Sabe o consumidor que as escolhas alimentares têm impacto na qualidade dos solos?
O aumento dos preços dos produtos alimentares é uma realidade sentida por todos, sempre que vamos às compras. Este aumento tem sido justificado por uma série de fatores, incluindo os custos de produção, a escassez das matérias-primas, as interrupções nas cadeias de abastecimento e os desequilíbrios na oferta e na procura.
O controlo da inflação dos preços dos alimentos exige, por isso, uma abordagem multissetorial, incluindo investimentos na agricultura, aumento da eficiência nas cadeias de abastecimento, desenvolvimento de tecnologias inovadoras e criação de políticas governamentais que possam ajudar a estabilizar os preços e garantir a segurança alimentar para todos.
No que respeita à produtividade e sustentabilidade agrícolas, estas têm sido grandemente ameaçadas pelas alterações climáticas, e ainda agravadas por práticas de produção intensivas, que contemplam o uso excessivo de agroquímicos, garantindo a produção de alimentos suficientes, num cenário de grande crescimento populacional, à escala global.
Contudo, estas práticas estão a ter consequências nos solos e não serão viáveis por muito mais tempo. A perda de fertilidade do solo é uma grande ameaça para a agricultura, prevendo-se que mais de 30% das terras agrícolas e de pastagens estejam em declínio contínuo da sua produtividade, devido à degradação do solo.
É, por isso, urgente apostar na regeneração dos solos, através de práticas de produção mais sustentáveis, apostando na biodiversidade e na minimização da utilização de agroquímicos. É, também, necessário fomentar a agricultura local e diversificar as fontes de alimentos, a fim de tornar a produção mais resiliente e menos suscetível a interrupções e mudanças climáticas.
Existem cerca de 300 mil espécies de plantas comestíveis e o ser humano apenas consome aproximadamente 200! É importante que diversifiquemos mais a nossa alimentação, para estarmos menos dependentes de uma só cultura e de eventuais desafios que possam ocorrer na produção ou abastecimento da mesma.
É fundamental que o consumidor tenha uma consciência do potencial papel que as suas escolhas têm na vitalidade dos solos, contribuindo para que consigamos alimentar a população mundial. Ou seja, é preciso uma ponte coesa entre produtores e consumidores, tendo estes últimos que valorizar alimentos produzidos de forma mais sustentável, estimulando a sua produção. Se houver um aumento da procura, poderá ser viável uma produção a preços mais competitivos, sendo o preço dos alimentos um determinante importante da sua compra.
No âmbito do projeto HSoils4Food - Healthy Soils for Healthy Food [Solos Saudáveis para Alimentos Saudáveis] investigámos as perceções dos portugueses sobre o impacto dos seus padrões de consumo nas práticas agrícolas dos agricultores e, consequentemente, na saúde dos solos. Estudámos, ainda, quais os determinantes das suas escolhas alimentares, com enfoque nos alimentos biológicos.
Verificámos que a crença de que os alimentos biológicos são bons para a saúde associou-se fortemente ao seu consumo. Também a facilidade em os adquirir e o preço foram apontados como determinantes do seu consumo. No entanto, não foi visível qualquer associação entre o consumo de alimentos biológicos e as preocupações com a saúde dos solos.
É importante consciencializar os cidadãos que além do impacto que as suas escolhas alimentares têm na sua saúde, também influenciam a saúde dos solos.