Mudanças nos padrões das estações do ano afectaram a fauna e flora do Reino Unido
O National Trust publicou a auditoria anual sobre a fauna e flora do Reino Unido. Aves marinhas e plantas de climas húmidos foram das espécies mais afectadas.
Os padrões sazonais, como os conhecíamos, estão a alterar-se – e isso está a prejudicar de forma evidente a flora e a fauna do Reino Unido, concluiu uma auditoria anual do National Trust acerca do impacto do clima na natureza. O relatório, divulgado pela organização de conservação de património do país, chama a atenção para o aumento dos eventos climáticos extremos, que acabam por “exercer pressão” sobre as plantas e a vida selvagem, que, por sua vez, se tornam mais susceptíveis a doenças.
As temperaturas elevadas no mês de Junho, o mais quente já registado no Reino Unido, aliadas a um Inverno seco e à subida da temperatura do mar, alteraram os ecossistemas da vida selvagem da região. Foram registadas temperaturas de 3 a 4 graus Celsius acima da média, de acordo com a Agência Espacial Europeia, e as águas estiveram mais quentes do que o habitual nas zonas da costa da Inglaterra, Escócia e Irlanda.
Também os fenómenos extremos, como as tempestades Babet e Ciaran, afectaram toda a paisagem da costa do Reino Unido. A tempestade Bebet teve um impacto no conjunto de aves marinhas que ocupam as ilhas Farne, a norte. A falta de alimento provocada pelo fenómeno prejudicou as aves, que por não conseguirem alimento suficiente acabaram por morrer.
A falta de água no caudal dos rios, lagos e reservatórios, por exemplo, foi um factor determinante na proliferação de algas, o que provocou a morte em massa de peixes por asfixia, devido à falta de oxigénio. O rio Derwent, que ocupa tradicionalmente a área mais húmida do noroeste da Inglaterra, no Vale de Borrowdale, secou pelo terceiro ano consecutivo.
Um Inverno mais quente fez com que pássaros e insectos polinizadores também fossem afectados: os arbustos floresceram mais cedo e tornaram-se, por isso, mais vulneráveis a ondas de frio repentinas, condicionando os animais que se alimentavam das sementes. Por outro lado, a seca de 2022 e o início seco de 2023 levou muitas das plantas da floresta tropical, maioritariamente os musgos e as hepáticas, à morte, no sudoeste da Inglaterra.
Existem outras espécies que podem ser atingidas mais facilmente por estas variações de temperatura, como é o caso dos carvalhos, explicam os membros do National Trust. À medida que o clima fica mais quente, a praga da mariposa processionária – que se alimenta desta espécie – tem migrado para o norte da Europa, tornando os carvalhos mais vulneráveis ao ataque de outros parasitas. A urticária provocada pelas lagartas mariposa é igualmente perigosa para crianças e animais de estimação.
Segundo o relatório divulgado, os animais que hibernam encontram-se especialmente ameaçados pelos invernos mais quentes: ao acordarem do sono mais cedo, acabam também por gastar muito mais rápido as reservas de energia que lhes restam.
"As mudanças que se estão a desenvolver aos poucos nas diferentes estações podem não parecer relevantes num período de 12 meses, mas ao longo de uma década são extremamente significativas", aponta o chefe de Ecologia da Natureza e Restauração do National Trust, Ben McCarthy, em comunicado.
Já o consultor nacional de mudanças climáticas da organização relembra que os fenómenos extremos são algo que veio para ficar. “Precisamos de nos preparar para essa nova norma”, afirma Jones, citado pela BBC.