O que significa lutar pelo clima?
No fim de Abril e início de Maio assistimos novamente à ocupação de escolas por jovens activistas pelo clima, com uma chamada a uma acção no Porto de Sines a 13 de Maio. Trata-se duma geração à qual a mensagem que chega diariamente é de tragédia e desalento em relação às suas perspectivas futuras quer seja a nível de emprego ou habitação quer seja ao nível das alterações climáticas, e para a qual há uma contínua noção de urgência que exige que reacção e que se façam algo. É uma geração de jovens aos quais as escolas pedem/pediram recorrentemente trabalhos acerca de como o planeta está doente para além da recuperação.
Esta é a geração mais preocupada com o aquecimento global e mais preocupada com o impacto negativo no futuro do mundo. O crescente interesse pela sustentabilidade criou um espaço para os jovens fazerem campanha ininterrupta a exigirem acção continuada contra as alterações climáticas. Encabeçada pelas vozes de Greta Thunberg, Vanessa Nakate e Mya-Rose Craig, tornou-se uma geração dos activistas sustentáveis. Mais do que uma geração à rasca ou bastante enrascada começamos a assistir a uma geração que perdeu a esperança num mundo melhor a menos que tomem atitudes radicais.
Na época das experiências sociais televisionadas, atitudes mais radicais como ocupação de escolas e universidades, ocupação de redes de transportes públicos ou tentativas de destruição de obras de arte como se tem assistido noutros países, dão direito a um circo mediático que atiçam a mais acções para que os telespectadores sejam brindados com o espectáculo. Um espectáculo que as redes sociais exponenciam. E se resultou com Greta Thunberg, elevada ao estatuto de vedeta mundial, porque não replicar até à exaustão? A mensagem assertiva de Greta Thunberg “Estão a roubar-nos o nosso futuro” é uma chamada à acção extremamente motivadora.
E não faltam os apelos à acção que catalisam estes jovens, inclusive com o apoio da Comissão Europeia. “Tu vives em democracia, mas não cedes quando se trata do ambiente!” diz insistentemente um anúncio que no final do ano passado, e já este ano, passou a todas as horas na rádio com maior audiência em Portugal. Na Alemanha grupos de jovens e menos jovens contestaram a expansão das minas de carvão e a destruição de parques eólicos e aldeias em resultado desta expansão. Ao mesmo tempo que saúdam o encerramento das centrais de energia nuclear, a energia de baixo carbono que menos carbono produz ao longo do seu ciclo de vida (5-6 g CO2 /kWh). Em Março, Greta Thunberg foi brevemente detida pela polícia de Oslo durante um protesto contra os parques eólicos construídos em terras indígenas na Noruega no qual disse que transição para a energia verde não pode fazer-se à custa dos direitos dos indígenas.
Estes jovens “comprometem-se a criar disrupção para parar com a destruição” mas de que forma estão a contribuir para a mudança? Gritos de ordem, cartazes coloridos e danças coreografadas asseguram uns minutos de animação televisiva. Mas apesar do impacto mediático que as ocupações conseguem ter, no meio de todo o ruído não creio que estejam a passar a mensagem da forma adequada e eficaz. A mensagem que passa é que estes jovens irreverentes contestam, mas sem fundamentar as suas opiniões ou consolidarem o seu conhecimento do tema, dando azo a que a opinião pública se maravilhe com a “ignorância desta geração”. Muitos se lembrarão como exemplo, o infeliz momento televisivo em que, aquando da última ocupação em Novembro, um jovem desta tribo de activistas, apareceu no Jornal da Noite da SIC dizendo que contestava o plano do ministro (da economia) confessando segundos depois o total desconhecimento do plano.
Para sermos bem-sucedidos na luta pelo clima, temos de criar oportunidades e de envolver as novas gerações. Mas tem de ser muito mais e ir muito além do activismo disruptivo em prol da sustentabilidade! Uma das formas é apoiar as Universidades no seu esforço para atrair estudantes interessados em desenvolver competências empresariais e STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Mas não basta atraí-los, é preciso dotar as universidades da capacidade financeiras e materiais para lhes providenciar uma formação de qualidade com possibilidade de participarem em áreas onde a investigação é feita no estado-da-arte, proporcionando a que estes estudantes possam vir a ser parte da solução. Há uma crise de mão de obra qualificada, essencial para apoiar a transição energética, que poderia ser catalisadora mas na qual não estamos a ser capazes de capitalizar. Seja porque há uma percepção de reduzidas oportunidades de emprego, uma vez que a China já domina 70% da produção de tecnologias limpas e dos seus componentes, ou porque outras áreas são mais apelativas, e a cinética do activismo é mais apelativa que a dinâmica da transição energética.
Há também falta duma discussão plural sobre os temas, sendo a discussão centrada na Santíssima Trindade das renováveis, do hidrogénio e dos veículos eléctricos. É importante promover na sociedade em geral, incluindo jovens e menos jovens, a discussão sobre a energia que consumimos e sobre as formas como poderemos chegar às metas de descarbonização, estimulando a curiosidade e uma visão crítica sobre o assunto e, sobretudo, estimulando a procura duma perspectiva mais abrangente dos problemas e soluções. Jovens de horizontes amplos encontram mais interesses para explorar, competências a desenvolver e perspectivam melhor a forma como poderão contribuir.
O que significa lutar pelo clima? Não pode ser só activismo e disrupção. Rabos ao léu põem a nu que existe um problema, mas pouco avançam na resolução deste! Temos de criar as condições para que a rebeldia do activismo se transforme em capacidade para inovar e em dinâmica de mudança.