Tons de verde: Na Quinta da Raza, as abelhas encontraram refúgio
As colmeias são uma de várias iniciativas que mereceram à Quinta da Raza a certificação em produção sustentável. As abelhas, essas estão ali para trabalhar, não pelo mel, mas pela biodiversidade.
Enquanto durar a Primavera, as vinhas da Quinta da Raza mostram-se floridas, com o amarelo dos pampilhos a destacar-se contra o verde das videiras e o azul do céu. Este coberto vegetal espontâneo, propositadamente deixado entre as linhas de vinha, só apresenta vantagens: promove a biodiversidade, quer atraindo insectos amigos da vinha (isto é, predadores de pragas), quer providenciando alimento para polinizadores; evita a erosão do terreno, prevenindo o arrastamento de terras e nutrientes provocado pelas chuvas; e aumenta a matéria orgânica no solo. A isto soma-se outro ganho óbvio, já que deixá-los viver significa o não-recurso a herbicidas.
Esta prática, felizmente, tem vindo a ganhar adeptos na viticultura portuguesa. Porém, a ambição sustentável da Quinta da Raza vai bastante mais longe. De tal forma que o produtor baseado no vale do Tâmega, na sub-região de Basto, viu o seu esforço reconhecido em Fevereiro com a certificação “Sustainable Winegrowing Portugal”, no âmbito do Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, estabelecido pelo Instituto da Vinha e do Vinho e promovido pela ViniPortugal.
São várias as vertentes que integram o elenco de iniciativas focadas no impacto positivo da operação da Quinta da Raza no território onde se insere (e quem quiser pode lê-las em maior detalhe no blogue do produtor). Mas falávamos de flores. Foquemo-nos nelas.
“Não deixes que elas te piquem”
Por feliz acaso, calhou que Pedro Campos, enólogo com largos anos de ligação à casa, é também um apicultor amador. “Agora só tenho trinta-e-tal colmeias, mas já tive 70”, minimiza. Há 24 anos que Pedro se deixou “picar” pelo proverbial “bichinho”, e atira na brincadeira, “Não deixes que elas te piquem, podes nunca mais largá-las”.
Há um par de anos, a Quinta da Raza adquiriu três enxames, para dar o seu contributo em prol do repovoamento da espécie Apis mellifera, que está sob ameaça de extinção. “Menos polinizadores é sinónimo de um declínio de várias espécies de plantas, que podem até desaparecer”, indica, na sua típica frieza, um comunicado do Parlamento Europeu. Por seu lado, “a diminuição do número (…) das populações de polinizadores tem um impacto na segurança alimentar, com a queda do rendimento de algumas pastagens agrícolas”.
Quem viu o filme A história de uma abelha (2007), escrito e protagonizado por Jerry Seinfeld, sabe bem o que poderá acontecer no dia em que deixarmos de poder contar com o trabalho destes polinizadores. “Mas nós não lhes roubamos o mel!”, contrapõe logo Pedro Campos. “Aliás, são os apicultores que mantêm as abelhas”, uma vez que, desde que se propagou a praga de varroa, “é praticamente impossível haver enxames selvagens”.
As abelhas da Raza, essas também não duraram muito. Pouco tardou até serem dizimadas por um ataque de vespas velutinas. Porém, o improvável aconteceu: surgiu uma nova colónia de abelhas, vinda não se sabe de onde, e ocupou as colmeias vazias. E Pedro Campos voltou a ter mais abelhas para cuidar. Não se confunda “cuidado” por “exploração”: “Se nos puderem dar algum mel, tanto melhor”, admite Pedro. “Mas o que queremos é que polinizem o que tiverem a polinizar.”
Este artigo foi publicado na edição n.º 12 da revista Singular.
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