“Preocupa-nos o decréscimo nas vendas do vinho do Porto, mas é de valorizar crescimento do DOC Douro”

O IVDP está preocupado com “a marca” vinho do Porto, mas optimista em relação ao futuro dos vinhos tranquilos do Douro. Gilberto Igrejas explica a estratégia para recuperar os números pré-pandemia.

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Gilberto Igrejas foi reconduzido em Novembro como presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto José Sérgio
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Gilberto Igrejas, o presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), reconduzido em Novembro, está preocupado com o decréscimo nas vendas de vinho do Porto – a tendência manteve-se em 2023, como dão conta os números da comercialização a que o PÚBLICO teve acesso –, mas explica que o organismo que lidera tem uma estratégia para voltar à trajectória de crescimento que a marca "Porto" e os vinhos da Região Demarcada do Douro (RDD) em geral registavam em 2019. Em entrevista, diz-se optimista e assume que no último ano só não houve um "trambolhão" porque o mercado nacional (turistas incluídos) e os vinhos com Denominação de Origem Controlada (DOC) Douro ajudaram a equilibrar o balanço global.

Em 2023, o mercado nacional volta a compensar, em parte, as quebras nas exportações. Pode falar-nos dessa evolução, assim como do valor médio? Os mesmos vinhos surgem mais valorizados cá dentro do que lá fora.
Se reparar, os preços médios nos diferentes países são muito voláteis, seguramente porque as economias de cada um dos países também são muito diversificadas. Cá dentro, o turismo tem ajudado a que o condicionalismo das exportações tenha sido mitigado precisamente com um consumo nacional, mas por parte dos turistas, mesmo no caso do vinho do Porto. As quebras nas exportações acabaram, como disse e bem, por ser compensadas pelo mercado nacional. Mesmo assim, e apesar do crescimento do preço médio por litro, e com as vendas nacionais a terem esse acréscimo, ainda chegámos ao final do ano com um decréscimo de 1% no valor da comercialização. É um valor de 1%, mas que nos preocupa, porque devíamos estar em tendência de crescimento. Era a tendência que vínhamos assistindo até 2019, antes da pandemia e queríamos continuar nessa tendência de crescimento agora. Ambicionamos isso. Nós estávamos a crescer, em 2019, a dois dígitos nas exportações do Douro, mas, com a crise pandémica e depois com toda a crise da inflação ao nível das exportações e com as guerras que, entretanto, assolaram o mundo, tivemos um abrandamento das exportações. O mercado nacional acabou por compensar [as quebras nas exportações], mas não na totalidade. Não estamos a crescer como gostaríamos e como tínhamos previsto, em 2019, que cresceríamos nos próximos anos.

Mas não é só o mercado nacional, são também as vendas do DOC Douro a compensar a quebra das do vinho do Porto.
Olhando à lupa, é isso que interpretamos. Há mais dificuldade na venda dos vinhos licorosos a nível mundial, não é apenas no vinho do Porto. Mas os vinhos [tranquilos] do Douro acabam por ter hoje uma notoriedade diferente daquela que tinham há 30 anos. Há uma nova marca colectiva, que também importa valorizar. Preocupa-nos a marca Porto e este decréscimo, mas importa valorizar este crescimento do Douro. E seguramente que o Douro vai ser uma marca muito mais importante no futuro do que aquilo que é hoje.

Daí a importância de todas as questões de que falámos e que serão alvo de mudança.
Claro, e de forma integrada. Nós não tratamos de forma diversa o Douro e o Porto. A nossa lógica de promoção internacional é para as duas marcas colectivas e, se há mercados em que o Porto é historicamente muito forte, temos que utilizar o Porto para podermos também disseminar a marca Douro. E vice-versa.

Há uns meses, as casas exportadoras estavam preocupadas com as novas regras da rotulagem no Reino Unido. Mas esse mercado aparece em terceiro lugar.
Aí houve variação, uma troca com os Estados Unidos, que desceram. Houve crescimentos do Reino Unido e dos Países Baixos. Em Agosto, como sabe, entrou a nova tributação fiscal no Reino Unido e o que aconteceu foi que em Maio, Junho e Julho, as casas exportadoras começaram, obviamente, a exportar mais rapidamente e, se a memória não me atraiçoa, nós atingimos até 1 de Agosto cerca de 189% de crescimento face ao ano anterior, só vinho do Porto. Mas também, é bom dizê-lo, o Reino Unido cresceu mais em quantidade do que propriamente no aumento do preço médio por litro. Ao contrário do que aconteceu na maioria dos mercados internacionais, em que houve um decréscimo de quantidade, mas um acréscimo no preço médio por litro.

O que é que aconteceu, por exemplo, com França, mercado muito tradicional para o nosso vinho do Porto?
É um mercado tradicional, mas onde temos vindo a apostar, há muitas décadas, na promoção. Tivemos lá o Master of Port, temos as acções com as escolas de hotelaria, onde temos professores nativos franceses que capacitam os seus estudantes com acções de formação em torno do vinho do Porto. Estivemos pela primeira vez no concurso do Melhor Sommelier do Mundo em França, uma acção com transmissão televisiva e mundialmente difundida.

Imagino que todas essas acções levem o que é o outro vinho do Porto, as categorias especiais.
Precisamente. Nós sabemos que o mercado francês não era um mercado de consumo dos vinhos de preço mais elevado, mas é esse o caminho que nós temos vindo a fazer. Apesar de em 2023 nós não termos aumentado a quota do valor, há um decréscimo de quase 1%, em termos de valor de vinho do Porto, as categorias especiais atingem 46%, com uma quota de 22% de quantidade. As categorias especiais estão a ser vendidas a um preço bastante superior em relação ao preço médio do vinho do Porto. E é essa a aposta que nós queremos continuar a fazer. Inovando também na criação de novas categorias, como foi o caso do Very, Very Old e do 50 Anos.

O que mais pode a região fazer para inverter uma tendência que, de resto, é mundial, com uma redução generalizada do consumo de bebidas mais alcoólicas?
Devemos apostar fortemente na protecção das DOP Douro e Porto, que são alvo de parasitagem, usurpação, cópia e todo o tipo de acções que nós vamos conhecendo, cada vez em mais países, o que mostra bem a importância que a marca colectiva Douro e Porto tem no mundo. A par da protecção, devemos continuar a apostar em acções de promoção nos mercados prioritários, com o Certified Port Educator, por forma a dar formação avançada aos especialistas em vinho do Porto, com os programas nacionais que temos de saber servir e vender melhor, nas escolas de hotelaria internacionais, com o [concurso] Master of Port. E depois levar estas acções também a mercados que não foram explorados no passado e que se tornaram também relevantes, como a Escandinávia e os Países Baixos, por exemplo, onde temos investimento previsto para 2024.

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O presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, Gilberto Igrejas, comentou, em entrevista ao PÚBLICO, os dados da comercialização dos vinhos da Região Demarcada do Douro em 2023 José Sérgio

Quando fala de cópia está a falar de vinho falsificado?
Não, não. Eu estou a fazer de uma marca utilizar a denominação de origem Porto para outra finalidade, para vender os seus chocolates ou uma geleia. A nível europeu e internacional, tivemos, até Outubro, 250 casos e, ao nível de arrestos e penhoras, 196.

Olhando mais em detalhe, os espumantes do Douro também estão com bons indicadores.
Está a fazer o seu caminho, em crescendo, e é um produto novo, que o consumidor já conhece. E há até negócios que têm sido feitos, com grandes casas envolvidas, na região demarcada do Douro precisamente por causa do espumante.

A propósito das grandes casas, como vê a crescente concentração de propriedade no Douro?
É um desafio, mas são os sinais dos tempos que vivemos. O que me preocupa verdadeiramente é a questão da pirâmide demográfica. Assistimos a um envelhecimento das populações e, se não criarmos investimento, se não criarmos riqueza no território, dificilmente vamos atrair pessoas mais jovens. Nos 21 concelhos da região demarcada do Douro, assistimos a esse abandono e a essa desistência. Temos actualmente cerca de 19.000 agricultores, mas seria muito importante para a região fixarmos jovens. Portanto, mais importante do que saber quem está a criar riqueza é continuarmos a criar riqueza.

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