Os cortes no abastecimento de água no Algarve só serão aceites pelos agricultores se forem inferiores ao propõe o Governo e iguais para todos os sectores: turismo, agricultura e meio urbano. Essa é a exigência expressa pelos agricultores algarvios que, caso contrário, admitem colocar os seus tractores numa marcha lenta de protesto na EN125, a principal estrada da região.
“Se nada for resolvido até dia 10 [data prevista da reunião interministerial], nós admitimos voltar à rua”, declarou esta sexta-feira ao PÚBLICO o representante dos agricultores, Macário Correia. “Um corte entre os 10 e os 15% é aceitável, mas que seja igual para todos”, acrescentou.
Nos vários cenários apresentados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), é sugerido um corte de 10% em relação ao ano anterior para o tecido urbano e para o turismo, e de 14% para a agricultura. “Os 14% não são reais, porque estão a contar com a água subterrânea, mas não é por power point que a água dos aquíferos passa para os reservatórios”, disse Macário.
Sobre o eventual protesto, afirma, os agricultores já têm “uma data prevista, mas está condicionada ao que decidirem os ministérios do Ambiente e da Agricultura, e falarem connosco”. Do que foi divulgado pelos técnicos da administração, “nada foi apresentado de conclusivo", assemelhando-se antes a "uma aula para miúdos da escola”, descreve o representante dos agricultores algarvios.
A ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, admitiu na passada terça-feira, numa reunião realizada em Faro, que poderá existir “algum alívio” nas restrições que estão no terreno desde o princípio do ano, mas deixou tudo em aberto. A pluviosidade da semana da Páscoa trouxe alguma melhoria às reservas de água disponíveis, muito embora só esteja garantido o abastecimento público até final do ano.
A situação aridez da zona sul, reconheceu a governante, “veio para ficar”. Porém, as obras de mitigação previstas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) – a construção de uma dessalinizadora e de uma ligação da barragem de Odeleite à bacia do Guadiana – estão atrasadas. Nesta altura, está proibido regar com água potável jardins e relvados, embora a medida não esteja a ser aplicada em toda a região. A empresa Águas do Algarve, a entidade a quem competiria disponibilizar a rede das águas residuais tratadas para rega, ainda não está em condições de fornecer esse serviço aos operadores turísticos e municípios.