Comprar um telemóvel recondicionado pode reduzir o impacto ambiental em 91%
Optar por comprar um telemóvel recondicionado pode evitar a emissão de 25kg de gases com efeito de estufa por cada ano de utilização. Computadores e tablets recondicionados também são melhor opção.
“A compra de um telemóvel recondicionado reduz, em média, o impacto ambiental anual de 91% a 55%, consoante o indicador, em comparação com a utilização de um smartphone novo”. Adicionalmente, “evita-se a extracção de 82kg de matérias-primas e a emissão de 25kg de gases com efeito de estufa por ano de utilização”.
Sem especificar a percentagem de vendas de equipamentos recondicionados, a consultora International Data Corporation (IDC) Europe divulgou em 2024 que mil milhões de euros foi o valor gasto pelos portugueses na compra de telemóveis em 2023 (mais 13% do ano anterior). Foram comprados 2,6 milhões de aparelhos e a maioria smartphones, sendo que 61% das compras foram de equipamentos topo de gama, de quinta geração (5G).
Em Janeiro de 2024, a consultora avançou uma previsão de cinco anos do mercado mundial de smartphones usados e da sua expansão e crescimento até 2027. A IDC estima que as remessas mundiais de smartphones usados, incluindo os oficialmente recondicionados e usados, chegarão a 309,4 milhões de unidades em 2023. O crescimento da unidade representa um aumento de 9,5% em relação aos 282,6 milhões de unidades enviadas em 2022. Além disso, a IDC projecta que as remessas de smartphones usados atingirão 431,1 milhões de unidades em 2027, com uma taxa de crescimento anual composta de 8,8% de 2022 a 2027.
Um estudo publicado recentemente pela Agência Francesa do Ambiente e da Gestão da Energia (ADEME) analisou o impacto ambiental dos equipamentos digitais recondicionados em comparação com os seus equivalentes novos, ao longo de todo o ciclo de vida.
Segundo o relatório, esta alternativa permite alcançar “benefícios ambientais e um maior poder de compra” aos consumidores, uma vez que a vida útil dos produtos é prolongada.
Em declarações ao PÚBLICO, Pedro Nazareth, CEO da entidade gestora dos sistemas de reciclagem de embalagens, pilhas e equipamentos eléctricos usados Electrão, afirma que "a grande vantagem de reparar e reutilizar telemóveis tem que ver com o prolongar a vida útil destes equipamentos". "Se nós prolongarmos a vida útil destes equipamentos enquanto consumidores, não vamos consumir novos telemóveis com tanta frequência."
"Aqui, decorre uma poupança ambiental muito relevante: a poupança ambiental de extracção de recursos e a poupança ambiental associada à transformação desses recursos em telemóveis", realça o CEO do Electrão.
Pedro Nazareth diz ainda que existe "um equilíbrio entre mantermos os produtos e a eficiência energética das novas tecnologias", que evoluem. Não obstante, "a reparação é um óptimo princípio permite prolongar o tempo médio de vida", sublinha.
Quais são as vantagens ambientais de comprar recondicionado?
Em 2020, foram poupadas 69 mil toneladas de CO2 graças aos consumidores que optaram por comprar um telemóvel recondicionado em vez de um novo, diz o estudo encomendado pela ADEME.
O trabalho destaca também que o recondicionamento pode evitar o impacto ambiental anual entre 46% e 80% no caso dos tablets, 43% e 97% em computadores portáteis e de 36% e 99% em computadores fixos. Dentro do sector, há variações significativas no impacto por causa de factores como o prolongamento da vida útil dos produtos e a adição de novas ferramentas aos equipamentos.
Sabia também que 88 telemóveis podem dar origem a um anel de noivado? É o que explica o Electrão, onde os telemóveis, que se inserem na categoria de pequenos equipamentos eléctricos, devem ser depositados no fim de vida, num dos pontos de recolha pelo país, para depois terem uma nova vida.
Segundo o Electrão, em Portugal, foram colocadas no mercado mais de 130 mil toneladas de equipamentos eléctricos, em 2020. "Se continuarmos com os mesmos padrões de consumo e sem reciclar, em 2030, o planeta vai ter o equivalente ao peso de 7390 torres Eiffel em resíduos de equipamentos eléctricos", alerta a organização na página sobre este tema.
Um portátil recondicionado pode evitar 27kg de CO2
Recondicionar outros equipamentos eléctricos e electrónicos é igualmente benéfico. Segundo o documento, a compra de um computador portátil (PC) recondicionado permite evitar a extracção de 127kg de materiais por cada ano de utilização. Além disso, são menos 27kg de CO2 por cada ano de utilização.
Do mesmo modo, para o recondicionamento causar um impacto positivo, é preciso que um computador tenha tido “uma primeira vida de pelo menos cinco anos”. A adicionar a isso, as peças essenciais, como o ecrã ou o disco rígido, não devem ter sido substituídas.
Idealmente, “o recondicionamento deveria ser efectuado no final da primeira vida útil do equipamento” e, no caso dos PC, estes deveriam durar, numa primeira vida, entre quatro a cinco anos, explica o relatório.
Por outro lado, a nível individual, a substituição de um computador de secretária novo por um computador de secretária recondicionado evita a emissão de 42,5kg de CO2 por ano, o que representa 4,31% da sua pegada de carbono anual sustentável e equivale a 127,19km de carro. Evita, ainda, a extracção de 259,3kg de material e a produção de 1,08kg de resíduos electrónicos.
Que impacto tem recondicionar os equipamentos?
“O fornecimento de acessórios para os produtos recondicionados e as mudanças de ecrã são os principais factores que contribuem para o impacto ambiental do processo de recondicionamento”, segundo o estudo. Quantas mais peças forem trocadas e acessórios forem adicionados, maior será o impacto ambiental.
De acordo com o estudo, a substituição de um ecrã aumenta o impacto, variando entre 15% e 75%, consoante a tecnologia do ecrã e outras variáveis.
Por sua vez, a mudança de uma bateria conduz a um impacto entre 5% e 65%. Além disso, a “mudança de bateria é um dos principais factores que contribuem para o consumo de água”.
Mesmo assim, “todos os cenários de recondicionamento representam uma vantagem significativa em relação aos equipamentos novos”. Contudo, é possível diminuir o impacto que o processo do recondicionamento acarreta.
Como se pode diminuir o impacto do recondicionamento?
De acordo com a publicação da ADEME, privilegiar o comércio local, recondicionar os equipamentos o mais tarde possível durante a sua vida útil, conservá-los durante o maior tempo possível, bem como limitar o número de peças que é necessário substituir e privilegiar as peças em segunda mão são algumas das boas práticas que contribuem para preservar os equipamentos electrónicos.
Para quem recondiciona os equipamentos, também existem recomendações a seguir. Não mudar sistematicamente as peças, privilegiar as peças em segunda mão e optimizar a embalagem em termos de volume, peso e materiais são práticas que devem ser adoptadas.
No mesmo sentido, as plataformas de distribuição devem organizar a retoma dos telemóveis substituídos para aumentar o valor do depósito e trabalhar com os restauradores para pôr em prática um serviço pós-venda ou uma economia funcional que permita não substituir sistematicamente as peças, mas prestar um serviço de reparação associado a um pacote para garantir que o equipamento dure o máximo de tempo possível.
A reciclagem de equipamentos eléctricos à escala global
Apenas 22% dos equipamentos eléctricos usados são reciclados a nível mundial, segundo os resultados do 4.º relatório Global E-waste Monitor, produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo o estudo, foram gerados, em 2022, a nível mundial, 62 milhões de toneladas de equipamentos eléctricos usados, um número recorde, que representa mais 82% do que em 2010.
Apesar do panorama global, o Electrão afirma que "2023 foi um ano de destaque para a reciclagem de equipamentos eléctricos em Portugal, tendo sido recolhidas e encaminhadas para tratamento, pelo Electrão, mais de 27 mil toneladas destes resíduos". A organização assume que "este é o melhor resultado dos últimos anos".
Pedro Nazareth afirma que “telemóveis, computadores e tablets são as classes de produtos eléctricos e electrónicos que mais se recolhe e que mais se consegue reciclar". Isto acontece, em parte, "porque são produtos que têm componentes com valor económico e que podem ser aproveitadas em novas utilizações", como é o caso do cobre e das baterias de iões de lítio, esclarece. A ambição da Electrão é aumentar ainda mais a taxa de reciclagem destes equipamentos.
A 22 de Março deste ano, a Comissão Europeia adoptou uma nova proposta de regras comuns para promover a reparação de bens, "que resultará em poupanças para os consumidores e apoiará os objectivos do Pacto Ecológico Europeu".
Texto editado por Andrea Cunha Freitas