O projecto Oiá Plast, que já transformou mais de 350 quilos de plástico em novos produtos, venceu o primeiro lugar da segunda edição do Movimento Faz Pelo Planeta by Electrão. O segundo prémio foi atribuído ao Vintage for a Cause, com ênfase na moda circular, e o terceiro concedido ao Rotaeco, que busca a sensibilização e educação de jovens sobre o consumo sustentável. O anúncio dos premiados pela Electrão foi feito nesta quarta-feira no Monsantos Open Air, em Lisboa.
A co-fundadora da Oiá Plast, Isabel Bourbon, contou ao Azul que o nome da iniciativa tem relação directa com o seu objectivo: “Criámos a Oiá em Cabo Verde, porque eu vivia lá e o Patrick Barbosa [o outro fundador] é cabo-verdiano. Oiá significa ‘olha’, é uma chamada de atenção. É para as pessoas olharem para os plásticos como um material com potencial para ser valorizado.”
Desde a sua criação em 2019 na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, o projecto já reciclou mais de 350 quilos de resíduos plásticos. Devido à pandemia, a Oiá Plast mudou-se para um novo lar, agora localizado na vila de Cabeceiras de Basto, no distrito de Braga. Isabel Bourbon relata já notar a diferença no comportamento da comunidade quanto à reciclagem: “Estamos no interior do país, onde as pessoas não tinham o hábito de reciclar. E vê-los, de repente, começar a ter a preocupação de trazer-nos o plástico que usamos e depois ir ao ecoponto levar o que não precisamos é a maior conquista que poderíamos ter.”
O projecto recolhe, sobretudo, tampinhas, embalagens plásticas de detergentes, higiene pessoal e de iogurtes — as quais costumam ter um material mais resistente — para confeccionar saboneteiras, cabides, pequenas mesas, entre outras peças à venda no seu site. Com o incentivo financeiro de 7500 euros, valor entregue pela Electrão ao vencedor, a co-fundadora da Oiá Plast explica que poderão “adquirir outros tipos de máquinas que até agora não era possível” e, assim, desenvolver novos produtos mobiliários, como mesas maiores do que as vendidas actualmente.
Além disso, o reconhecimento proporcionado também é um factor destacado por Isabel Bourbon, que explica: “Vamos passar a colaborar com empresas na procura de soluções mais sustentáveis e fazer o nosso trabalho chegar a mais pessoas.” No projecto Oiá Plast, “tudo é 100% reciclado e 100% reciclável”, ou seja, as peças podem voltar a ser recicladas futuramente. Além dos produtos físicos, a organização também oferece acções de sensibilização com crianças e adolescentes sobre os processos de reciclagem e consumo consciente.
Desafiar as pessoas a fazer mais pelo ambiente
A segunda edição do Movimento Faz Pelo Planeta é uma iniciativa do Electrão — que faz a recolha de equipamentos eléctricos, pilhas e embalagem e os encaminha para a reciclagem —, em parceria com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ). A responsável de comunicação da Electrão, Ana Matos, explica que a iniciativa surgiu depois de se questionarem: “Como poderíamos desafiar as pessoas a fazer mais pelo ambiente?”. Assim, foram reunidos alguns “big changers”, como são chamados os agentes de mudança parceiros do projecto, para ser uma fonte de inspiração para as pessoas. Além disso, a responsável conta que os “big changers” também seriam parte do júri para “identificar os pequenos heróis do ambiente e da sustentabilidade” entre os candidatos.
Foram recebidas 70 candidaturas com “projectos muitos inovadores”, disse Ana Matos ao Azul. As ideias foram divididas em cerca de dez temas, tais como hortas urbanas, redução de desperdício alimentar e de água, reciclagem, reaproveitamento de materiais e upcycling ou sensibilização do tema. “O material que recebemos deu-nos a ideia do envolvimento em comunidade e como estes projectos de protecção ambiental podem ser, além de um factor de união das pessoas, um meio de geração de emprego, porque muitos deles são negócios também.”
Menções honrosas
Para além do vencedor, dois outros prémios foram atribuídos como menções honrosas. O projecto Vintage for a Cause, que recebeu um prémio no valor de 5000 euros, foca-se na moda circular, que visa a capacitação e integração social de mulheres por meio de actividades de costura. A instituição proporciona desfiles para que as modelos, que transformaram as próprias roupas, possam mostrá-las a todos. Já foi evitada a utilização de mais de cinco toneladas de resíduos ao longo de dez anos confeccionando peças a partir de resíduos têxteis.
O terceiro prémio, no valor de 2500 euros, foi concedido ao projecto Rotaeco. Surgiu em 2020, durante a pandemia de covid-19, e visa capacitar jovens para a sustentabilidade fornecendo informações por meio de publicações informativas nas redes sociais. A iniciativa, destinada aos estudantes universitários do Porto, envolve os jovens na solução, oferecendo workshops, webinars e acções como a recolha de roupas em segunda mão para venda solidária.
As candidaturas foram feitas através do envio de um vídeo de apresentação da ideia e o material ficou disponível para voto popular na plataforma do movimento. Posteriormente, os cinco mais votados foram avaliados por um júri — composto pelos “big changers” e pelos parceiros do Electrão: APA, IPDJ, Deco Proteste, Quercus, Liga dos Bombeiros Portugueses, Corpo Nacional de Escutas, EGF, ESGRA, Lidl Portugal e Veolia. A presidência do júri ficou a cargo do Electrão.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva