O tubarão-branco é um navegador solitário, mas esta dupla está a intrigar cientistas

Os dois tubarões-brancos machos Jekyll e Simon têm viajado juntos e os cientistas não sabem porquê. E acreditam que esta migração pode ser inédita.

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Dois tubarões-brancos no sul da Austrália (não são os tubarões Jekyll e Simon) Stephen Frink/GETTYIMAGES
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Foi quando um grupo de cientistas colocou dispositivos de localização em dois grandes tubarões-brancos, ao largo da costa da Geórgia (EUA), em Dezembro, que começaram a notar um comportamento invulgar.

Os tubarões percorreram caminhos semelhantes ao longo da costa atlântica dos EUA, chegando à costa sul da região canadiana da Nova Escócia no mesmo dia do mês passado. Os cientistas pensam que a sua migração possa ser inédita.

Os tubarões-brancos (Carcharodon carcharias) são tipicamente solitários e predadores ferozes no topo da cadeia alimentar do oceano, afirmou Robert Hueter, cientista-chefe da Ocearch, uma organização sem fins lucrativos do estado norte-americano de Utah que estuda a vida marinha. Mas Hueter, que estuda tubarões desde a década de 1970, diz que nunca tinha visto tubarões-brancos percorrerem rotas semelhantes ao mesmo tempo durante meses.

Os dois tubarões machos, a quem os cientistas deram o nome de Jekyll e Simon, nadaram cerca de 6437 quilómetros e foram avistados juntos pela última vez em Julho, ao largo da costa leste do Quebeque.

Hueter, de 71 anos, não sabe porque é que os tubarões estão a fazer estas travessias juntos, mas afirmou que está a aguardar os resultados das amostras de sangue para determinar se Jekyll e Simon têm algum grau de parentesco.

Os tubarões-brancos "já eram mais complexos do que pensávamos", disse Hueter ao The Washington Post. "Agora isto acrescenta um elemento totalmente novo de componente familiar e social na migração", afirmou.

A Ocearch, com sede em Park City, Utah, começou a seguir tubarões no Oceano Atlântico em 2012. Os cientistas capturam tubarões-brancos e recolhem amostras de sangue, muco, fezes e urina. Medem os seus corpos e olhos e fazem ecografias às fêmeas adultas. De seguida, colocam três dispositivos de localização nos tubarões: no abdómen, na pele e na barbatana dorsal. Em 20 minutos, os cientistas conseguem libertar os tubarões de volta ao oceano.

Ao monitorizar os tubarões-brancos, os cientistas esperam saber onde vivem, onde se reproduzem, onde comem e para onde migram. Isto ajuda-os a identificar as áreas onde esta espécie vulnerável necessita de protecção.

Sabia que...

… os tubarões existem há mais tempo do que as árvores e dinossauros? Os tubarões existem há mais de 450 milhões de anos e as árvores “só” há 350 milhões de anos; já os primeiros dinossauros deverão ter surgido há 230 milhões de anos. Além disso, os tubarões sobreviveram também a (pelo menos) quatro eventos de extinção em massa. Agora, estão ameaçados pelas alterações climáticas e pela acção humana.

Até à data, a Ocearch seguiu 92 tubarões-brancos, incluindo o Simon e o Jekyll. O tubarão Simon, com 2,7 metros de comprimento e 197 quilos, foi capturado perto da ilha de St. Simons, na Geórgia, a 4 de Dezembro. Jekyll foi apanhado cinco dias depois perto da ilha de Jekyll, na Geórgia, e media 2,64 metros e pesava 179 quilos. Hueter disse que os dois tubarões têm entre 10 e 15 anos de idade.

Em Abril, Jekyll e Simon começaram a nadar ao longo da costa atlântica, passando por Ocracoke, na Carolina do Norte, Virginia Beach e Atlantic City em alturas semelhantes. Embora nenhum dos outros tubarões-brancos rastreados se tenha deslocado em pares, Hueter disse que Jekyll e Simon ficaram entre 16 a 160 metros um do outro.

Os tubarões passam algum tempo juntos nas mesmas áreas para acasalar e comer, disse Hueter, mas normalmente migram sozinhos – para o norte no Verão e para o sul no Inverno. Outros animais, como as aves, o salmão e as renas migram em grupos.

"O comportamento social nos tubarões é algo que não é particularmente bem conhecido", disse Hueter. "E não se pensa que seja algo que eles tenham muito, excepto talvez em casos isolados de certas espécies."

A 4 de Julho, Robert Hueter questionou-se sobre os padrões de migração dos tubarões quando viu Jekyll e Simon chegarem perto da costa sul da Nova Escócia. Perguntou-se se o facto de terem o mesmo sexo ou dimensões físicas semelhantes os teriam levado a percorrer caminhos semelhantes. Também tem curiosidade em saber se são irmãos. Se Jekyll e Simon forem parentes, isso pode mostrar que os tubarões estão mais próximos das suas famílias do que se pensava, disse Hueter.

Desde então, os dois tubarões passaram por Halifax a capital da Nova Escócia e pelo Golfo de São Lourenço. O dispositivo de localização do tubarão Jekyll registou que se encontrava pela última vez na costa oriental do Quebeque – perto de Chandler – a 18 de Julho. Simon estava nessa zona na mesma data.

O sensor de Simon tocou pela última vez a 11 de Agosto na costa nordeste da região de New Brunswick. Quando o dispositivo de localização do Jekyll voltar a tocar, Hueter espera ansiosamente para saber se se encontra perto de Simon.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post