Outra casa desmoronou e caiu no mar em Rodanthe, na Carolina do Norte, a comunidade de Outer Banks onde a subida do mar e a erosão implacável têm reclamado um número crescente de casas e forçado alguns proprietários a tomar medidas drásticas para se retirarem da orla marítima.
O Serviço Nacional de Parques, que gere o Cape Hatteras National Seashore, informou que uma casa desocupada no número 24131 da Ocean Drive terá desabado por volta das 2h30 de terça-feira.
O desaparecimento da casa de cinco quartos, que, segundo os registos do condado, estava de pé desde 1970, faz dela a sexta casa a cair ao longo daquela parte da costa nacional nos últimos quatro anos, segundo a agência.
“Mais uma que se desfez”, disse David Hallac, superintendente do Cape Hatteras National Seashore, numa entrevista. E provavelmente não será o último, uma vez que muitas casas na zona estão perigosamente perto das ondas. “Esta situação vai continuar.”
Tal como aconteceu com outras casas que sofreram um destino semelhante, o colapso de terça-feira levou as autoridades a fechar uma extensão de cerca de um quilómetro de praia ao público enquanto se iniciava a limpeza. Devido ao vento e às marés, os restos das casas caídas podem estender-se por quilómetros ao longo da costa.
Limpeza da área
“Podem estar presentes detritos perigosos na praia e na água”, disse o porta-voz do Serviço de Parques, Mike Barber, num comunicado. “Poderão ser necessários encerramentos adicionais da praia à medida que os detritos se espalham e os esforços de limpeza prosseguem.”
Hallac disse que o Serviço Nacional de Parques enviou 49 funcionários para o local para ajudar a iniciar a limpeza, incluindo funcionários que normalmente atendem telefones, fazem contabilidade e gerenciam as instalações do acampamento.
“Se não o fizermos, estaremos a aceitar o facto de que estes detritos continuarão a espalhar-se por muitos quilómetros”, disse. “É preciso começar a limpeza imediatamente, caso contrário torna-se uma limpeza quase inatingível no futuro.”
Hallac disse que, ao longo da praia, viu muitas tábuas com pregos espetados, além de pedaços de placas de gesso (pladur), colchões, utensílios de cozinha, peças de xadrez e dominós.
“Isto sublinha a ideia de que tudo o que estava naquela casa está agora espalhado por todo o lado”, disse ele, acrescentando que os trabalhadores removeram dezenas de camiões de escombros na terça-feira.
Propriedades vulneráveis
O último desmoronamento de uma casa em Rodanthe é menos uma surpresa do que apenas mais um lembrete de quão vulneráveis são muitas propriedades nesta pequena comunidade, que é o lar de algumas das mais rápidas taxas de erosão e subida do nível do mar na Costa Leste. Os mares perto de Rodanthe subiram 11,6 centímetros desde 2010, de acordo com uma análise do Washington Post.
Noah Gillam, director de planeamento do condado de Dare, disse que a casa em Ocean Drive tinha sido “desclassificada para ocupação” desde o início de 2022 porque já não tinha um sistema séptico funcional.
“A erosão impediu-os de restabelecer um sistema séptico”, explicou Gillam num email. Noah Gillam disse ainda que, nas últimas semanas, a casa começou a mostrar sinais de que algumas das suas estacas estavam a falhar e começou a inclinar-se.
“Notificámos os proprietários das nossas observações e pedimos-lhes que se preparassem para ter um empreiteiro de prontidão para o caso de a casa ruir”, disse Gillam.
Os proprietários da casa, que foi vendida pela última vez em 2021 por 500 mil dólares [cerca de 460 mil euros], não puderam ser contactados imediatamente para comentar. Mas os registos públicos sugerem que o declínio do seu valor nos últimos anos. Em 2005, foi avaliada em 687 mil dólares [cerca de 630 mil euros], de acordo com os registos do Condado de Dare. O valor de avaliação mais recente foi de 185 mil dólares [cerca de 170 mil euros].
Mudar a casa de sítio?
A invasão do mar ao longo desta faixa da Carolina do Norte deixou dezenas de proprietários de casas a braços com uma situação semelhante.
Alguns não conseguiram actuar antes de as suas casas cederem, fazendo desaparecer o seu investimento pessoal no oceano, criando um perigo para a segurança pública e para o ambiente e, em última análise, deixando-os financeiramente a cargo da limpeza.
Outros esforçaram-se por mudar as suas casas para o interior, afastando-as das ondas - uma proposta que pode custar centenas de milhares de dólares e que, em muitas causas, pode não dar muito tempo.
No lugar das casas nascem praias
Outros ainda, no Outono passado, concordaram em vender as suas casas de férias precariamente empoleiradas ao Serviço de Parques, que, depois de gastar mais de 700 mil dólares [645 mil euros] pelas casas salpicadas de sal, prontamente as demoliu e transformou a área numa praia pública.
“Será uma praia mais segura”, disse Hallac na altura, acrescentando que planeia explorar a possibilidade de aumentar esta abordagem numa área onde as fortes tempestades e as areias movediças significam que muitas casas estão à beira do colapso.
Alguns residentes têm argumentado que as autoridades locais e o Serviço de Parques deveriam tomar medidas mais agressivas para proteger a linha costeira em rápida erosão e os residentes que vivem perto dela. Mas, ao mesmo tempo, não há respostas fáceis, e alguns funcionários dizem que aqueles que vivem perto da água devem aceitar uma medida de responsabilidade.
“Se se vai comprar na orla marítima, é uma questão de sorte”, disse o comissário do condado de Dare, Danny Couch, ao The Post durante uma visita no final de 2022. “Sempre foi assim e sempre será”.
Uma avaliação de engenharia realizada pelo condado no ano passado descobriu que o tipo de alimentação extensiva da praia que muitos residentes desejam para a área custaria até 40 milhões de dólares [36 milhões de euros]. A manutenção dessa praia durante 30 anos custaria mais de 175 milhões [161 milhões de euros], segundo o relatório.
Em comparação, o saldo do fundo de alimentação das praias do condado de Dare, que provém de um imposto sobre hotéis e alugueres para férias e que tem de ser aplicado em vários projectos no extenso condado, era de cerca de 6 milhões de dólares [5,5 milhões de euros] na altura – o que significa que, na ausência de um grande lote de financiamento do estado ou do governo federal, não parece iminente qualquer alimentação das praias na comunidade.