Na Grécia, “os jovens agricultores não têm esperança”
Ioannis Senko acompanha o pai na produção de abelhas e de mel desde os cinco anos. “A apicultura é a minha vida.” Porém, na Grécia, “os jovens agricultores não têm esperança”.
As cheias causadas pelas chuvas intensas da tempestade Daniel, em Setembro de 2023, que, durante vários dias, assolou a planície da Tessália, a 200 quilómetros de Salónica, a segunda maior cidade da Grécia, afectaram mais de 400 mil hectares de terras, de acordo com informações divulgadas pelo Observatório Nacional de Atenas. Entre as produções agrícolas atingidas estão milhares de colmeias, além de equipamentos apícolas e armazéns, que ficaram destruídos ou gravemente danificados. Mais de 100 mil abelhas morreram em toda a região, cerca de 17.500 só na localidade de Larissa.
Ioannis Senko e o irmão, Dimitris, são a quarta geração de produtores de mel da empresa BeeZeus Apiculture. Licenciado em engenharia mecânica em 2012, Ioannis especializou-se em reproduzir abelhas-rainhas, que vende, “inseminadas ou não conforme o desejo do cliente”, para toda a Grécia. Está inteiramente dedicado à apicultura desde 2017.
Na exploração apícola que gerem na aldeia de Kileler, na vila de Larissa, perderam-se “640 colmeias” das 2400 que possuem e que fazem circular por toda a Grécia para fazer polinização. A perda teve também consequências na produção anual de mel, já de si afectada pelas “condições climáticas muito difíceis” em 2023.
“Foi um dos anos mais difíceis para os apicultores desta região, devido aos incêndios florestais que destruíram as acácias e os carvalhos e outros locais de alimentação das abelhas onde estas recolhiam o pólen e o néctar. Foi tudo destruído. E depois ainda vieram as tempestades Daniel e Elias”, contou Ioannis aos jornalistas estrangeiros durante a visita à sua empresa, organizada pela DGAgri da Comissão Europeia.
Também por isso, os apicultores foram dos mais activos nas manifestações de agricultores gregos que tiveram lugar em finais de Janeiro e em Fevereiro, primeiro em Salónica e depois em Atenas, ao mesmo tempo que milhares de agricultores de vários países europeus também marchavam ruidosamente nas cidades, conduzindo tractores e outras alfaias.
Ioannis ajudou a mobilizar muitos jovens agricultores para as ruas de Atenas. Questionado pelo PÚBLICO à margem da visita à cooperativa de apicultores – Apis Era – que ajudou a fundar com outros 12 produtores, o apicultor confirmou que foi “lutar por menos impostos e por subsídios específicos para apoiar a polinização e medidas de fiscalização para rastrear o mel importado reembalado ilegalmente”.
“A nossa principal reivindicação foi lutar para que possamos receber um rendimento justo pelas nossas produções agrícolas e para que parem com a constante importação de mel. E também exigimos que o mel receba apoios da Política Agrícola Comum e que seja incluído no PEPAC [plano estratégico da PAC] e no respectivo orçamento. Não há subsídios para os apicultores, há subsídios para várias produções e não há para a apicultura. Defendemos que o Governo grego deve implementar um programa específico para apoiar a produção de abelhas e de mel”, disse Ioannis Senko.
Ioannis queixa-se do facto de, na Grécia, ser “proibido aos apicultores levarem as abelhas para as florestas”. Ora, “é impossível não ir para as florestas, os apicultores e as abelhas não vivem sem as florestas”.
“Estamos à espera de ver mudanças” da UE
Acerca das manifestações generalizadas dos agricultores em vários países da União nos últimos meses e sobre a resposta que a Comissão Europeia deu após os protestos em matéria de Política Agrícola Comum (PAC), o sentimento de Ioannis é de desilusão. “Ainda estamos à espera de ver mudanças. Não houve mudanças. Os apicultores ainda não foram incluídos na PAC”, lamenta.
Desiludido com as medidas anunciadas por Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, de flexibilizar o cumprimento de certas obrigações ambientais por parte dos agricultores, nomeadamente com o fim da obrigação de deixar uma parte das terras em pousio e de fazer rotação de culturas, este jovem apicultor não quer saber. “Isso não significa nada”.
Desde os cinco anos de idade que Ioannis Senko acompanha o pai na produção de abelhas e de mel e a apicultura. “Esta é a minha vida, é a minha sobrevivência. Dou formação e apoio a vários jovens apicultores e eles estão sempre a perguntar-me: ‘Ioannis, como é que vou sobreviver com estes preços?’”
No fim, o PÚBLICO perguntou a Ioannis qual é hoje o principal sentimento dos jovens agricultores gregos. “Os jovens agricultores não têm esperança”, disse.