PFAS podem afectar a saúde antes mesmo de nascermos, indica novo estudo
Investigação conduzida por universidades da Escócia e Suécia sublinha os perigos associados às substâncias perfluoroalquiladas. A UE já anunciou a intenção de banir o uso de PFAS entre 2026 e 2027.
Estão nas frigideiras antiaderentes, têxteis antimanchas, embalagens de alimentos, papel higiénico, maquilhagem, cremes para a pele e até na água. E mesmo que os efeitos secundários do contacto com as substâncias perfluoroalquiladas (PFAS) não seja uma novidade — as já estudadas perturbações nas hormonas, metabolismo e sistema imunitário relacionam a família de substâncias químicas à doença da tiróide e ao cancro —, o mais recente estudo científico sobre o tema aprofunda o conhecimento sobre os efeitos das PFAS no desenvolvimento fetal (já antes se associou as PFAS ao menor peso no nascimento).
De acordo com o estudo conduzido por investigadores das Universidades de Aberdeen e Örebro, na Escócia e Suécia, respectivamente, os fetos expostos às PFAS têm o seu desenvolvimento comprometido. As demonstradas alterações das funções hepáticas antes do nascimento sugerem um aumento do risco de doenças metabólicas, como a diabetes, na idade adulta. A investigação foi publicada no passado domingo na revista científica Lancet Planetary Health.
Ao apresentarem uma decomposição natural extremamente demorada — as PFAS podem permanecer nos organismos vivos durante muitos anos — estas substâncias são vulgarmente designadas como “químicos eternos”. No ambiente, a decomposição pode demorar até 1000 anos ou, simplesmente, nunca acontecer. Isto porque apresentam ligações do tipo carbono-flúor, uma das ligações químicas mais fortes na química orgânica.
“Encontrámos PFAS no fígado dos fetos e, infelizmente, os resultados fornecem fortes indícios de que a exposição a estes produtos químicos eternos no útero afecta o feto. As pessoas expostas a níveis mais elevados de PFAS têm o metabolismo e a função hepática alterados muito antes do nascimento”, explica o investigador Paul Fowler, professor na Universidade de Aberdeen.
O estudo envolveu a análise exaustiva do perfil metabólico de 78 fetos, abortados voluntariamente entre as 12 e as 19 semanas. Os fetos estudados eram essencialmente saudáveis.
Apostar na legislação
Ao comparar o cenário europeu ao chinês, é possível verificar que existe uma menor legislação do país asiático em relação aos PFAS e um aumento expressivo de doenças como a obesidade infantil e a diabetes na China nos últimos anos. “É muito provável que haja uma ligação”, explica Matej Orešič, professor de Ciências Médicas em Örebro. “E pode acontecer que a exposição a produtos químicos nocivos tenha um impacto comparável ou mesmo maior do que o estilo de vida quando se trata de certas doenças”, completa.
Ainda assim, há um longo caminho a percorrer. Para Génon Jenson, fundadora e directora executiva da Health and Environment Alliance (HEAL), uma organização sem fins lucrativos que sensibiliza para os benefícios da acção ambiental para a saúde, este estudo que considera pertinente “mostra o que há muito se temia”. Os dados da organização apontam para o gasto anual de 52 a 84 mil milhões de euros, só na Europa, em cuidados de saúde relacionados com a exposição às PFAS, onde 12,5 milhões de pessoas vivem em comunidades com água potável poluída com PFAS.
Em Janeiro de 2023, a Alemanha, Dinamarca, Países Baixos, Suécia e até a Noruega (que não faz parte da União Europeia) apresentaram uma proposta de restrição das PFAS. A UE anunciou a intenção de banir o uso destes compostos persistentes entre 2026 e 2027, mas vários tipos são já proibidos.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva