Há 18 sobreviventes entre as centenas de papagaios-do-mar que deram à costa em Portugal
Após um arrojamento de centenas de papagaios-do-mar por todo o país, 170 foram encaminhados em estado grave para o CRAM Ecomare, em Aveiro. Só 18 sobreviveram, mas já mostram sinais de melhoria.
Em meados de Janeiro, centenas de papagaios-do-mar deram à costa em múltiplas praias do país. Trazidas pela tempestade, estas aves, cujo avistamento em terras portuguesas é pouco comum, foram encontradas magras, debilitadas e, na sua maioria, já sem vida por vários voluntários. Cerca de 170 indivíduos desta espécie ameaçada foram encaminhados ainda vivos para o centro de reabilitação de animais marinhos CRAM Ecomare, gerido pela Universidade de Aveiro. Agora, restam apenas 18, que estão ainda em recuperação.
Entretanto, o número de alertas de papagaios-do-mar arrojados diminuiu ao longo do tempo, mas Afonso Castanheira, presidente da associação ambiental Mestres do Oceano e um dos voluntários que resgataram as aves, estima que, no total, foram mais de mil a dar à costa. Contudo, “as coisas ainda não estão resolvidas” e, esporadicamente, ainda é possível encontrar papagaios-do-mar nas praias onde estes arrojaram.
Sobreviventes estão "estáveis"
Tal como a maioria das aves marinhas, os papagaios-do-mar, que usufruem temporariamente do mar português quando migram para sul, não passam muito tempo em terra. Quando o fazem, é porque estão em fase de nidificação – que não ocorre em Portugal – ou porque alguma coisa está errada.
“Para os animais marinhos virem à costa, é porque já estão em desespero. Eles estão, normalmente, em estado muito grave quando é possível capturá-los e o tratamento é sempre desafiante”, explica Francisca Hilário, médica veterinária do CRAM Ecomare, que tem acompanhado os papagaios-do-mar.
À chegada ao centro de recuperação, as aves tinham baixo peso, a penugem “em mau estado” e o trato intestinal perfurado. “Vimos alterações graves das fezes, que estavam inclusive com sangue”, refere a veterinária. Entretanto, as 18 que resistiram ainda tomam medicação, mas estão “estáveis”, a recuperar a energia e com “um comportamento mais natural.
Próximo passo: libertação na natureza
Actualmente, já comem sozinhas, passam grande parte do dia na piscina e tentam limpar as penas, cuja impermeabilização é a parte “mais importante nesta fase de reabilitação”. Ainda não se sabe quando é que as aves estarão totalmente recuperadas, porque “nem todas melhoram ao mesmo tempo” e os animais necessitam de ganhar peso, mas, nessa altura, o próximo passo será a sua libertação na natureza.
Já a causa do grande número de arrojamentos e mortes é “multifactorial”, segundo apurou o CRAM Ecomare. A hipótese de os papagaios-do-mar estarem contaminados com gripe aviária – colocada pelos voluntários que recolheram as aves devido a um surto no norte da Europa – já foi descartada pelo centro de recuperação, que ainda está a testar as aves para outros agentes patogénicos.
Além disso, foram identificadas “alterações na muda da pena”, o que pode justificar a magreza dos animais. “As penas antigas, quando não são trocadas, ficam muito estragadas, o que também vai fazer com que eles não tenham tanta agilidade no voo e na captura de alimento”, esclarece Francisca Hilário. “Este problema, aliado às tempestades registadas na semana dos arrojamentos e a um possível agente patogénico, pode ter feito com que isto acontecesse.”