As portas vão fechar-se se não atuarmos em três prioridades climáticas
Na última década, sucessivos recordes climáticos têm sido registados em todo o globo. Em 2021, a atmosfera terrestre atingiu um novo máximo histórico de concentração de dióxido de carbono com o marco de 415,5 partes por milhão (ppm) e, muito possivelmente, 2022 será o ano mais quente alguma vez registado pela Organização Internacional de Meteorologia. A ocorrência de eventos extremos de calor atribuídos a atividades humanas é hoje 2,8 vezes superior à registada no século passado. Como consequência, só este ano perderam-se em média 17 dias de jornadas produtivas per capita devido a ondas de calor.
Perante esta emergência, a 27º Convenção das Partes (COP27) é uma oportunidade única para alcançar metas climáticas mais ambiciosas. Apesar disso, as propostas anunciadas pelos 197 países que integram as negociações estão muito aquém do necessário. A revisão das contribuições de cada país traduz-se numa insignificante diminuição de 1% face às propostas apresentadas na COP26.
Se pretendemos levar a sério o Acordo de Paris e atingir as metas de estabilização de aquecimento global em dois graus Celsius e idealmente 1,5 graus Celsius até final do século, é fundamental diminuir as emissões globais em 30% e 45%, respetivamente, durante esta década. Estamos perante um desafio colossal que depende exclusivamente do desfecho das negociações. Existem várias oportunidades para estabilizar o aquecimento global, mas a lentidão das ações climáticas pode levar-nos para um beco sem saída.
Acompanhe a COP27 no Azul
A Cimeira do Clima das Nações Unidas é o ponto mais alto da diplomacia em torno das alterações climáticas, onde os países discutem como travar as emissões de gases com efeito de estufa que causam o aquecimento global. Este ano é no Egipto, de 6 a 18 de Novembro. Acompanhe aqui a Cimeira do Clima.
Na COP27, é essencial avançar em três prioridades climáticas.
1. Definir compromissos mais ambiciosos de redução de emissões
Apesar das promessas durante a COP26, apenas 12% dos países reviram as suas estratégias de redução de emissões. Se não reduzirmos drasticamente as emissões já a partir deste ano, dirigimo-nos a passos largos para um aquecimento global entre 2,4 e 2,6 graus Celsius acima de níveis pré-industriais até ao final século.
2. Acelerar a implementação de estratégias de adaptação climática
Mais de 3,3 mil milhões de pessoas, maioritariamente em países em vias de desenvolvimento do Sul Global, estão expostas a riscos climáticos severos. O custo para garantir a resiliência climática destas populações será entre 164 e 349 mil milhões de euros por ano. Assim, esses países necessitam da materialização de recursos financeiros de adaptação e cooperação multilateral. Contudo, até agora, a maior fatia do financiamento foi canalizada para medidas de mitigação.
3. Aumentar o financiamento climático e indemnizações por danos e perdas
As nações mais vulneráveis e as franjas da sociedade mais desfavorecidas são afetadas de forma desproporcional por danos climáticos irreparáveis. Avaliações recentes indicam que a perda económica por fatores climáticos nas últimas duas décadas ultrapassa 538 mil milhões de euros. Por este motivo, os países mais vulneráveis estão a solicitar indemnizações e exigem a criação de um sistema de financiamento formal para coletar e distribuir fundos. Desde 2020, países desenvolvidos comprometeram-se a mobilizar 100 mil milhões de dólares anualmente para apoiar ações climáticas em países em vias de desenvolvimento. Porém, estes recursos são exíguos, comparativamente com a dimensão do problema.