Do granel ao grande boom, 70 anos de Adega do Cartaxo

A Adega Cooperativa do Cartaxo faz 70 anos este mês e lançou um blend especial. Em 2023 facturou quase 11 milhões de euros, ainda assim menos do que em 2022, o “melhor ano de sempre”.

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Nos últimos 20 anos, a Adega do Cartaxo passou de um produtor de granel para encher engarrafados e certificar 100% da sua produção Miguel Madeira
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No laboratório da Adega Cooperativa do Cartaxo está guardado um pequeno tesouro: um álbum de fotografias onde foram colados todos os rótulos de vinhos ao longo dos 70 anos de história da casa. Alguns mais antigos e com nomes sugestivos como o Deslizante, outros mais arrojados, feitos a pensar na exportação, como o Sedução, para o mercado chinês. Depois, há rótulos com logótipos, criados especialmente para eventos, como o Reverence Plexus, desenhado para o antigo festival de rock alternativo e psicadélico Reverence, em Valada, que acabou em 2016.

Desde 1951, quando um “um conjunto de pessoas se reuniu para construir uma cooperativa”, conta o actual presidente, Jorge Antunes, muita coisa mudou na Adega do Cartaxo. A começar pela localização. Quando abriu portas oficialmente, em 1954, a adega cooperativa funcionava nas instalações da antiga Junta Nacional do Vinho, agora Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), na Ribeira do Cartaxo, e tinha apenas 22 associados.

Hoje, são 168, a contar também com os membros da administração, que entregam uvas como qualquer outro associado. Depois de 1974, a adega mudou-se para as actuais instalações, não muito longe das antigas, um complexo industrial moderno na Estrada Nacional 365 que é um dos principais empregadores do concelho, com 46 funcionários. Além da adega e do armazém, o complexo tem também escritórios e uma loja com vinhos e merchandising — bonés do Plexus, por exemplo, a popular marca de frisante da casa.

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Da esquerda para a direita, o presidente da Adega do Cartaxo, Jorge Antunes, o enólogo Pedro Gil, José Barroso e Joaquim Oliveira, ambos membros da direcção Miguel Madeira

Nos últimos anos, a adega que em 2023 produziu 9,6 milhões de litros de vinho — é o segundo maior produtor da região do Tejo — tem apostado cada vez mais na modernização, num investimento de “até à data, 15 milhões de euros”, continua Jorge Antunes, o presidente. Na zona de engarrafamento, por exemplo, onde o PÚBLICO pode ver o enchimento do Estribo de Ouro, uma marca de exportação para a Suíça, os progressos são evidentes, com quatro linhas de produção: duas para garrafas (a engarrafar até 6 mil garrafas por hora) e duas para bag-in-boxes (a preparar até 700 bolsas por hora).

Nas contas do ano passado, o volume de negócios da Adega do Cartaxo foi de 10,65 milhões de euros, ainda assim com uma quebra de 4,2% face a 2022, o “melhor [ano] de sempre”, considera a direcção.

As coisas começaram a mudar em 2004, ano em que entrou José Barroso, outro dos membros da actual direcção. “Em 2004 a adega faz um grande investimento, com toda a linha de enchimento e a ETAR [Estação de Tratamento de Águas Residuais]”, continua o próprio. “Houve uma preocupação muito grande com o produto que íamos fazer e foi aí que começou este projecto de investimentos, que ao longo dos anos foi sofrendo alterações.”

Joaquim Oliveira, também membro da direcção, concorda. “Foi a partir desse investimento que se modernizou a linha e todo o sistema de vinificação para tentar satisfazer o homem [refere-se a Pedro Gil, o enólogo e director de produção]. Foi a partir desse momento que a adega passou praticamente de uma casa que enchia só vinhos mais a granel para encher engarrafados. Deu-se o boom da adega com esse aumento do número de vendas por causa do valor acrescentado.”

100% da produção é certificada

Para José Barroso, outro marco importante do crescimento da adega aconteceu em 2018, quando passaram a certificar “toda a produção”, explica. Até então, só 40% do vinho era certificado e 60% “era vinho de mesa”.

Para isso, foi preciso também educar os associados a produzir com maior qualidade. “A pouco e pouco ensinámos os sócios a produzir com melhor qualidade para os mercados que pretendemos e criámos critérios de avaliação”, continua José Barroso. “Todos os anos, são avaliados e os sócios acarretaram isso muito bem.”

Cerca de 74% da produção destina-se ao mercado nacional e perto de 26% vai para exportação, para mercados como a França, Polónia, China (os três principais), Rússia, Brasil, Estados Unidos e Canadá. Ao todo, a adega soma uma centena de referências, com onze marcas nacionais (Bridão, Coudel Mor, CTX, Desalmado, Detalhe, Encostas do Bairro, Marquês d’Algares, Plexus, Tá de Pé, Terras de Cartaxo e Xairel) e praticamente o mesmo número de marcas para exportação.

A Adega Cooperativa do Cartaxo abriu portas oficialmente em 1954 Miguel Madeira
A Adega do Cartaxo emprega 46 funcionários Miguel Madeira
Do granel, nos últimos 20 anos, a Adega do Cartaxo passou a engarrafar; já exporta 26% da sua produção
Outro marco importante do crescimento da Adega do Cartaxo aconteceu em 2018, quando a cooperativa passou a certificar “toda a produção” Miguel Madeira
A ccoperativa do Cartaxo soma uma centena de referências e mais de 20 marcas, entre aquelas que ficam no mercado nacional e as que são exclusivas da exportação; na foto, o vinho Estribo de Ouro Miguel Madeira
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A Adega Cooperativa do Cartaxo abriu portas oficialmente em 1954 Miguel Madeira

O último vinho, Adega do Cartaxo 70 Anos Edição Comemorativa 2015, foi lançado no início de Maio para comemorar sete décadas de história da adega. Segundo Pedro Gil, o enólogo, “é um vinho que acreditamos ser um dos nossos melhores, embora as nossas gamas altas tenham um nível de qualidade muito semelhantes”, considera.

A edição de 1.954 garrafas, o ano oficial de fundação da adega, é um blend das melhores barricas da colheita de 2015 das castas Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Trincadeira, Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah e Tinta Roriz, com doze meses de estágio em carvalho francês. O vinho está à venda pelo preço de 70 euros a garrafa.

Na adega, os investimentos “nunca podem parar”, diz o presidente Jorge Antunes. “Há sempre coisas a substituir e para que uma empresa funcione bem os investimentos são necessários para estar, não digo em primeiro lugar, mas entre os dez primeiros e para acompanhar o mercado de uma forma diferente”, continua. No fundo, a “sermos mais competitivos e termos mais escala”, resulta.

Para os próximos tempos, está previsto um investimento de 1,35 milhões de euros na construção de um armazém para produto acabado e materiais secos e também uma adega de microvinificação, o “sonho” de Pedro Gil, confessa o enólogo. “No fundo vai no encontro daquilo que é a Investigação & Desenvolvimento que as empresas devem ter para a criação de novos produtos e até para estudos do potencial de determinadas castas”, explica. “Permite, por exemplo, antes de aconselharmos aos sócios o que plantar perceber qual a resposta [das castas no nosso terroir].”

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