Do centro de Setúbal, vê-se toda a Península
A Casa do Turismo, na Praça de Bocage, quer ser uma montra da região. No capítulo dos vinhos, disponibiliza referências de mais de quarenta produtores. E há provas quinzenais para conhecê-los de perto.
É numa garrafeira vizinha que a Casa do Turismo surge à conversa. Perante a pouca oferta de vinhos da Península de Setúbal, no meio de um escaparate bem apetrechado de referências criteriosamente escolhidas de outras regiões, o inevitável “Porquê?” tem uma resposta tão franca quanto pragmática da proprietária: “A Casa do Turismo fica já ali na praça, não fazia sentido vender aqui a mesma coisa.”
A praça referida é a Praça de Bocage, coração do centro de Setúbal e sala de visitas de uma cidade que ganhou ímpeto turístico em anos recentes. De caminho, ao que parece, assumiu a vocação de capital de uma região, ao invés de mera sede administrativa de distrito – pelo menos a avaliar pela montra que o município criou na Casa do Turismo.
Por entre a movimentação da praça, poderia passar despercebida, não fosse o enorme gato de resina acrílica que coroa o edifício. A escultura, da autoria de Ricardo Romero, assume-se como um convite a “a parar e a reflectir sobre a correria que é a vida”, segundo se pode ler no website da câmara municipal. Convite aceite.
No edifício que antes foi sede do Clube Militar dos Oficiais está hoje o posto de turismo (que tem a particularidade rara de estar aberto todos os dias) e, na sala posterior, aquilo que aqui nos traz: uma loja que tem a ambição de ser montra da região. Estão lá licores e infusões, conservas e biscoitos, artesanato, mel e o que mais se possa querer para levar este território para casa. Mas nos vinhos a conversa é outra.
A garrafeira não tem só um bom leque de referências. À vista desarmada, parecem estar ali representados todos os produtores da Península de Setúbal. “Temos vinhos de 42 produtores”, esclarece Isabel Pereira, após um rápido telefonema de confirmação.
Isabel não é presença habitual naquele balcão – costuma estar no da Casa da Baía, outro espaço público que importa conferir –, mas nota-se-lhe gosto pelo assunto vínico, e é com entusiasmo que refere as visitas formativas que a equipa vai fazendo às quintas da região.
Contadas ao correr de um dedo espetado, as garrafas que enchem as prateleiras do chão ao tecto totalizam algo como três centenas de referências – número no qual a categoria Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo de Setúbal representam perto de 60 referências. É obra.
Para incrementar a exposição dos vinhos da região, a Casa do Turismo organiza provas gratuitas quinzenais – normalmente, à quarta ou à quinta-feira, ao final da tarde – com a presença dos produtores e um desconto do dia sobre esses vinhos. Eis a piada fácil que estava à espera de ser feita: não, aqui não há gato.
Este artigo foi publicado no n.º 4 da revista Solo.