O mar roubou mais uma casa à beira-mar em Rodanthe, na Carolina do Norte (EUA). Nesta pequena comunidade ladeada pela água, a erosão costeira severa fez com que muitos proprietários saíssem das suas casas à beira-mar antes que enfrentassem um destino parecido.
Uma casa localizada na rua East Point Drive (número 23228) desmoronou-se por volta do meio-dia de segunda-feira, informaram as autoridades locais. Esta é a quarta casa que o mar destruiu desde o início do ano passado, numa comunidade que enfrenta uma das taxas mais rápidas de erosão costeira e de subida do nível do mar na Costa Leste dos Estados Unidos.
Noah Gillam, director de planeamento no condado de Dare (a que pertence a localidade de Rodanthe), disse que os funcionários do condado e do Serviço Nacional de Parques dos EUA, que monitoriza também a costa, tinham conseguido contactar os proprietários da habitação, que tinha três quartos e duas casas-de-banho. O responsável disse que a electricidade já estava cortada nessa casa desde Maio passado, quando os funcionários consideraram a habitação insegura para viver.
"O proprietário será responsável pela limpeza da propriedade", disse Gillam num email, dizendo que estavam a "a patrulhar as áreas circundantes."
O Serviço Nacional de Parques disse ainda, em comunicado, que embora a maior parte dos destroços da casa desmoronada tivesse permanecido até agora perto do local, "os visitantes devem ter cuidado ao participar em actividades recreativas na praia e no oceano" perto da casa.
"É doloroso", disse o comissário municipal Danny Couch, que foi fazer o levantamento dos danos na segunda-feira à tarde. "A verdade é que são apenas estruturas, tijolos e argamassa. Mas, ao mesmo tempo, são os sonhos de alguém."
Como salvar as casas do mar invasor?
Os dados federais mostram que na enseada vizinha do Oregon, o nível do mar é cerca de 18 centímetros mais alto do que há várias décadas, sem sinais de abrandamento. Dados estatais mostram também que partes de Rodanthe têm vindo a perder cerca de uma dezena de metros ou mais por ano devido à erosão.
À medida que mais casas têm caído para o oceano e à medida que a praia vai desaparecendo, dezenas de proprietários na zona têm-se esforçado por afastar as suas casas do mar invasor, mesmo sabendo que uma mudança tão dispendiosa poderia fazer ganhar apenas um pouco de tempo.
"Vivo lá há 20 anos, e no último ano, estou a ver a erosão da linha costeira como nunca vimos", disse ao The Washington Post, recentemente, Cindy Doughty, uma residente de longa data que está actualmente a pagar para mudar a sua casa para a vizinha South Shore Drive. "É realmente dramático".
Recuar as casas para a estrada
Não muito longe, na Seagull Street, uma dúzia de proprietários assinou declarações no ano passado, pedindo autorização ao condado de Dare para que se abandone a estrada que passa em frente às suas casas, para que possam ter mais espaço para mudarem as suas casas um bocadinho mais para o interior, o mais longe possível do mar. A comissão do condado autorizou.
O recuo colectivo deverá começar em breve e, tal como noutros locais ao longo deste trecho de ilha- barreira precária, acontecerá à custa dos proprietários das casas.
"Todos querem especular sobre a Mãe Natureza", disse recentemente ao The Post Gus Gusler, um proprietário local que planeia mudar a sua casa de sítio. "A Mãe Natureza vai fazer o que a Mãe Natureza vai fazer".
Como se paga?
Ao longo do tempo, as tensões adensaram-se em Rodanthe em relação ao que significará o agravamento da erosão para os valores imobiliários, turismo e qualidade de vida - assim como para saber o que deve ser feito para enfrentar o problema e quem tem a responsabilidade. Muitos proprietários argumentam que o governo deveria estar a fazer mais para ajudar a combater a erosão, e que os possíveis compradores deveriam ter mais informação sobre os riscos cada vez maiores.
Muitos funcionários do governo manifestaram solidariedade em nome próprio pelos proprietários que lutam para proteger as suas propriedades, mas também insistem que há pouco que possam fazer a curto prazo para ajudar. Nenhuma injecção de dinheiro estatal ou federal parece provável a curto prazo.
Numa reunião de Janeiro com residentes de Rodanthe, alguns funcionários do condado de Dare explicaram que houve vários projectos que tornaram as praias mais robustos nas redondezas, mas foram financiados em parte pelos municípios, assim como através de receitas provenientes de um imposto de ocupação de hotéis e arrendamentos de férias.
A pequena base tributária de Rodanthe não gera actualmente o suficiente para cobrir um projecto tão maciço e contínuo, disse o gestor do condado, Bobby Outten. E o fundo de renaturalização da praia do condado tem actualmente apenas cerca de 6 milhões de dólares (cerca de 5,6 milhões de euros). Um estudo de engenharia realizado há uma década concluiu que uma operação deste género custaria 20 milhões de dólares (cerca de 18,6 milhões de euros) em Rodanthe, um número que certamente seria mais elevado em 2023.
"A questão torna-se então: Como é que se paga?" questionaram-se na reunião de Janeiro.
Viver em cima do oceano
Ainda assim, a erosão costeira contínua e desmoronamentos como o que aconteceu na segunda-feira continuam a deixar os proprietários da zona desestabilizados e frustrados.
"A praia ainda não está limpa, é uma questão de segurança", disse Matthew Storey, proprietário de uma propriedade à beira-mar, às autoridades na reunião de Janeiro, referindo-se às casas que tinham desmoronado meses antes. "Sempre que vou dar um passeio, estou a apanhar madeira".
Segundo os registos de propriedade, a casa de 103 metros quadrados que ruiu na segunda-feira foi construída em 1976, quando existia muito mais praia entre a estrutura e o oceano. A casa, que nos anúncios de aluguer aparentava ser apelidada de "I Can Smell The Ocean" (Consigo Cheirar o Oceano, numa tradução livre), está listada como sendo propriedade de uma família da Pensilvânia, que não conseguimos contactar para este artigo.
Couch, o comissário municipal, disse que não havia nada de particular no estado do tempo na segunda-feira, em que os mares revoltos lançavam ondas fortes para agitar a linha costeira. O oceano estava um pouco mais agreste do que o normal, mas tais condições são comuns durante os meses de Inverno.
"Mas é quanto bastará para derrubar algumas destas casas", disse Couch.
De facto, há outras casas nas proximidades que já se encontram mais perto da água do que a propriedade que foi derrubada na segunda-feira, disse o comissário. "O dia delas vai chegar muito em breve".