Quer apadrinhar uma oliveira abandonada? Há um projecto para recuperar estas árvores
O projecto Apadrinha uma Oliveira chegou a Portugal, com o objectivo de recuperar 10 mil oliveiras – e cada padrinho também recebe azeite. E há uma oliveira com mais de mil anos.
Já pensou baptizar uma árvore centenária com um nome à sua escolha para ajudar na sua preservação? É este o objectivo do projecto Apadrinha uma Oliveira, lançado recentemente em Abrantes, região conhecida pela tradição do olival em Portugal. O objectivo da iniciativa é recuperar oliveiras com centenas – e até milhares – de anos através de um programa de apadrinhamento. Além da conservação, os padrinhos e madrinhas recebem dois litros de azeite da sua oliveira e contribuem para a criação de 27 postos de trabalho no município.
O projecto desembarcou recentemente em Santarém, inspirado pelo enorme sucesso da sua versão espanhola, o Apadrina un Olivo, em Oliete, na região de Teruel. O director-executivo deste projecto em Portugal, João Rijo, disse ao Azul que a decisão de importar a ideia foi “orgânica”, impulsionada pela preocupação com o crescente abandono dos olivais no país.
O objectivo é “aplicar os conhecimentos e experiências adquiridos em Oliete”, mas desta vez na região de Abrantes. Nos seus oito anos de existência, a iniciativa espanhola já recuperou mais de 15 mil oliveiras, gerando 16 postos de trabalho. Agora, a associação pretende replicar esse sucesso em terras lusas, visando a recuperação de 10 mil oliveiras.
Em Portugal, cada padrinho ou madrinha paga 60 euros por ano para ajudar com os custos da recuperação da oliveira afilhada: a poda para eliminar ramos secos, os trabalhos no solo, a fertilização do solo e o tratamento ecológico de pragas e irrigação, por exemplo.
“Queremos envolver os portugueses na protecção e conservação do seu património natural e cultural”, afirmou João Rijo. A escolha de Abrantes como local para avançar com a recuperação das árvores deu-se devido a esta região ter as oliveiras mais antigas em território nacional, diz, e de ter mais de 200.000 hectares de olivais abandonados, o equivalente a 2800 campos de futebol. “Decidimos agir e lutar para proteger e cuidar destas oliveiras antigas com o apoio da sociedade e do patrocinador”, acrescentou o director. Tanto a iniciativa espanhola como a portuguesa têm a empresa Endesa como principal patrocinador.
Entre as oliveiras à espera de apadrinhamento, há uma em destaque: a Conecta, que se estima que tenha mais de 1000 anos. O nome, segundo a organização, simboliza a ligação entre os mundos urbano e rural, que "estão mais próximos do que pensamos porque uns anseiam pelos recursos que não têm na cidade e outros procuram dar voz aos problemas do mundo rural." A idade da árvore foi calculada pela espessura do seu tronco e raízes.
As raízes do abandono dos olivais
O abandono dos olivais aconteceu devido à falta de substituição geracional nos campos por desinteresse ou falta de recursos financeiros, baixa rentabilidade económica quando comparada com outras áreas e o êxodo rural. No entanto, a preservação das oliveiras é essencial para atenuar os riscos de incêndios, fortalecer o ecossistema e promover o desenvolvimento económico local quando as árvores voltarem a ser produtivas. A associação também refere que as oliveiras nos ajudaram “a sobreviver durante muitos séculos” e que também é importante recuperá-las por serem um “símbolo de identidade” português.
A iniciativa visa criar até 27 postos de trabalho em Abrantes para fazer a manutenção das oliveiras. “Começámos por criar um grupo de trabalhadores no terreno, que são responsáveis e especialistas na recuperação do olival, e podem realizar os cuidados necessários para trazê-lo de volta à vida”, explica o responsável João Rijo. Além disso, a associação contratará uma equipa para produzir o azeite e outra para gerir o projecto e as visitas dos padrinhos e madrinhas. Assim, além da preservação e conservação das árvores, o desenvolvimento económico e social também é estimulado.
Para apadrinhar uma oliveira, basta aceder ao site da organização, escolher através das fotografias aquela de que mais gostar, pagar uma contribuição anual de 60 euros e atribuir-lhe um nome. João Rijo conta ao Azul que o projecto encoraja a nomeação da árvore, pois “é essencial poder representar ou simbolizar na oliveira a pessoa que se deseja homenagear.” Os padrinhos ou madrinhas recebem fotos do desenvolvimento da árvore apadrinhada e podem visitá-la fisicamente. Após a colheita, recebem dois litros de azeite das oliveiras recuperadas pelo projecto em garrafas desenhadas por um artista.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva