O geo-armazenamento de CO2 como solução
É o conhecimento científico atual que nos diz que a emergência climática é real, que há cada vez mais eventos climáticos extremos a aconteceram com cada vez mais frequência temporal e que os seus efeitos afetam populações em diversas partes do globo. Se é o método científico que nos permite exigir alterações no nosso comportamento enquanto sociedade, é também na ciência que devemos procurar as respostas necessárias para desacelerar um processo que parece cada vez mais rápido.
Atingir este objetivo passa por discutir de forma clara as opções tecnológicas existentes, desconstruir argumentos sem base científica, comunicar de forma eficiente as alternativas existentes, realçando vantagens e riscos, para que estas possam ser adotadas com o mínimo de reservas. É minha opinião que não haverá uma “bala de prata” capaz de travar eficazmente a crise climática em tempo útil. Será sim necessário um esforço coletivo de ações para atingir a neutralidade carbónica o quanto antes, e obrigatoriamente antes de 2050.
As soluções terão de incluir a diminuição das emissões de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, a utilização de técnicas que removam o CO2 da atmosfera de forma segura e prolongada no tempo, à escala do tempo geológico, e a transformação da atual matriz energética. O fio condutor destas várias dimensões está relacionado com a gestão responsável e sustentável dos recursos minerais e energéticos da Terra.
Porque se discute agora uma proposta legislativa da Comissão Europeia relativa à certificação da remoção de CO2 da atmosfera, é importante que haja entendimento alargado sobre a possibilidade real da captura de CO2 da atmosfera e o seu armazenamento geológico na subsuperfície (geo-armazenamento).
Ao contrário do que os grupos de lobby ambientalistas argumentam, a utilização desta tecnologia não é nova, não é ficção científica, nem a sua utilização está dependente da promoção da produção de hidrocarbonetos. Mas comecemos pelo princípio.
A engenharia química e dos materiais tem o conhecimento e a tecnologia necessária para a captura do CO2 à saída das instalações industriais antes de este ser libertado para a atmosfera. O grande desafio é fazê-lo de forma eficiente, com o menor consumo de energia possível, para que seja economicamente e ambientalmente sustentável. Depois de capturado o CO2 poderá ser novamente utilizado em processos industriais e o excesso armazenado de forma segura para que este não volte a ser libertado para a atmosfera.
O armazenamento geológico compreende a injeção do CO2 em formações geológicas na subsuperfície. Há nesta opção dois cenários diferentes. O primeiro, menos conhecido, corresponde à injeção de CO2 em rochas basálticas, promovendo carbonatação mineral in situ, num curto espaço de tempo aprisionado o CO2 em estado sólido. Uma técnica de armazenamento atualmente utilizada na Islândia.
O segundo cenário corresponde à injeção deste gás em formações geológicas com uma elevada quantidade de espaços vazios entre os minerais que formam as rochas e com permeabilidade suficiente para que este percole no seu espaço vazio. É ainda necessário que estas formações sejam encapsuladas por outras formações geológicas com menor porosidade e maior resistência à movimentação do fluido, uma rocha selo. É um sistema análogo ao que existe hoje em aquíferos confinados na subsuperfície.
Este tipo de armazenamento é uma realidade em várias partes do globo. O exemplo mais paradigmático de sucesso é o campo de Spleiner localizado na seção norueguesa do Mar do Norte que está em operação desde 1996. É o primeiro projeto comercial para este tipo de tecnologia e, espante-se, todos os dados relevantes ao projeto são abertos e públicos para quem os quiser ver e trabalhar. É por isso um dos locais mais estudados com o desenvolvimento de trabalhos de investigação publicados em revistas internacionais de referência e tema de tese de doutoramento um pouco por todo o mundo.
Se os conceitos são simples, há, no entanto, desafios científicos e tecnológicos que necessitam de ser acautelados. Como em todos os processos relacionados com os recursos da Terra há riscos associados a este tipo de operações que têm necessariamente de ser quantificados. É neste ponto que a experiência adquirida nas últimas décadas pelas companhias de energia e centros de investigação que se dedicam a estes tópicos é importante.
São estas entidades que dominam as técnicas de injeção e monitorização deste tipo de sistemas complexos para garantir que o CO2 fica aprisionado sem possibilidade de voltar à atmosfera. Numa última nota, continuamos em Portugal sem um mapeamento exaustivo deste tipo de soluções, mapeamento este que pode ser determinante para o roteiro nacional da neutralidade carbónica. Conhecimento científico não nos falta.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico