“Uma espécie de Booking do enoturismo.” A comparação é da própria criadora da WineXP, Stephanie Seldon-Brown, anglo-belga de 48 anos, a viver em Portugal há 18. Empresária e triatleta, chegou a competir no Sporting e a representar Portugal em campeonatos internacionais. Agora, o vinho é uma das suas paixões.
De tal maneira que no ano passado, com o irmão, James, decidiu criar uma plataforma online que reunisse informações sobre várias quintas portuguesas com actividades de enoturismo e que permitisse fazer marcações de visitas e provas. “Comecei a ter muitos amigos portugueses a contactar-me para saber onde visitar produtores em zonas do país, por exemplo em Braga ou no Algarve”, conta. “Percebi que não era fácil encontrar coisas online. E mesmo quando dava algumas dicas de quintas, não era fácil depois reservar, ninguém atendia ou respondia aos emails.”
A WineXP, que além de website também está disponível como app, quer facilitar essa tarefa. “Como o Booking com os hotéis”, continua Stephanie. “É uma ferramenta para ter os clientes e os produtores. O cliente paga online e depois a quinta tem sempre de confirmar a reserva.”
A plataforma ganha uma pequena comissão da venda (Stephanie prefere não revelar quanto), mas o preço para o cliente não é mais elevado por marcar através da aplicação. “Se na quinta cobram 30 euros para uma prova e visita, aqui o cliente não vai ter um valor acrescido”, garante.
No site (winexp.pt) é possível pesquisar por região do país, por tipo de adega (cooperativa, histórica, arquitectura e design ou negócio de família) ou por experiência (com várias opções, de prova de vinhos a experiência de vindima/poda, caminhadas pela herdade, aulas de culinária, passeio equestre, observação de aves e até extracção de cortiça). Conforme as escolhas, a plataforma filtra as opções de actividades disponíveis e permite marcar e pagar directamente em poucos minutos.
Para já, a WineXP tem uma versão portuguesa e inglesa e, em breve, estará disponível em francês e castelhano. “Para as quintas não há custos por estar no site”, afirma Stephanie.
A plataforma tem 40 quintas inscritas, mas o número promete aumentar nos próximos tempos. “Há dois ou três sites internacionais com quintas de todo o mundo, mas o nosso foco é mesmo em quintas de Portugal. Além disso, visitamos todas elas, fazemos essa curadoria.”
Apesar dessa preocupação, são apenas “intermediários” e não estão presentes durante as visitas nem sequer fazem o transporte até às quintas. “Os clientes vão sozinhos. Não somos uma agência de viagens”, sublinha Stephanie.
Além de divulgar os vinhos nacionais, o objectivo da app é também dar a conhecer pequenos produtores, que normalmente passariam despercebidos ao lado de quintas maiores, “como a Bacalhôa ou o João Portugal Ramos”, diz Stephanie – esta última também faz parte da WineXP –, “que têm 15 guias turísticos e não apenas um enólogo a fazer a visita”.
Malvarinto, um vinho de estreia
Entre os negócios mais pequenos está, por exemplo, a Quinta San Michel, em Janas, Sintra, que conhecemos através da plataforma, registada na categoria de “negócio de família”, e com uma visita à adega com duas provas de vinhos a custar 25 euros por pessoa. Na quinta na região de Colares, são os dois enólogos, Alexandre Guedes e Marta Esteves, os responsáveis pelas visitas.
O negócio do sogro de Alexandre, Joaquim Camilo, começou há 10 anos, com vinhas plantadas “do zero” num terreno que só tinha uma ruína. Hoje, além dos 2,2 hectares de vinha, foi construída uma casa de família com piscina e a adega foi improvisada numa antiga garagem que já é pequena para a produção, que o ano passado chegou às 15 mil garrafas.
Em 2017, a quinta lançou o seu primeiro vinho, o Malvarinto, um blend de Alvarinho e Malvasia de Colares, a casta autóctone da região. “É o nosso vinho de referência, um vinho muito singular”, explica Alexandre, depois de nos mostrar a pequena propriedade. “Somos o único produtor em Portugal a fazer a junção das duas castas e isso acabou também por ganhar algum destaque e tornar-se a imagem de marca da quinta.”
Stephanie é fã do Malvarinto e também faz parte do clube de vinhos da Quinta San Michel. Para a empresária que já tirou alguns cursos de vinho, faz todo o sentido que negócios como a Quinta San Michel estejam na plataforma. “Pouco a pouco as quintas estão a contactar-nos, sobretudo as quintas mais pequenas, que precisam de divulgação”, conta. “É das coisas que mais adoramos e que queremos divulgar. Não é que as outras não têm valor, mas as quintas mais pequenas têm um storytelling muito bonito.”