Mito: os fios de cabelo podem ser deitados na sanita?
O descarte incorrecto de fios de cabelo na sanita e nos ralos da casa de banho pode afectar não só a saúde e bem-estar dos ser humanos, mas também de espécies marinhas. Onde deitá-los fora, então?
Ao pentear ou lavar o cabelo, é comum alguns fios caírem. Quando tal acontece, muitas pessoas têm o hábito de os deiar na sanita ou, simplesmente, deixá-los no ralo para que a água os leve pelo cano. Apesar de parecer inofensiva, esta prática pode comprometer o trabalho que é feito nas estações de tratamento de água e resíduos. A acumulação de cabelo nos tubos pode levar a obstruções e entupimentos, fazendo com que o esgoto chegue aos rios e mares. Assim, a saúde de espécies marinhas e o bem-estar da comunidade são postos em risco.
O Director de Operação da Tejo Atlântico, Pedro Álvaro, explicou ao Azul que “os cabelos são fibras compridas que, por vezes, enrolam-se ao longo do caminho do esgoto. Assim, agregam-se uns aos outros e criam um objecto de maior dimensão que promove entupimentos”. O director acrescenta ainda que os cabelos mais longos têm maior propensão para causar obstruções.
A questão torna-se mais desafiante em pequenas cidades, visto que os colectores, tubos que transportam o esgoto para a estação de tratamento de água e resíduos (ETAR), costumam ter também uma pequena dimensão. “Quando há entupimentos, há transbordo de esgoto para as linhas de água ou para as estradas”, esclareceu Pedro Álvaro.
Relativamente aos entupimentos em zonas urbanas, o director de operação ressalta o incómodo gerado pelo mau cheiro do esgoto. Uma vez que os resíduos sem tratamento não conseguem chegar às ETAR, há descarga desses compostos na linha de água, podendo atingir os mares e oceanos. Além do prejuízo gerado aos organismos marinhos, a saúde humana também pode ser prejudicada pela ingestão de água contaminada e intoxicação alimentar por ingestão de alimentos com a presença de vírus e bactérias do esgoto.
A disseminação do esgoto nas águas pode contribuir para o surgimento de marés vermelhas — quando há proliferação de plâncton marinho tóxico — em várias massas de água devido à alta concentração de nutrientes, como azoto e fósforo, presentes no esgoto. Essas algas microscópicas libertam toxinas prejudiciais ao ecossistema aquático, representando uma ameaça para a vida marinha e comunidades costeiras que dependem dos recursos marinhos para a subsistência, como a indústria pesqueira e a aquacultura.
Além disso, Pedro Álvaro reforça que o esgoto é composto por matéria orgânica que ainda não foi tratada, ou seja, a presença de toxinas do esgoto pode causar intoxicação e doenças em várias espécies marinhas. A acumulação de poluentes, como metais pesados e compostos orgânicos, pode afectar o sistema imunológico dos animais, tornando-os mais vulneráveis a doenças e infecções. A contaminação também pode comprometer a disponibilidade de alimentos para essas espécies, uma vez que a presença de esgoto pode resultar em morte de organismos aquáticos e afectar a cadeia alimentar marinha.
Se, ao deitar os fios de cabelo na sanita, o ecossistema marinho e a saúde humana podem sair prejudicados, então qual a forma de descarte correcta? A resposta é simples: no lixo indiferenciado, que já costuma existir nas casas de banho. Pedro Álvaro enfatiza que o único material a ser deitado na sanita, além daqueles da sua finalidade, é o papel higiénico.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva