Transição para a competitividade do digital
As empresas portuguesas devem ser apoiadas e incentivadas na transição digital, porque estão claramente a ficar para trás e quem o diz é uma entidade insuspeita.
Todos os anos, o conceituado instituto suíço IMD (International Institute for Management Development), publica o ranking de competitividade digital, que mede a capacidade das economias em adotar e explorar as novas tecnologias digitas para transformar práticas governamentais, modelos de negócios e sociedade em geral.
Na edição de 2022, Portugal surge num modesto 38.º lugar em 63 países analisados, sendo que descemos quatro lugares em relação à edição de 2021 e seis lugares em relação a 2018. Países como o Cazaquistão, Malásia, Bahrain e Qatar ocupam melhores lugares que o nosso país.
O problema nem está tanto no facto de Portugal perder pontuação no ranking, os outros países é que se encontram em progressão em termos de digitalização e somos ultrapassados. Está a acontecer em muitas áreas como a produtividade, crescimento económico ou até na criação de riqueza per capita. Vamos lentamente sendo ultrapassados, principalmente nestas duas últimas décadas fruto de más opções tomadas em termos políticos.
O índice é composto por três principais eixos: conhecimento a nível de capacidade, para descobrir e compreender as novas tecnologias; o contexto geral que permite o desenvolvimento de tecnologias digitais; e o nível de preparação do país, para explorar e beneficiar da transição para o digital.
Como facilmente se depreende estamos mal posicionados em todos estes eixos, sendo que onde temos perdido mais posições é no nível de preparação do país para explorar e beneficiar da transição para o digital. Em vez de progredirmos na preparação do país para o digital, outros países tomam a dianteira e estamos posicionados num inacreditável 60.º lugar. Analisado o índice mais em detalhe conseguimos perceber que só a Grécia, a Mongólia e surpreendentemente o Japão, conseguem fazer pior que Portugal. Países como a Roménia, Turquia, Tailândia ou Venezuela estão mais bem posicionados. Na realidade estão quase todos mais bem posicionados. Falta de agilidade das empresas na transição para o digital, medo de falhar, transferência de conhecimento, uso e interpretação analítica para tomar decisões baseadas em dados, são quatro dos 54 itens que devemos claramente progredir.
Sem uma clara redução de custos provenientes do digital, continuamos a perder competitividade internacional no mundo real, porque a produtividade não aumenta. Além de simplificar processos de desenvolvimento de produtos, prejudicando assim, o tempo de colocação de novos produtos no mercado, permite diminuir o retrabalho ao melhorar as taxas de conformidade. Do lado externo das empresas, podemos melhorar a experiência do cliente. As vantagens da transição para o digital não se ficam só por aqui. São imensas.
É precisamente no terceiro eixo que devem estar centradas as nossas maiores preocupações. Verbas do Plano de Recuperação e Resiliência, do Portugal 2030, bem como a atribuição de benefícios fiscais, devem privilegiar e apoiar este tipo de projetos. A transição para o digital é uma prioridade e não tem volta. As empresas portuguesas devem ser apoiadas e incentivadas nestas iniciativas, porque estão claramente a ficar para trás e quem o diz é uma entidade insuspeita. Não é política ou demagogia da oposição, é a realidade.
Apesar de, já existir uma preocupação governamental com esta transição e já existirem apoios, verifica-se que para muitas empresas a mensagem ainda não passou. Os sinais externos devem ser interpretados e não desvalorizados ou ignorados.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico