Gouveia e Melo e as Selvagens: “Que ninguém tenha a ideia de pensar que isto não é nosso”
Chefe de Estado-Maior da Armada garante que a Marinha tem os meios suficientes para assegurar a soberania da reserva natural, que é a maior área marinha protegida do Atlântico Norte.
Sempre que uma figura do Estado vai às Selvagens, a pergunta é colocada. O país consegue assegurar a soberania deste subarquipélago? O Chefe de Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, não tem dúvidas, e não quer que ninguém fique com dúvidas.
“A Marinha tem os meios necessários para fazer tudo para que ninguém tenha a ideia de pensar que isto não é nosso”, disse aos jornalistas, depois de ter mergulhado na baía da Selvagem Grande, para se inteirar do estado da rampa de acostagem na ilha maior.
Gouveia e Melo falava esta sexta-feira no decorrer de uma viagem à reserva natural das Ilhas Selvagens, que serviu para homenagear o enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para os Oceanos, Peter Thompson.
“Uma enorme honra”, disse Thompson, ao descerrar uma placa alusiva, mostrando-se muito “entusiasmado” por conhecer a história daquele lugar. Antes de ser uma reserva, as Selvagens era um local de pesca e uma zona intensiva de caça de cagarras, uma ave marinha que esteve à beira da extinção. A reserva começou a desenhar-se nos anos 60, quando uma família britânica radicada na Madeira adquiriu os direitos de caça, para poder proibir essa actividade.
“Estivemos muitos anos em guerra com a natureza, e agora é tempo de fazer a paz”, continuou Peter Thompson, considerando o compromisso da Madeira e do Estado português com as Selvagens, como um “exemplo” para o mundo. “Só existe um oceano, e estamos todos interligados”, vincou, com Gouveia e Melo a reforçar o “exemplo para o mundo” do que está a ser feito nesta reserva natural.
“O facto de ser um território nacional, e ter uma área tão grande mostra a preocupação do Estado português com a preservação da natureza”, destacou o almirante.
Este ano, o executivo madeirense do PSD/CDS-PP fez aprovar um novo regime jurídico da Reserva Natural das Ilhas Selvagens, que ampliou 27 vezes a área protegida. A reserva cresceu de 97 quilómetros quadrados para 2677 quilómetros quadrados de mar protegido, passando a ser a maior Área Protegida do Atlântico Norte. Dentro das 12 milhas náuticas à volta das ilhas, todas as áreas extractivas, seja a pesca, seja a exploração de recursos minerais, é completamente proibida.
Miguel Albuquerque, presidente do governo madeirense, quis saber junto dos responsáveis da Marinha, se existiam os meios necessários para assegurar uma vigilância eficaz da área protegida. A resposta foi ‘nim’. Existem os meios – vigilância electrónica por satélite – para fiscalizar as actividades extractivas, mas ainda falta investir em equipamentos que monitorizem outros aspectos da reserva, como a qualidade da água.
Nas ilhas, que ficam a cerca de 300 quilómetros a Sul da Madeira, estão em permanência dois vigilantes do Instituto das Florestas e da Conservação da Natureza, dois elementos da Polícia Marítima e um da Autoridade Aduaneira. A reserva conta com um posto dos CTT, serviços de registo e de cartório. Meio a brincar, a ministra da Defesa, Helena Carreiras, que chegou às Selvagens a bordo da fragata NRP Bartolomeu Dias e partiu no helicóptero da Força Aérea, disse que só faltava um casamento nas ilhas. “Porque não? Os serviços já existem”, gracejou, para prosseguir num registo mais sério. “Para proteger, é preciso conhecer. E a minha presença aqui, teve esse objectivo: conhecer”, explicou aos jornalistas, reforçando o compromisso do Estado com as Selvagens.
A reserva natural das Selvagens foi criada em 1971, ano em que as ilhas foram adquiridas pelo Estado a uma família de banqueiros madeirenses por 150 mil francos suíços. Foi a primeira reserva natural do país, e está a comemorar 50 anos.
A visita desta sexta-feira e a conferência da véspera, estão enquadradas nestas comemorações, que vão prosseguir no próximo ano com uma expedição científica.