Alterações climáticas: os números que falam
Degelo, desflorestação, emissões galopantes. Há um clima que muda e isso mede-se em milímetros, toneladas, partes por milhão. Estes são alguns dos números que ajudam a perceber quanto já mudou.
Emissões globais de CO2
Foram emitidas 37.124 MtCO2 (toneladas métricas) em 2021
Os dados são do projecto Atlas Global do Carbono, formado por dezenas de cientistas internacionais. A China, os Estados Unidos e a Índia foram aqueles que mais contribuíram com emissões de dióxido de carbono em 2021.
De acordo com o Atlas Global do Carbono, China, EUA e Índia ocupam desde 2009 o lugar de principais emissores de CO2 a nível global. Ainda que as emissões tenham abrandado por causa da pandemia, os valores voltaram a aumentar nos anos seguintes e as medidas não estão a ser suficientes para evitar as consequências da crise climática.
Segundo os dados de 2022 do IPCC, as emissões precisariam de ser cortadas em 43% até 2030. Sem isso, não se cumpre o Acordo de Paris. “Ainda não estamos nem perto da escala e do ritmo das reduções de emissões necessárias para nos colocar no caminho de um mundo de 1,5 graus Celsius. Para manter esse objectivo vivo, os governos nacionais precisam de fortalecer seus planos de acção climática agora e implementá-los nos próximos oito anos”, avisou Simon Stiell, secretário executivo da agência das Nações Unidas para o Clima (UNFCCC, na sigla em inglês).
Um relatório feito pela agência mostra que os compromissos actuais farão com que as emissões aumentem em 10,6% até 2030, relativamente aos níveis de 2010 – o que é uma melhoria face à avaliação do ano passado, que indicava uma percentagem de 13,7%. Entre 2020 e 2021, os dez maiores poluentes em Portugal reduziram as emissões de dióxido de carbono em 14%. A estimativa da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) para 2021 mostra que Portugal reduziu 4,8% das emissões de gases com efeito de estufa comparativamente ao ano anterior.
Desflorestação e cobertura arbórea
Em 2021, perderam-se 25,3 milhões de hectares de cobertura arbórea
De acordo com o Global Forest Watch, houve uma perda de 437 milhões de hectares de cobertura arbórea a nível global desde 2001 até 2021, o que equivale a uma redução de 11% na cobertura arbórea desde 2000, quer por acção humana, quer por acção da natureza.
De 2002 a 2021, houve ainda um total de 68,4 milhões de hectares de florestas tropicais perdidas a nível global. Nesse período de tempo, a área total de florestas primárias húmidas diminuiu 6,7% a nível global, segundo o Global Forest Watch. Estas zonas são particularmente importantes por serem “áreas de importância crítica para o armazenamento de carbono e biodiversidade”.
Só em 2021, perderam-se 3,75 milhões de hectares nas florestas tropicais primárias – o que resultou na emissão de 2,5 Gt de dióxido de carbono para a atmosfera, “o equivalente à emissão anual de combustíveis fósseis da Índia”, lê-se num comunicado do órgão. O Brasil foi o país em que mais se perderam florestas tropicais.
Também as florestas boreais, sobretudo as da Rússia, tiveram uma perda de cobertura arbórea “sem precedentes” em 2021, sobretudo devido a incêndios.
A Global Forest Watch obtém as suas estimativas de perda de cobertura de árvores a partir de imagens dos satélites Landsat produzidas pela Universidade de Maryland, Google, NASA e Serviços Geológicos dos EUA. “Cobertura de árvores” é uma categoria maior do que “desflorestação” porque inclui perdas tanto de florestas naturais como de florestas dependentes de intervenção humana.
Degelo no Árctico
- 12,6% por década (desde 1979)
O Árctico está a aquecer muito mais depressa do que o resto da Terra. Entre 1979 e 2021 perdeu o equivalente a seis vezes o tamanho da Alemanha, de acordo com o Serviço de Monitorização do Meio Marinho do programa Copernicus.
Nos últimos 30 anos, o gelo marinho do Árctico diminuiu continuamente em extensão, mas também em espessura – e a um ritmo alarmante. Desde 1979, a cobertura de gelo verificada a cada mês de Setembro - altura em que se regista a sua extensão mínima anual – reduziu-se 13% por década, de acordo com a NASA, com mínimos recordes nos últimos anos. As consequências? O degelo no oceano e o do permafrost (solo permanentemente congelado) estão a libertar grandes quantidades de metano, acelerando ainda mais o aquecimento global, enquanto a subida do nível do mar está a ameaçar cada vez mais as comunidades costeiras em todo o mundo.
Temperatura média global
+0,85 graus Celsius
Depois de 2019 e 2020 terem estado entre os três anos mais quentes desde que há registos, o ano de 2021 foi o sexto mais quente, segundo os dados da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês). Segundo a NASA, 19 dos anos mais quentes ocorreram desde 2000.
O ano de 2020 foi o mais quente da história na Europa e a nível mundial praticamente igualou o recorde de 2016. Em 2020, a temperatura média global foi cerca de 1,02 graus Celsius mais quente do que a média de 1951-1980, de acordo com cientistas do Goddard Institute for Space Studies (GISS) da NASA. Em 2021, essa variação foi de 0,85 graus Celsius. Nos últimos anos, foram registadas várias ondas de calor no sul da Europa – tal como aconteceu agora em 2022, incluindo em Portugal. O ano de 2022 teve também a seca mais grave dos últimos 500 anos na Europa.
Para calcular a temperatura média global, os cientistas fazem medições em vários locais do planeta. Como o objectivo é rastrear as mudanças de temperatura, as medições de temperatura absoluta são convertidas em anomalias de temperatura. O termo “anomalia de temperatura” significa um desvio face a um valor de referência ou à média de longo prazo. Uma anomalia positiva indica que a temperatura observada foi mais alta do que o valor de referência, enquanto uma anomalia negativa indica que a temperatura registada foi mais baixa. Nos últimos 30 anos, as anomalias mensais foram sempre superiores à média do século XX.
Concentração de dióxido de carbono
419 partes por milhão na atmosfera (ppm)
Os valores de CO2 na atmosfera têm vindo sempre a aumentar, e cada vez mais rapidamente.
Para percebermos a concentração de CO2 – o principal gás com efeito de estufa – temos como referência a curva de Keeling. Em 1958, o químico norte-americano Charles Keeling procurou medir de forma rigorosa a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera por se suspeitar que a concentração de CO2 estava a aumentar devido à queima de combustíveis fósseis. As medições eram então insuficientes. Foram então colocados aparelhos de medição no topo do vulcão Mauna Loa (Havai) e também na Antárctida. Desde aí, a curva de Keeling tem estado imparável.
E, de acordo com a Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), a velocidade média de aumento é a mais rápida de sempre. Em 2021, a NOAA mostrava que a concentração média de CO2 era de 416,87 partes por milhão (ppm). A quantidade é quase 50% superior ao nível estável da era pré-industrial, quando se situava nas 280 ppm.
Como o dióxido de carbono permanece na atmosfera por muito tempo, as emissões acumulam-se anualmente e fazem com que a quantidade de CO2 atmosférico continue a crescer. É por essa razão que a redução de emissões em 2020 não significará uma redução de concentrações de dióxido de carbono na atmosfera porque resultam de emissões acumuladas deste ano e dos anos anteriores.
Para conter este cenário, as Nações Unidas esperam que os países signatários do Acordo de Paris diminuam as emissões de CO2 de sectores como energia, alimentação, transporte e indústria em 7% a cada ano na próxima década. A meta é manter o aquecimento global bem abaixo dos dois graus Celsius – e tentar que este aumento não seja superior a 1,5 graus até ao final do século – em relação aos níveis pré-industriais.
Nível médio do mar
+3,4 mm por ano
O nível do mar pode subir 40 centímetros até 2100. E este é o melhor dos cenários.
O nível dos oceanos continua a subir, a um ritmo de cerca de três milímetros por ano devido ao aquecimento global e ao derretimento do gelo na Terra, de acordo com o Serviço de Monitorização do Meio Marinho do programa Copernicus. A combinação destes factores pode causar “eventos extremos” em áreas mais vulneráveis, como Veneza, onde em 2019 uma subida do nível das águas fora do comum, uma forte maré e condições meteorológicas extremas na região provocaram a chamada “Acqua Alta” – quando o nível da água subiu para um máximo de 1,89 metros.
Num cenário em que o aumento médio da temperatura global do planeta à superfície ronde os 1,6 graus Celsius (o melhor cenário), o nível médio do mar deverá subir entre 39 e 43 centímetros até 2100. Milhões de pessoas na África subsariana, América latina e no Sudoeste asiático terão de abandonar as suas casas, tal como as populações das regiões costeiras e ilhas que irão desaparecer devido ao aumento do nível das águas do mar.
Este artigo é uma actualização das infografias publicadas no ano passado, por altura da COP26.