Ao longo dos últimos 12 meses, entre a COP27 e a COP28, dezenas de fenómenos extremos ligados ao clima foram ocorrendo um pouco por todo o planeta, deixando em alguns casos cidades destruídas, comunidades desalojadas e vitimando centenas de pessoas. Enchentes, secas, tempestades, ondas de calor, incêndios violentíssimos e muitos recordes de temperatura reforçaram a ideia de que as condições do planeta estão a viver uma viragem provocada pelas alterações climáticas.
Um ano de incêndios, tempestades e recordes
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Essa viragem está reflectida no constante aumento de temperatura da Terra, cuja tendência se manterá, de acordo com a previsão dos cientistas, enquanto as emissões de gases com efeito de estufa, e a sede mundial por combustíveis fósseis, não forem aplacadas.
TEMPERATURA
A escalada da temperatura na Terra
O quadro que se segue mostra a evolução das anomalias da temperatura média (ºC) à superfície da Terra de 1880 a 2018 (a preto), face ao período 1901-2000. E a previsão das temperaturas até ao fim do século, de acordo com quatro cenários de emissões de gases com efeito de estufa: do melhor (RCP 2,6 - azul), em que o pico de concentração dos gases ocorre a meio do século e depois diminui, até ao pior (RCP 8,5 - vermelho), em que as emissões prosseguem inabaláveis. É ainda possível observar a simulação da evolução histórica das anomalias (a cinzento). Assinala-se também a anomalia de Julho de 2023 (1,12ºC), o mês mais quente registado.
Área ardida nos incêndios de 8 de Agosto na zona de São Teotónio, no concelho de Odemira
MATILDE FIESCHI/PÚBLICO
Área ardida nos incêndios de 8 de Agosto na zona de São Teotónio, no concelho de Odemira
MATILDE FIESCHI/PÚBLICO
As margens secas do rio Katari, na Bolívia
CLAUDIA MORALES/REUTERS
Temperatura média do mar
Nas últimas quatros décadas, a temperatura do mar à superfície tem vindo a aumentar.
Em graus Celsius (ºC)
Desde o início da década de 1980 que a temperatura média do mar à superfície tem vindo paulatinamente a subir, algo que se tornou mais evidente após a viragem do século. Mas os valores de 2023 surpreenderam os cientistas. A partir de Março a temperatura atingiu um novo recorde. Ou seja, nos últimos oito meses manteve-se sempre a mais quente desde que há registos.
Evolução das anomalias da temperatura nos oceanos
O aumento da temperatura nos oceanos pode ser observado a partir da evolução das anomalias da temperatura do mar à superfície entre 1982 e 2023 face às temperaturas médias entre 1979 e 2000.
Em graus Celsius (ºC)
Corais que estão saudáveis habitam lado a lado com corais brancos, que sofreram a lixiviação, perto do Porto de Miami, na Florida
MARIA ALEJANDRA CARDONA/REUTERS
Corais que estão saudáveis habitam lado a lado com corais brancos, que sofreram a lixiviação, perto do Porto de Miami, na Florida
MARIA ALEJANDRA CARDONA/REUTERS
A 21 de Novembro de 2023, o índice de qualidade de ar de Bombaim atingiu os 136 (numa escala que vai até 200), o que significa que é prejudicial à saúde de grupos sensíveis
EPA/DIVYAKANT SOLANKI
A 21 de Novembro de 2023, o índice de qualidade de ar de Bombaim atingiu os 136 (numa escala que vai até 200), o que significa que é prejudicial à saúde de grupos sensíveis
EPA/DIVYAKANT SOLANKI
EFEITO DE ESTUFA
Concentração de dióxido de carbono na atmosfera desde 1960
CO2 em partes por milhão (ppm)
Ano após ano, a Terra está cada vez mais longe do limiar de segurança em termos da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, o principal gás responsável pelo efeito de estufa, emitido através da queima de combustíveis fósseis, e o principal responsável pelas alterações climáticas. Esse limiar, de 350 partes por milhão (ppm) de concentração de CO2, foi ultrapassado em 1988. Volvidos 35 anos, o valor médio está perto dos 420 ppm. Com o actual nível de emissões, cuja maior responsabilidade é de uma minoria de nações, a cada mês que passa torna-se mais difícil impedir que o aumento de temperatura média da Terra ultrapasse os 1,5 graus em relação à época pré-industrial, que é vista como uma barreira de segurança.
Emissões globais de gases com efeito de estufa
As emissões mundiais dos gases com efeito de estufa, contabilizadas em CO2 equivalente, ainda não atingiram um ponto de inflexão.
Em megatoneladas (mt)
Compromisso de emissões dos países
Limite de emissões até 2030 para a temperatura ficar abaixo dos 2ºC
Limite de emissões até 2030 para a temperatura ficar abaixo dos 1,5ºC
Além do dióxido de carbono, o metano (CH4), o dióxido de azoto (NO2) e os hidrofluorocarbonetos emitidos para atmosfera também contribuem para o efeito de estufa. O potencial de aquecimento global de uma molécula de CH4 é equivalente a 25 moléculas de CO2, já o de uma molécula de NO2 é equivalente a 298 moléculas de CO2. Apesar disso, tanto o CH4 como o NO2 permanecem muito menos tempo na atmosfera do que o CO2.
O gráfico acima mostra tanto a evolução das emissões totais de gases com efeito de estufa como apenas as emissões do CO2, que é o maior responsável pelas alterações climáticas. Olhando para o horizonte de 2030, fica claro que o compromisso dos países para baixarem as emissões está muito longe do necessário para se evitar que o mundo não aqueça acima dos 1,5 graus Celsius, ou mesmo de dois graus Celsius.
Os maiores emissores de gases com efeito de estufa
Emissões totais por país
Em megatoneladas de CO2 equivalente
Emissões per capita de cada país
Em toneladas de CO2 equivalente
Historicamente, a Europa e os Estados Unidos (EUA) eram os maiores emissores de gases com efeito de estufa. Desde o ano 2000, as emissões da China aumentaram a pique, levando rapidamente o país ao primeiro lugar dos maiores emissores. Apesar disso, os cidadãos da Rússia e dos EUA ainda são os que mais emitem gases com efeito de estufa. Já a Índia, o país mais populoso do mundo, é o que emite menos per capita entre o lote aqui apresentado.