foi imediatamente escoltado e retirado do palco por elementos dos serviços secretos, com sangue na orelha direita. Trump recebeu assistência médica e encontra-se fora de perigo, informa fonte oficial da sua campanha.

Registam-se duas mortes na sequência do ataque: um apoiante de Trump que assistia ao comício e o presumível atirador, abatido pelos serviços secretos. O suspeito, cuja identidade ainda não foi divulgada, estava no telhado de um edifício próximo do palco, mas fora do perímetro de segurança do comício, na posse de uma arma automática do tipo AR.

Numa conferência de imprensa realizada às 00h locais (05h em Portugal continental), responsáveis do FBI, dos Serviços Secretos e da polícia estadual da Pensilvânia confirmaram a abertura de uma investigação por tentativa de homicídio de um ex-Presidente. As autoridades disseram estar ainda a apurar a identidade do atirador, desconhecendo os motivos do ataque, e afastaram a possibilidade de envolvimento de outros indivíduos.

O incidente acontece a dois dias do arranque da convenção republicana em Milwaukee, no estado do Wisconsin, onde Trump será oficialmente nomeado como candidato presidencial do partido. De acordo com a campanha de Trump e a direcção do partido, a reunião magna dos republicanos, que começa na segunda-feira, não deverá ser cancelada.

'Senti uma bala rasgar-me a pele'

Cerca de duas horas após o ataque, Trump reagiu através da rede social Truth Social: "Quero agradecer aos Serviços Secretos dos Estados Unidos, e todas as forças da autoridade, pela sua rápida resposta ao tiroteio que teve lugar há momentos em Butler na Pensilvânia. Mais importante, quero endereçar condolências à família da pessoa que foi morta no comício, e também à família de outra pessoa que ficou gravemente ferida."

"É incrível que um acto destes possa acontecer no nosso país. Nada se sabe neste momento sobre o atirador, que está morto. Fui atingido por uma bala que perfurou a parte superior da minha orelha direita. Soube imediatamente que algo errado se passava quando ouvi um silvar, tiros, e senti imediatamente uma bala rasgar-me a pele. Havia muito sangue, e percebi então o que estava a acontecer. Deus abençoe a América!", escreveu Trump.

Vídeos e excertos de transmissões televisivas partilhados nas redes sociais mostram o momento em que o som de disparos é ouvido, com vários elementos dos serviços secretos a correr para o palco e a rodear Trump. Após os disparos, e escudado por agentes dos serviços secretos, o candidato dirigiu-se à multidão com um punho erguido e a cara ensanguentada.

A comitiva de Trump saiu posteriormente do local do comício a grande velocidade.

Butler, a cerca de 50 quilómetros a norte de Pittsburgh, é um bastião republicano na Pensilvânia, um dos estados considerados decisivos para o desfecho das presidenciais de Novembro.

Biden condena ataque e falou com Trump

O actual Presidente norte-americano e adversário de Trump nas próximas eleições, o democrata Joe Biden, reagiu a partir do Delaware. “Não há lugar para este tipo de violência na América. É doentio”, disse.

"Estou a rezar por ele [Trump], pela sua família e por todos os que estavam no comício, num momento em que aguardamos por mais informações", escreveu ainda o Presidente norte-americano na rede social. Mais tarde, a Casa Branca informou que Biden falou com Trump por telefone, desconhecendo-se de momento o conteúdo da conversa.

A campanha de Biden indicou entretanto que suspendeu temporariamente todos os seus anúncios na imprensa e nas redes sociais.

Republicanos responsabilizam retórica democrata

Entre os republicanos, e para além das declarações de solidariedade para com Trump e as vítimas do ataque, surgem vozes a responsabilizar indirectamente os adversários democratas. "A premissa central da campanha de Biden é que o Presidente Donald Trump é um fascista autoritário que tem de ser travado a todo o custo. Essa retórica levou directamente à tentativa de assassinato do Presidente Trump", escreveu nas redes sociais J.D. Vance, senador do Ohio e um dos nomes apontados como possíveis escolhas de Donald Trump para concorrer à vice-presidência.

Steve Scalise, congressista da Luisiana, líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes e ele próprio sobrevivente de um tiroteio em 2016, acusou o Partido Democrata de "alimentar uma histeria ridícula" em torno de Trump. No mesmo tom, escreveu Stephen Miller, conselheiro de Trump: "A mensagem inteira da campanha do Partido Democrata é a mentira vil e monstruosa de que Trump e o Partido Republicano estão a tentar acabar com a democracia. Esta mentira gigantesca, este veneno sinistro, este ódio e difamação terríveis têm de parar."

Mais suaves foram as reacções do senador da Florida Marco Rubio e do governador do Dacota do Norte Doug Burgum, também estes entre as possíveis escolhas para a vice-presidência. “Sabemos todos que o Presidente Trump é mais forte do que os seus inimigos. Mostrou-se isso hoje”, escreveu Burgum.

Democratas condenam violência, Obama pede civilidade e respeito

Mas também foi célere a reacção do campo democrata. Para além de Biden, a vice-presidente Kamala Harris declarou-se "aliviada" por saber que Trump não ficou gravemente ferido e condenou o acto de violência. "Devemos todos condenar este acto deplorável e fazer a nossa parte para garantir que isto não conduz a mais violência", afirmou Harris.

Barack Obama, antigo Presidente dos Estados Unidos, apelou a que o momento seja utilizado para "reassumirmos um compromisso com a civilidade e o respeito na política". Bernie Sanders, senador independente do Vermont e antigo candidato à nomeação presidencial dos democratas, declarou que a "violência política é absolutamente inaceitável". A congressista Alexandria Ocasio-Cortez desejou "rápidas melhoras" a Trump.

Repúdio internacional

Multiplicam-se também as reacções internacionais. Através de um porta-voz, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou o "acto de violência política". Kier Starmer, recém-empossado primeiro-ministro do Reino Unido, disse-se "chocado". Justin Trudeau, primeiro-ministro canadiano, declarou-se "agoniado". O Presidente brasileiro Lula da Silva, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, o chefe do Governo israelita Benjamin Netanyahu e a Presidente-eleita do México Claudia Sheinbaum, entre outros, convergiram na condenação do atentado.

De nota também a reacção de Elon Musk. O CEO da Tesla e dono da influente rede social X, que garantira antes não apoiar qualquer candidato presidencial norte-americano, mudou de discurso esta noite.

“Apoio completamente Trump e espero que recupere rapidamente”, escreveu numa publicação no antigo Twitter.

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