Os activistas climáticos que tentaram parar o projecto ConocoPhillips, um projecto de perfuração multibilionário proposto no Alasca, lutaram durante anos para atrair atenção para a sua causa.
Mas, enquanto a administração Biden se prepara para tomar a decisão final relativamente ao projecto controverso, “Willow” tornou-se uma tendência no TikTok. No início de terça-feira, os hashtags #StopWillow e #StopTheWillowProject atingiram, respectivamente, 148 milhões e 150 milhões de visualizações, na aplicação.
“Nunca vi tantos vídeos, comentários e menções sobre um tópico climático nas redes sociais”, disse Alaina Wood, uma cientista e activista climática de 26 anos com mais de 353 mil e quinhentos seguidores no TikTok.
O projecto Willow é uma proposta da ConocoPhillips' de 6 mil milhões de dólares para perfurar petróleo e gás no Alasca, localizado dentro da Reserva Nacional de Petróleo, uma área de 23 milhões de acres (93 milhões de hectares).
O alvoroço online ao redor de Willow é provavelmente, em parte, devido à aproximação do prazo de decisão da administração Biden. A decisão pode chegar já esta semana.
O lucro e o prejuízo
O argumento de quem propõe este projecto é que ele criaria milhares de empregos e seria uma fonte de receita para os nativos do Alasca. No entanto, os críticos acreditam que aprovar o projecto Willow vai contra a promessa de Biden, presidente dos EUA, de pôr fim a novas perfurações de petróleo em terras federais, e que aprovar a nova perfuração levaria a impactos climáticos significantes.
Uma recente análise ambiental, realizada pela administração Biden, estimou que o projecto geraria cerca de 9,2 milhões de toneladas métricas de dióxido de carbono por ano, o equivalente a conduzir quase 2 milhões de automóveis a gás.
Activistas e peritos afirmam que a vaga de publicações no Tiktok relacionados com o Willow envia uma mensagem clara aos políticos: os jovens, uma parte importante dos eleitores, preocupam-se profundamente com as questões climáticas e estão dispostos a tornar clara a sua posição.
Desde que o movimento #StopWillow ganhou importância nas redes sociais, os activistas dizem terem sido enviadas mais de um milhão de cartas para a Casa Branca e que uma petição online angariou 2,9 milhões de assinaturas e outra em curso conta com mais de 850 mil.
A Casa Branca não respondeu a um pedido de comentário do Washington Post na segunda-feira.
“Isto não são grupos ambientais”, disse Elise Joshi, uma estudante de 20 anos da Universidade da Califórnia em Berkeley e directora executiva da organização sem fins lucrativos Gen-Z for Change. Joshi, que tem mais de 122 mil e quinhentos seguidores no TikTok, e que postou um dos primeiros vídeos na plataforma a chamar atenção ao projecto Willow, no início de Fevereiro. Desde então, o vídeo foi visto cerca 327 mil vezes.
“Isto são os jovens como um todo, como base eleitoral, a tomar medidas” para um futuro sustentável, continuou Joshi. “Isto é uma das maiores acções a avançar no TikTok. Tem demonstrado que estamos dispostos a lutar.”
Willow é um sintoma de ansiedade climática?
Campanhas online dedicadas às alterações climáticas e a questões ambientais não são nada de novo, segundo Dana R.Fisher, uma professora de sociologia na Universidade de Maryland, que estuda movimentos activistas. Mas, enquanto os vídeos sobre o Willow no TikTok possam parecer um conteúdo parecido a outros tópicos climáticos, "é muito diferente em termos de envolvimento", disse Dana Fisher, que tem acompanhado o movimento.
Podem existir uma variedade de factores a contribuir para o interesse no projecto Willow nas redes sociais, particularmente entre jovens. A actividade online pode ser “uma manifestação da sua ansiedade climática”, afirma Wood.
“Este acontecimento é um exemplo muito concreto disso, ‘as alterações climáticas são absolutamente aterrorizantes, e eu tenho que fazer alguma coisa’, algo deste género”, disse ela.
A desinformação online sobre a dimensão em que o projecto Willow afectaria os esforços para combater as alterações climáticas apenas alimentaram a preocupação das pessoas, afirma Wood, acrescentou que tem partilhado conteúdo no TikTok numa tentativa de tranquilizar os espectadores que pensam que as alterações climáticas vão ser “irreversíveis se isto for aprovado, o que não é verdade”.
Os jovens podem também estar motivados a agir porque acreditam que são capazes de influenciar um presidente que quer ser visto como “um campeão do clima”, afirma Joshi.
As pessoas devem acreditar que “há uma oportunidade para parar isto se levantarmos as vozes e agirmos como um colectivo”, acrescentou. “Há realmente uma hipótese aqui.”
O poder de publicar um vídeo
No entanto, a questão permanece, se o movimento nas redes sociais, em grande parte orgânico, que invade neste momento o TikTok pode resultar em impactos a longo prazo, disse Fisher.
"Não é uma questão de não terem capacidade política", disse Fisher. "É apenas uma questão de perceber até que ponto este tipo de mobilização tem o poder e a capacidade de se manter por muito tempo." “Verdadeiro envolvimento político” notou, “envolve mais do que clicar em alguma coisa e publicar um vídeo”.
Outras pessoas que têm publicado online sobre o Willow, como Alaina Wood, estão preocupadas que os seus esforços possam não ser suficientes para travar o projecto.
“Ainda estou preocupada que a decisão já tenha sido tomada e que tudo isto já não importe muito”, disse Wood. “Mas espero que, se continuarmos a pressão pública ao longo da semana, ainda exista uma hipótese. Estou cautelosamente optimista.”
Mas, diz Dana Fisher, a Casa Branca está provavelmente a prestar atenção ao discurso dos meios de comunicação social que rodeiam o projecto. “A administração Biden tem estado muito atenta aos jovens e às suas opiniões, e parecem acarinhar influenciadores de uma forma que eu nunca tinha visto", diz. “Não me surpreenderia que nos ouvissem mais se os grupos verdes tradicionais estivessem também a enviar o mesmo número de mensagens.”