A árvore genealógica mais completa de sempre das orquídeas (que cresceram ao lado dos dinossauros)
Um estudo publicado na revista New Phytologist diz que as orquídeas se desenvolveram ao lado dos dinossauros durante 20 milhões de anos. As “jóias da natureza” são uma espécie diversa, mas ameaçada.
A investigação foi realizada por cientistas do Royal Botanic Gardens Kew (RBG), em conjunto com parceiros na América Latina, Ásia e Austrália. Como resultado, a equipa de cientistas apresentou uma árvore genealógica actualizada de orquídeas, traçando as suas origens no hemisfério norte há cerca de 85 milhões de anos.
Além de o estudo desvendar uma nova perspectiva sobre a história evolutiva destas plantas, os autores aguardam que as descobertas alcançadas ajudem no planeamento futuro de conservação das orquídeas, revela um comunicado do Royal Botanic Gardens Kew.
Para realizar o processo de investigação, foram utilizados “dados de captura de genes de alto rendimento produzidos no RBG Kew como parte do projecto Plant and Fungal Tree of Life (PaFToL). A resolução da árvore [genealógica] foi melhorada combinando os resultados com sequências de ADN já publicadas de muitas espécies de orquídeas”, avança o RBG.
Oscar Pérez, líder de investigação da monografia integrada no projecto RBG, afirma que o estudo levado a cabo é “o primeiro a revelar, a uma escala global, quais as regiões ecológicas com maior potencial evolutivo de orquídeas e riqueza de espécies”.
Citado no comunicado, o cientista explica que “regiões ecológicas que em escalas de tempo muito recentes (por exemplo, nos últimos dois a três milhões de anos) serviram de berço a uma especiação sem precedentes que resultou na acumulação de níveis notavelmente elevados de diversidade de espécies de orquídeas”. Por isso, a equipa acredita que “essas áreas podem ter a capacidade de carga para abrigar ainda mais diversidade no futuro imediato, desde que as suas regiões ecológicas nativas sejam protegidas”.
Alexandre Antonelli, director de ciência do RBG Kew e também autor do estudo, destaca no mesmo comunicado que “as orquídeas não são apenas jóias extraordinárias da natureza, mas também encerram mistérios incalculáveis sobre a vida na Terra: como as espécies evoluem, se adaptam e se movem".
“Salvaguardar o seu futuro é fundamental para proteger as interacções complexas que desempenham nos ecossistemas e garantir que essas histórias possam um dia ser desvendadas pelos cientistas", nota.
A história das orquídeas
É, por norma, aceite que as orquídeas tiveram a sua origem há cerca de 90 milhões de anos ou até mais, mas acreditava-se “que tinham surgido no supercontinente Gondwana, na actual Austrália. No entanto, o novo estudo, que levou à criação da maior árvore genealógica de orquídeas jamais concebida, indica que “o seu antepassado comum pode ter tido origem no hemisfério Norte, no supercontinente Laurásia, antes de se espalhar pelo mundo”, diz-nos o comunicado do RBG Kew.
“Apesar da sua origem antiga, a diversidade de espécies de orquídeas modernas teve origem, principalmente, nos últimos cinco milhões de anos, com as maiores taxas de especiação no Panamá e na Costa Rica”, esclarece o estudo publicado. Do outro lado da moeda, “o antepassado comum mais recente das orquídeas é entendido como tendo vivido na Laurásia do Cretáceo Superior”, lê-se.
Em comparação, os dinossauros apareceram na Terra, crê-se, no período que vai desde o Triásico ao Cretáceo. Quando estes animais incríveis foram extintos, as orquídeas conseguiram sobreviver a adaptar-se às mudanças ambientais.
Além de estas plantas estarem presentes em quase todos os continentes, a excepção é a Antárctica, e viverem em praticamente todos os habitats, como a norte do Círculo Polar Árctico, também são uma espécie muito diversa, explicam os investigadores. Estima-se que existam 29.500 espécies de orquídeas, o que representa quase três vezes mais do que o número reconhecido de espécies de aves a nível mundial, contabilizam.
No entanto, apesar de pertenceram à família das plantas com um maior número de espécies, são, em contrapartida, também das espécies mais ameaçadas.
A árvore genealógica das orquídeas
A nova árvore genealógica “inclui quase 40% de todos os géneros de orquídeas aceites e à volta de 7% da diversidade de espécies conhecidas”. Esta árvore “foi reconstruída através da fusão de diferentes tipos de dados de sequência de ADN obtidos de toda a família das orquídeas”, refere o estudo dos cientistas do RBG Kew. A árvore foi reconstruída através da fusão de diferentes tipos de dados de sequência de ADN obtidos de toda a família das orquídeas, explicam.
"Gerar os dados da captura de genes no laboratório a partir de uma determinada variedade de espécies não teria sido possível sem a amplitude geográfica e histórica das colecções disponíveis para investigação no Herbário do RBG Kew”, diz Natalia Przelomska, professora na Universidade de Portsmouth e investigadora associada no RBG Kew.
As preocupações e o contributo para o futuro
No estudo, os investigadores afirmam “rejeitar a hipótese de que o Sudeste Asiático é a região com maiores taxas de espécies de orquídeas”. Em vez disso, dizem que os resultados a que chegaram “mostram que o Sul da América Central, que contém 4,5% da flora e fauna do mundo em apenas 0,5% da sua superfície terrestre, tem sido um hotspot para a especiação de orquídeas desde o Plioceno, com as maiores taxas de especiação por célula de grade à escala global”.
Algumas das maiores ameaças às orquídeas, hoje em dia, incluem a desflorestação, o comércio ilegal e as alterações climáticas, que podem causar extinções ou reduções nas suas áreas de distribuição e dimensões populacionais, diz o RBG.
“Tal como referido no relatório State of the World's Plants and Fungi 2023 do RBG Kew, estima-se que 45% das plantas conhecidas no mundo estejam em risco de extinção, e este número é ainda mais elevado na família das orquídeas, com cerca de 56% das espécies ameaçadas”, esclarece o comunicado.
Segundo o relatório, a informação que o estudo disponibiliza sobre “especiação e padrões de riqueza de espécies pode informar as políticas sobre a definição de prioridades dos ecossistemas para a sua conservação”. Nesse sentido, espera-se que, no futuro, exista uma evolução relativamente à conservação destas plantas.
No relatório, os cientistas confessam que “as orquídeas estão a extinguir-se a um ritmo alarmante quando comparado com o tempo que demoraram a especiar”, que corresponde a um período de cerca de cinco milhões de anos. “Isto indica que podem não ser capazes de recuperar da extinção em escalas de tempo humanas, mesmo sem uma estimativa exacta do número de espécies de orquídeas que foram extintas”, alertam os autores.
Os cientistas esperam que os resultados da investigação orientem as políticas de conservação para proteger a diversidade das orquídeas. “Este novo estudo é apenas o primeiro passo no objectivo dos cientistas de elaborar uma árvore da vida completa das orquídeas”, confirma no comunicado o RBG, que sublinha que os seus autores estão determinados em perceber a influência das alterações climáticas, desflorestação e comércio ilegal na distribuição desta diversidade de espécies num futuro próximo.
Texto editado por Andrea Cunha Freitas