Boas notícias: foram descobertos oito ninhos de abutres-pretos este ano na Malcata

A associação Rewilding Portugal confirmou a existência de oito ninhos com crias nos primeiros seis meses de 2023. A descoberta é significativa para a conservação e preservação desta espécie em risco.

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Os abutres-pretos estão criticamente em perigo em Portugal JUAN LACRUZ
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No primeiro semestre de 2023, a descoberta de oito ninhos de abutres-pretos (Aegypius monachus) com crias na serra da Malcata representa um marco relevante para as acções de preservação desta espécie em Portugal. Desde 2021, 15 ninhos foram encontrados na região, 12 deles confirmados pela Rewilding Portugal, organização ambiental sem fins lucrativos. Esta descoberta é um avanço significativo na conservação desta ave que está gravemente em perigo.

Até 2020, apenas três colónias com cerca de 37 casais reprodutores eram conhecidas em Portugal. No entanto, em 2021, a Rewilding Portugal confirmou a existência de uma quarta colónia na serra da Malcata, na região da Beira Interior, com a presença de quatro ninhos ocupados.

Até 2022, eram conhecidos aproximadamente 40 ninhos de abutres-pretos nas quatro colónias existentes no país, sendo a maior no Parque Natural do Tejo Internacional. As outras três estão na Herdade da Contenda, serra da Malcata e no Douro Internacional (a mais pequena).

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Um abutre-preto (em cima) Miguel Manso

Essa descoberta permitiu actualizar a informação anterior do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que registava apenas um ninho ocupado na serra da Malcata. A região protegida abriga a terceira maior colónia de abutres-pretos em Portugal, mas com o potencial para se tornar a segunda maior ainda este ano, segundo a Rewilding Portugal.

Os avanços na conservação são resultados de medidas aplicadas por entidades como a Rewilding Portugal, o ICNF, autoridades espanholas e investigadores. Entre as medidas destacam-se a monitorização contínua e a criação de campos de alimentação privados para aves necrófagas, nos quais os produtores pecuários disponibilizam cadáveres de animais como alimento para os abutres-pretos.

Sara Aliácar, directora de conservação da Rewilding Portugal, explicou ao Azul os esforços realizados pela associação: "Quando soubemos da existência dos ninhos, passámos a monitorizá-los para perceber a utilização do espaço e hábitos alimentares. Também promovemos que haja mais ungulados no [Vale do] Côa para termos, consequentemente, mais carcaças." O aumento das populações de ungulados e os seus predadores naturais é referido pelas organizações por se tratar de fontes fundamentais de alimento para os abutres-pretos. Esses esforços também contribuem para o equilíbrio ecológico desses ecossistemas.

Estes abutres desempenham um papel crucial na natureza ao actuarem como agentes de limpeza de carcaças, impedindo que se acumulem e se tornem vectores de doenças e contaminação. Além disso, as aves ajudam a manter o equilíbrio ecológico ao limitar o acesso às carcaças e a reduzir a competição entre espécies, promovendo a diversidade ecológica.

Apesar dos esforços para a conservação, como o projecto Life Aegypius Return — lançado pela Vulture Conservation Foundation (VCF) em Novembro de 2022 para consolidar e expandir a população de abutres-pretos — e as medidas tomadas pela Rewilding Portugal, a espécie continua gravemente em perigo em Portugal. Algumas das causas são a redução do seu habitat, o envenenamento por substâncias tóxicas como o chumbo e o impacto humano.

Texto editado por Claudia Carvalho Silva