O celeiro da Grécia tenta erguer-se da lama
O Ciclone Daniel inundou em 2023 mais de 14 mil hectares na planície da Tessália, afectando 30 mil agricultores. O PÚBLICO visitou explorações destruídas onde ainda se tenta refazer vidas.
Eirini Christina Spanouli, de 33 anos, e o pai, Kostas Spanoulis, de 62, ainda não recuperaram completamente da devastação — e do choque — sofridos com a tempestade Daniel que, entre 3 e 8 de Setembro de 2023 e após uma longa vaga de calor, varreu o seu amendoal na freguesia de Glafki, município de Larissa, na região da Tessália, a 200 quilómetros de Salónica, a segunda maior cidade da Grécia.
Esta extensa e, por estes dias, verdejante planície fica no âmago de um anel montanhoso, a leste da bacia que corre da cordilheira de Pindo do Sul da Macedónia do Norte até ao mar Egeu. Irrigada pelo rio Pineios e pelos seus múltiplos afluentes, é considerada o celeiro da Grécia e é responsável por 25% da produção agrícola do país (cereais, vinho, frutas, algodão, entre outras produções), de acordo com o Instituto Nacional de Estatística local (INEG).
As persistentes chuvas torrenciais daqueles dias de Setembro — que se repetiram com a tempestade Elias no fim do mesmo mês — fizeram com que, numa parte da Karpologio, uma organização de “14 apaixonados produtores” na maioria abaixo dos 40 anos a que preside Kostas Spanoulis, a água tivesse atingido “um metro e meio de altura”.
“Só de barco conseguíamos lá entrar” e, nas semanas que se seguiram, a contabilidade foi dura de fazer. “Tivemos mais de 4000 galinhas afogadas”. Apenas dez aves sobreviveram à intempérie porque “conseguiram subir a umas traves”, conta a Eirini Christina. É a única filha de Kostas, licenciada em Gestão e com um MBA (master of business administration) pela Universidade de Atenas e, a 27 de Novembro, dois meses após este ciclone tropical mediterrâneo, foi galardoada com o primeiro prémio EIT Food na Grécia.
“O nível da água demorou uma semana a baixar.” Quando veio a acalmia e foi possível desbravar terreno e aproximarem-se dos galinheiros e da zona onde estava instalada a central de energia solar, o cenário era “devastador”. Além do prejuízo das aves mortas e do imenso lamaçal e detritos que dificultavam a circulação, até de pick-up, havia “árvores arrancadas”, outras tinham sido “levadas pela enxurrada e pelo vento” e os “painéis fotovoltaicos ficaram praticamente destruídos”. “Andámos até Dezembro a limpar e a retirar material danificado e estamos agora a instalar novos painéis”, conta a jovem gestora, mostrando ao fundo as estruturas metálicas retorcidas e enferrujadas.
No amendoal, “há campos que ficaram muito tempo alagados”. E há amendoeiras que “aparentemente não foram destruídas, mas as raízes apodreceram com o excesso de hidratação, o que as impede de suportar a mesma carga de amêndoas”. Terão de ser arrancadas e dar lugar a novas plantas, diz Eirini Christina.
Nesta exploração agrícola com perto de 15 hectares onde antes cultivavam cereais e legumes e que em 2016 foi transformada num moderno amendoal intensivo — 1350 árvores e nove toneladas de amêndoas por hectare e com irrigação artificial movida a energia eólica —, não usam pesticidas. Os dejectos das galinhas são “o único fertilizante, orgânico”. As aves são libertadas durante o dia para os campos, onde se alimentam, numa combinação entre “equilíbrio ambiental e biodiversidade”. Além da produção de amêndoas, que descascam e embalam numa unidade fabril de primeira transformação montada na antiga casa dos avós de Eirini Christina, também recolhem e comercializam ovos, carne das aves e mel.
“Infelizmente, a produção do ano passado foi próxima de zero”, explicou Eirini Christina aos jornalistas. Março de 2023 tinha sido “inesperadamente quente”, o que levou as árvores a florescer completamente, mas seguiu-se um período de temperaturas muito baixas que levaram ao “congelamento” dos frutos. Foi “o suficiente para destruir uma percentagem significativa de produção de amêndoa”.
As cheias em Setembro, na altura das colheitas, fizeram o resto. “A tempestade Daniel impossibilitou o acesso, a entrada [nos campos] e a colheita. Foi o pior ano de sempre para todos os membros da nossa equipa devido à vulnerabilidade desta crise climática”, relatou a empresária.
Apoio de 43,1 milhões de euros da UE
“Continuamos optimistas, sorrimos e trabalhamos arduamente para recuperar”, contou ao PÚBLICO a jovem gestora, enquanto caminhávamos em direcção aos galinheiros entretanto reconstruídos e onde agora guardam as 3000 galinhas que já lograram repor. Tinha chovido com alguma intensidade nas 24 horas que antecederam a visita da delegação de 15 jornalistas de outros tantos Estados-membros da União Europeia (UE) e mais quatro jornalistas gregos locais, organizada pela Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural da Comissão Europeia (DGAgri), o que nos obrigou a contornar constantemente os charcos de água. A lamacenta terra molhada, “muito fértil” e também “muito disputada” naquela região, e as ervas que calcámos no caminho agarraram-se, qual cola, às solas das botas.
A Karpologio, como outros produtores agrícolas na planície, foi afectada duas vezes no mesmo mês pelas cheias dos ciclones Daniel e Elias. O apuramento final dos prejuízos, esse só vai ficar definitivamente fechado pelas entidades governamentais gregas este mês de Maio. Foi-lhes pago “nos primeiros dias” um primeiro apoio de 2000 euros. “A maioria de nós também solicitou um segundo montante fixo de 10 mil euros por produtor”, dada a extensão dos danos. “Espera-se que também seja pago”, frisa Eirini Christina.
"Até agora não recebemos nenhum pagamento adicional. Portanto, ainda estamos com o primeiro reembolso de 2000 euros por produtor. A previsão é que [o restante apoio] seja pago até o final de Junho. Penso também que o montante total será quantificado após a conclusão das visitas in loco. No nosso caso, foi feita a visita in loco e foram confirmadas todas as perdas e danos que declarámos. Para ser honesta, este é um projecto enorme para o governo, devido à extensão dos danos em toda a região da Tessália. Por outro lado, não podemos negar que, até agora, já cobrimos [os prejuízos] com uma grande quantidade do nosso próprio capital privado para voltar a cultivar [as terras] e ter colheitas para este ano".
Os serviços da Região da Tessália estão, entretanto, na fase final do processo de verificação da segunda fase dos apoios às explorações agrícolas e pecuárias afectadas pelo ciclone Daniel. De acordo com a imprensa local, só na região de Larissa foram apresentados 15.857 pedidos de ajuda. Até agora foram realizadas 9296 verificações in locco e já foram validados 6246 beneficiários para receberem pagamento, restando ainda 924 pedidos em avaliação.
Alertado para a devastação na agricultura causada pelos fenómenos climáticos extremos que assolaram várias regiões da Grécia (e da Turquia e da Bulgária), o comissário Europeu da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Janusz Wojciechowski, deslocou-se à região no dia 23 de Outubro. Sobrevoou de helicóptero a Tessália, para melhor se inteirar dos danos.
“A destruição vai além do que imaginei e de tudo o que vi nas fotografias que me foram mostradas”, disse Wojciechowski, citado pela imprensa local. “Farei tudo o que estiver ao meu alcance para garantir os apoios disponíveis. Estou ao vosso lado”, acrescentou o comissário, dirigindo-se aos agricultores e dando conta de que o ministro grego da Alimentação e Desenvolvimento Rural, Lefteris Avgenakis, e o primeiro-ministro, Kyriakos Mitsotakis, já tinham tomado “medidas imediatas” para mobilizar o apoio da UE.
A 23 de Novembro, a Comissão Europeia anunciou um apoio de 43,1 milhões de euros à Grécia, para mitigar os efeitos das catástrofes naturais que, em 2023, afectaram numerosas explorações agrícolas do país, mas o dinheiro ainda não chegou na totalidade aos agricultores.
Cada produtor agrícola afectado documentou como pôde e declarou as suas perdas (produção agrícola, árvores e plantas arrancadas ou danificadas, equipamentos, maquinaria, entre outros), que deverão ser verificados pelas autoridades competentes numa próxima visita ao campo. Fonte da DGAgri que acompanhou os jornalistas nesta visita à Tessália explicou que “a conclusão [da avaliação dos prejuízos] está prevista até o final de Junho”. Só então serão pagos, através do Ministério da Agricultura grego, os restantes apoios, em função do prejuízo efectivo de cada agricultor.
Produção de algodão destruída
A extensa planície da Tessália foi a área mais atingida pelos fenómenos climáticos extremos em 2023, particularmente pela tempestade Daniel, no início de Setembro. Para além de gado afogado e de colheitas inteiras de cereais, tomate e frutas variadas destruídas, a produção de algodão, importantíssima para o país e uma das suas principais exportações (sobretudo para a Turquia, 58%), foi das mais afectadas. Quase 70% da colheita ficou danificada pelas inundações e a quebra na produção situou-se entre os 50 e os 60%, o que, por sua vez, originou uma redução global de 15 a 20% desta importante matéria-prima na Grécia.
Actualmente, o algodão é cultivado em apenas três países da UE. A Grécia é o principal produtor, representando 80% do total da superfície europeia cultivada (320 mil hectares), de acordo com os números da Comissão Europeia. As cápsulas são colhidas mecanicamente e, na Grécia, o seu produto final é reconhecido pela elevada qualidade em termos de comprimento e micronaire (medida do diâmetro da fibra e indicador da sua resistência).
O algodão na Grécia é plantado de Março a Abril e o ciclo de vida da cultura oscila entre os 170 e os 210 dias. A colheita faz-se em Outubro e Novembro. Em 2020, o país foi reconhecido como Better Cotton Standard e 11 grupos empresariais agrícolas — abrangendo cerca de 30 mil hectares plantados e 4000 agricultores — obtiveram a certificação Agro-2.
Para além da Grécia, Espanha é outro grande produtor, sobretudo na região da Andaluzia, com 20% da área plantada da UE. A Bulgária ocupa menos de 1000 hectares com a produção desta cultura arvense.
No mundo, o algodão sustenta 28,67 milhões de produtores e beneficia mais de 100 milhões de famílias em 75 países, desempenhando um papel fundamental no seu desenvolvimento económico, no comércio internacional e na redução da pobreza. Um estudo recente da consultora Mordor Intelligence revela que o mercado europeu de algodão em 2024 está estimado em 8,08 mil milhões de dólares americanos e deverá atingir os 10,27 mil milhões até 2029.
Na UE, embora o algodão represente menos de 0,2 % do valor da produção agrícola, tem grande importância à escala regional nos principais países da União que são produtores. É utilizado principalmente na produção de fibras, sendo um material prático, versátil, durável, macio, respirável e biodegradável. A semente do algodão, que permanece após o algodão ser descaroçado, é utilizada na produção de óleo destinado ao consumo humano e a bagaço de oleaginosas, para a alimentação animal.
Dos 250 mil hectares de algodão cultivados em toda a Grécia, aproximadamente 80 mil (32%) estão localizados na Tessália. Desses 80 mil hectares, 27 mil localizam-se em Larissa, localidade que o PÚBLICO visitou no final de Abril.
Giorgios Karanikas, de 33 anos, agrónomo, que herdou uma exploração agrícola (35 hectares) do avô na qual produz 12 hectares de algodão desde 2017, perdeu tudo em Setembro do ano passado. “A nossa produção ficou completamente destruída pelas chuvas torrenciais, os campos ficaram todos inundados”, contou aos jornalistas, emocionado, conduzindo-nos pelos caminhos enlameados, apontando para a terra ressequida, gretada pela seca apesar das chuvas das últimas horas e mostrando o que resta das plantas e das cápsulas de algodão, estraçalhadas, no chão.
“Foi um choque psicológico, que se repetiu no final do mês”, com novas chuvadas da tempestade Elias, explica Giorgios, que ainda não encontrou forças, nem capital financeiro, para retomar a actividade. “Não consigo explicar os sentimentos. A primeira impressão com que fiquei depois da tempestade foi que não íamos conseguir recuperar. Espero conseguir cultivar estas terras de novo em 2025”, desabafou.
A sua exploração de algodão, localizada em Chalki, uma freguesia de Larissa, na planície da Tessália, recebeu um primeiro apoio financeiro de 1400 euros por hectare, tal como os restantes produtores desta cultura, através do ELGA, um sistema de seguros agrícolas. A 23 de Novembro, o Governo da Grécia anunciou uma compensação aos produtores de algodão afectados no montante de 2017,4 euros por hectare.
PEPAC da Grécia apoia algodão
Ciente das “muito más condições meteorológicas” verificadas na Grécia em 2023 com as tempestades Daniel e Elias, o Governo grego aprovou uma medida de intervenção específica, no âmbito do plano estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC 2023-2027), que visa “fortalecer a sustentabilidade e a competitividade do cultivo do algodão”. Foi decidida a concessão de um apoio da superfície de algodão elegível no montante de “733,98 euros/hectare para uma área base de 250 mil hectares”, dentro de um “orçamento total de 184 milhões de euros”.
Maria Partalidou, professora associada na Escola de Agricultura da Universidade Aristóteles de Salónica, a maior da Grécia, falou ao PÚBLICO acerca dos danos na produção agrícola causados pelas intempéries de Setembro e sobre a forma como os programas AKIS (Sistema de Conhecimento e Inovação Agrícola) e LEADER responderam aos agricultores afectados.
Para esta investigadora, que participou em Salónica num encontro com os jornalistas convidados para esta viagem de trabalho à planície grega da Tessália, a criação de um Sistema de Conhecimento e Inovação Agrícola (AKIS) eficaz na Grécia “foi uma das prioridades do novo Plano Estratégico da PAC”. Mas este tipo de mecanismo nem sempre funcionou bem, assume Maria Partalidou, admitindo que, antes, era “fragmentado e ineficaz”.
“Esta lacuna ficou evidente nos últimos anos e em todas as crises, não apenas durante a tempestade Daniel que o país enfrentou”. Referia-se às crises vividas com “a invasão da Ucrânia, os incêndios, as enchentes, a crise económica e a crise climática”. A professora universitária admite até que “os agricultores eram deixados a ‘jogar bowling’ sozinhos sem nenhum serviço de aconselhamento/extensão para lidar com as ameaças e sem um plano nacional resistente aos desastres que se pudessem seguir”.
Mas, “uma vez estabelecido o AKIS, a minha opinião é que o conhecimento técnico, que é bem produzido nas universidades e nas instituições de investigação, será disseminado e os agricultores serão mais bem formados para lidar com os desastres actuais e mais resistentes na adaptação das suas estruturas agrícolas para não perderem rendimentos”, afirma a professora universitária.
Por sua vez, o programa LEADER é também “uma ferramenta para o futuro”, garante a investigadora da Universidade de Salónica. “Ao longo do novo período de programação, pequenos projectos a nível local, financiados pelo LEADER/DLBC, darão às zonas rurais a oportunidade de criar pequenas coberturas antifluxo e vegetais.”
Sistema AKIS dá know-how aos agricultores
O PÚBLICO ainda questionou Maria Partalidou sobre que apoio podem as universidades fornecer aos agricultores para os ajudar a reconstruir as explorações agrícolas e a adoptar formas de produção mais eficientes. A professora da Universidade de Salónica garante que “as universidades na Grécia possuem todo o conhecimento e resultados de investigação que podem oferecer um conjunto de soluções para os agricultores reconstruírem as suas explorações agrícolas” e serem “mais eficientes”.
Maria Partalidou não tem dúvidas: “Temos um dos departamentos agrícolas mais bem classificados da Europa”. E, acrescenta, os agricultores e as respectivas associações “contactam-nos para obterem respostas aos seus problemas quotidianos e para terem acesso directo” à investigação ali produzida.
Revelando também que trabalham com muitos agricultores e com grupos de produtores rurais em vários projectos de estudo, a investigadora considera, ainda assim, que “o papel principal das universidades é educar os futuros agrónomos, fornecer-lhes conhecimentos e competências para trabalharem com agricultores (mulheres e homens), criar para (e com) eles rendimentos seguros, meios de subsistência e salvaguardar o ambiente”.
Para Maria Partalidou, “cabe aos decisores políticos a adopção, finalmente, do sistema AKIS para que esse conhecimento, esse know-how e todas as inovações criadas nas universidades sejam difundidas em toda a comunidade agrícola de uma forma sólida e sistemática, sem exclusões”.
Redução drástica de forragem
Em Elassóna, localizada no sopé do icónico monte Olimpo (2917 metros), não se sentiram os efeitos directos das cheias provocadas pelas tempestades Daniel e Elias, mas Michalis Avdanas e a mulher, Catherina Kalliga, ambos veterinários, além de se depararem com uma “parte do telhado caído”, notaram sobretudo as consequências na crescente escassez — e aumento do preço — das forragens com que diariamente alimentam as suas 350 ovelhas de Quios. É do seu leite que é produzido o mundialmente conhecido queijo feta, reconhecido pela Comissão Europeia com Denominação de Origem Protegida (DOP), que se distingue pela cor branca e um ligeiro sabor apimentado e cuja história remonta há 2000 anos.
O curral e respectiva ordenha em Elassóna, que o PÚBLICO visitou, são geridos por este casal desde 2016, após a morte do pai de Michalis. Ali possuem também dez carneiros com “alto valor genético, constantemente melhorado”, que asseguram a renovação do efectivo. Em 2023, recolheram 76 toneladas de leite biológico (460 litros por animal, em média).
Apostados em garantir às suas ovelhas um “progressivo” bem-estar animal, Catherina, que foi mãe há dois meses, e o marido, Michalis, aplicaram em 2021 e, novamente, em 2023 “melhorias ao nível da higiene e das camas” dos animais, assim como “novas funcionalidades” no maneio. “Queremos estar acima dos patamares médios” de bem-estar animal, diz Michalis, revelando que fazem “três ordenhas por dia” e que o próximo passo é “comprar novos tractores” e dotar a ordenha com “equipamento automático”.
Michalis e Catherina vendem o leite das ovelhas da ilha de Quios, maioritariamente destinado à produção do queijo feta, a 1,57 euros. O preço médio deste leite não-biológico anda nos “1,50 euros”, revelou Gkogkos Konstantinos, presidente da Cooperativa Macedónia de criadores de ovinos de Quios, que se juntou à visita dos jornalistas na exploração em Elassóna.
As dificuldades de abastecimento de forragem e o aumento do preço da alimentação animal gerada pela devastação das pastagens na região, em consequência das inundações dos campos agrícolas, causaram prejuízos nas contas finais de 2023. Michalis e Catherina fecharam o ano com receitas de 178 mil euros, mas as despesas ascenderam aos 101 mil euros. A alimentação animal pesou 57% das despesas.
O aumento dos custos de produção sentido após as intempéries, mas que já vinha de trás com a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia, também afectou a produção de fruta na região da Tessália, nomeadamente a de uva de mesa, que Thanassi Lygouras e o seu filho Grigoris produzem (dois hectares, 25 toneladas/hectare) na freguesia de Tyrnavos, município de Larissa. “As produções perto do rio sofreram brutalmente com as chuvas”, explica Grigoris.
Pai e filho exploram um pomar com mais de 30 hectares onde, além das uvas de mesa, produzem cerejas (seis hectares), nectarinas (dez hectares), peras (dez hectares) e pêssegos (cinco hectares). A colheita é vendida para uma cooperativa local e a maior parte é para consumo na Grécia. Apenas “um terço vai para exportação”, nomeadamente “para Israel”, país de onde importaram o sistema rega gota a gota, que fornece a quantidade adequada de água e nutrientes directamente às raízes da planta no momento certo. “Foram os primeiros a instalar este sistema na Grécia”, conta Niko Kalinis, da DG Agri da Comissão Europeia, que acompanhou a visita dos jornalistas.
O negócio da família, agora na mão dos filhos Gregoris (46 anos) e Andreas (36), está “a crescer progressivamente”, assume o pai, Thanassi, mas ergue mais a voz enquanto o filho fala para dizer, exasperado, ao tradutor que explique aos jornalistas: “Precisamos de apoios para suportar o aumento dos custos de produção”, que “quase duplicaram”. Thanassi não esconde a insatisfação: “Nas grandes superfícies, o preço da fruta aumentou para os consumidores, mas continuam a pagar o mesmo aos produtores”.
A jornalista viajou a convite da DG Agri da Comissão Europeia