Onda de calor: temperaturas na Europa dirigem-se para um “climax”

Nesta terça-feira, as temperaturas podem bater o recorde de 48,8 graus Celsius. O calor abranda no final da semana, mas o alívio não deverá durar muito tempo. Sardenha chegou já a 48 graus Celsius.

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Mulher refresca-se ao passar por uma névoa de água durante um dia quente de Verão em Bucareste, Roménia, 24 de Julho de 2023. Prevê-se temperaturas acima do normal na capital da Roménia e nas regiões do sul para os próximos dois dias. Bucareste está com o alerta de código vermelho por causa das temperaturas do ar acima de 40 graus Celsius na sombra EPA/Robert Ghement
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Um homem descansa num banco com uma pequena ventoinha aos pescoço, em Valência, Espanha Reuters/EVA MANEZ
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Onda de calor em Itália Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE
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Incêndios sem controlo na ilha de Rodes, na Grécia Reuters/NICOLAS ECONOMOU
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Uma das piores vagas de calor de que há registo na Grécia e no sudeste da Europa está a dirigir-se para um clímax entre terça e quarta-feira, durante o qual as temperaturas podem bater recordes em Atenas e noutros locais. Esta terça-feira deverá marcar também o final de uma onda de calor implacável que persiste há mais de duas semanas na Grécia, em Itália e em grande parte do Sul da Europa, bem como no Norte de África.

Na segunda-feira, o termómetro atingiu 48 graus Celsius na Sardenha, a segunda maior ilha de Itália, a temperatura mais elevada alguma vez observada na Europa durante o mês de Julho. As temperaturas excessivamente elevadas inundaram os hospitais com pessoas afectadas pelo calor excessivo, encerraram os locais de interesse turístico e alimentaram enormes incêndios florestais.

Grandes incêndios continuam a deflagrar em várias zonas, incluindo nas zonas rurais perto de Atenas. No fim-de-semana, 19 mil turistas e residentes fugiram da ilha grega de Rodes, a maior retirada de pessoas por causa de incêndios na história do país.

O calor – intensificado pelas alterações climáticas causadas pelo homem – e os incêndios estão ligados, de acordo com um estudo recente. "A prevalência e o carácter extremo dos incêndios já ultrapassaram a sua variabilidade pré-industrial no Mediterrâneo devido às alterações climáticas", afirma o estudo, publicado na revista Reviews of Geophysics.

Embora haja uma pausa no calor que se desloca para leste através do Sul da Europa nesta semana, que chegará à Grécia e a países vizinhos na quarta-feira, o padrão climático implacavelmente quente está pronto para voltar na próxima semana.

Esta segunda-feira foi mais um dia de muito calor no Sul da Europa, especialmente em Itália e na Grécia, e a sul, no Norte de África.

O termómetro atingiu um máximo histórico de 48 graus Celsius em Jerzu, no lado oriental da Sardenha. A confirmar-se, será a temperatura mais elevada registada em Julho em toda a Europa, segundo o meteorologista Maximiliano Herrera.

Fim-de-semana de recordes trágicos

Várias outras localidades da Sardenha atingiram pelo menos 47,2 graus Celsius, incluindo Decimomannu, na costa Sul, e Olbia, no nordeste. Na Sicília, as leituras atingiram valores próximos e superiores a 43,3 graus Celsius. Palermo, na costa Norte, atingiu pelo menos 45,3 graus Celsius, estabelecendo já um recorde nesta região.

A capital da Tunísia, Tunes, registou durante a tarde, no Aeroporto Internacional de Tunes-Cartago, temperaturas de pelo menos 48,9 graus Celsius. Temperaturas entre os 43 e os 48 graus Celsius espalharam-se por toda a região. As leituras de 37,8 graus a 43 graus Celsius também se estenderam para o leste da Turquia.

No domingo, a história foi semelhante, com temperaturas de 32,2 graus ou mais elevadas, que se estenderam de Espanha até ao sul de França, e depois para leste, atravessando a Itália, a Grécia e a Turquia. Esta foi uma ligeira expansão para norte em relação a sábado, com um padrão de temperatura semelhante.

A Grécia e a Itália atingiram pelo menos 46,1 graus no domingo. A capital da Argélia, Argel, subiu para 48,7 no domingo, estabelecendo mais um recorde. A cidade de Kairouan atingiu 49 graus Celsius, também um recorde para o mês de Julho.

O calor abrasador assolou esta mesma região durante grande parte da semana passada. Algumas localidades da Grécia e do Sul de Itália registaram temperaturas elevadas de pelo menos 43 graus durante a maior parte ou a totalidade das duas últimas semanas.

"Provavelmente, vamos passar por 15 a 16 dias de onda de calor, o que nunca aconteceu antes no nosso país", disse Kostas Lagouvardos, director de investigação do Observatório Nacional de Atenas, à CNN.

Apesar de estar quase a chegar uma pausa do calor, a Grécia e partes do Sul de Itália poderão registar o tempo mais quente de sempre nesta terça-feira. São prováveis temperaturas máximas a passar os 46 graus em grande parte da Grécia, incluindo nos arredores de Atenas, e depois também numa grande parte da bota de Itália.

As temperaturas poderão desafiar a marca mais alta amplamente aceite em Atenas, de 44,8 graus Celsius, estabelecida em Junho de 2007. Um subúrbio a noroeste da cidade detém o recorde para toda a Grécia de 48 graus em Julho de 1977, que também poderá ser ultrapassado.

Há, portanto, uma grande probabilidade de a temperatura mais elevada alguma vez observada na Europa ser ultrapassada nesta terça-feira. São 48,8 graus Celsius, que foram observados em Siracusa, na ilha italiana da Sicília, em Agosto de 2021.

Um alívio no final da semana, mas será breve

Na quarta-feira, quando o ar mais fresco chegar à parte ocidental do Sul da Europa, o núcleo do calor deslocar-se-á para leste, para a Bulgária, que poderá registar máximas de cerca de 46 graus Celsius, próximas do recorde nacional. O calor extremo persistirá também no leste da Roménia, em grande parte da Grécia e da Turquia, antes de ser esmagado mais a sul na quinta-feira.

No final desta semana, grande parte da Europa Oriental e Meridional vai registar uma rara e bem-vinda série de temperaturas próximas ou mesmo abaixo da média durante vários dias. Nas últimas semanas, estas características tem estado em grande parte confinadas ao Norte da Europa.

Mas no Sul da Europa, a pausa será provavelmente de curta duração. O tempo quente do Norte de África deverá regressar a norte durante o próximo fim-de-semana e depois pairar sobre o Sul da Europa na próxima semana. Para já, a intensidade não parece ser tão grande como a da vaga em curso, mas continua a ser bastante quente.

O calor na Europa ocorre numa altura em que grande parte do hemisfério Norte está preso a padrões de calor extremo que têm tardado a desaparecer nas últimas semanas. Estudos recentes sugerem que as alterações climáticas provocadas pelo homem podem estar a fazer com que a corrente de jacto se torne mais lenta, favorecendo ondas de calor prolongadas.

Em 2022, mais de 60 mil pessoas poderão ter morrido em ondas de calor em toda a Europa, durante o Verão mais quente de que há registo no continente.

Exclusivo PÚBLICO/Washington Post